Rumo aos 150 mil? Após um início negativo e de uma recuperação consistente, o Ibovespa renovou máximas por algumas vezes neste mês de setembro, fazendo com que o índice ultrapassasse os 144 mil pontos pela primeira vez na história no intraday do último dia 11 e fechasse acima dos 143 mil pela primeira vez. Analistas de mercado apontam que setembro começou com um cenário de otimismo cauteloso para a Bolsa brasileira e os mercados emergentes, apesar dos riscos globais e domésticos que ainda pairam no horizonte. Gestores e analistas destacam que, embora haja espaço para acomodação após a forte alta recente, o potencial de valorização ainda é significativo, especialmente com a expectativa de cortes nas taxas de juros tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Os mais recentes dados dos EUA, principalmente o enfraquecimento do mercado de trabalho, reforçam a tese de um corte de juros pelo Federal Reserve no próximo dia 17. Daniel Utsch, gestor de renda variável da Nero Capital, destaca alguns pontos para uma vista mais otimista com o mercado de ações (bolsa) para setembro, apesar de riscos globais e domésticos. São eles: 1 – Cenário Global: Dólar mais fraco e impacto limitado da guerra comercial no Brasil.2 – Cenário Doméstico: Espera-se o fim do ciclo de aperto monetário, com possível corte da Selic no final do ano/início do próximo. Empresas apresentando resultados positivos.3 – Visão sobre a Bolsa: A bolsa está subvalorizada e o fluxo de investidores estrangeiros deve voltar a ser positivo.Com relação ao noticiário doméstico, Utsch reforça a visão de início de um ciclo de flexibilização monetária, com a possibilidade de um primeiro corte na taxa Selic no final deste ano ou no início do próximo. “Acreditamos que essa flexibilização poderá ocorrer em um cenário de arrefecimento da inflação, sem comprometer o desempenho da atividade econômica”, avalia o especialista. Apesar dos riscos presentes no cenário doméstico, como disputas políticas, sanções e o cenário eleitoral, a Bolsa demonstra-se subvalorizada no longo prazo. “O recente recorde possui pouca relevância em nossa análise, pois se refere a um pico anterior, apenas corrigido pela inflação. Considerando o CDI acrescido de um prêmio de risco, a bolsa deveria estar em um patamar superior. Estamos, portanto, distantes de um topo histórico que reflita um otimismo generalizado dos investidores”, avalia.Fernando Tendolini, head dos fundos de renda variável da Fator Administração de Recursos, também destacou como catalisador o início do ciclo de corte de juros pelo Fed. “O efeito poderá ser novas altas nos mercados de ativos, inclusive para a Bolsa, que vem renovando as máximas históricas. O contexto de dólar mais barato e custo de oportunidade internacional em queda também contribui para que os BCs possam ter mensagens mais suaves. Neste sentido, a depender do esfriamento da economia brasileira nesses meses adiante, o nosso BC poderá finalmente sinalizar o início dos cortes”, avalia o especialista. Ele também observa que a atividade parlamentar tem uma agenda importante quanto ao horizonte da política fiscal e à persecução das metas: o encaminhamento para a compensação da isenção do Imposto de Renda (IR) até R$ 5.000 trará mais conforto para os cenários adiante.“Apesar de o cenário político estar em plena ebulição, sinalizações de que chapas menos extremas sejam propostas, tanto do lado do incumbente quanto da oposição, podem ser gatilhos para novas altas do mercado. Isso sem considerar que a influência dos setores privados, nacional ou norte-americano, em relação às negociações para tarifas mais baixas ao Brasil, pode trazer avanços futuros e liberar fortes pesos de alguns setores”, avalia Tendolini.Rumo aos 150 mil?No início do mês, Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital, havia destacado que havia espaço para que o Ibovespa mirasse os 150 mil pontos ainda em 2025, “não por mérito do Brasil”, mas devido ao diferencial de juros, de olho na diferença de taxas entre o Brasil e os EUA. A XP, por sinal, tem a projeção de que o Ibovespa bata os 150 mil pontos ao fim do ano. “Nós estamos construtivos com as ações brasileiras devido a i) o novo regime macro com o fim do ciclo de contração monetária e uma inflação desacelerando; e ii) a proximidade das eleições de 2026, que tende a trazer maior volatilidade e interesse em ações”, avalia a equipe de estratégia da casa. O Bradesco BBI ainda vê um potencial de entrada de capital que pode impulsionar os ganhos da Bolsa brasileira. Pedro Grimaldi e Ben Laidler, estrategistas do BBI, ressaltaram que a indústria de gestão de ativos brasileira pode ser um catalisador, uma vez que acredita que a “tempestade perfeita” no segmento vai diminuir e impulsionar fortemente as ações.Leia também: JPMorgan: desta vez é diferente – ações do Brasil devem se beneficiar de corte do Fed“Os aportes locais e a capitalização podem se recuperar em R$ 1,1 trilhão, aumentando os ativos sob gestão dos fundos dedicados locais em 40%. Se a capitalização das empresas domésticas tivesse acompanhado o PIB nominal, o valor total de mercado poderia ser cerca de R$ 2,0 trilhões maior”, avalia o BBI.Otimismo – cauteloso…O cenário tem se mantido sustentável para a alta das ações, mas o custo de oportunidade do CDI e as incertezas no cenário, interno ou externo, ainda não permitem alocações em cases mais arriscados, pondera Tendolini. A preferência é por setores que mostram força no crescimento e em empresas que tenham baixa alavancagem financeira e que, portanto, sofram menos com o peso das despesas financeiras. “A geração de caixa e o potencial de bons dividendos, mesmo no contexto atual, são muito importantes na composição de nossas carteiras. A maior exposição relativa dos fundos está em construção civil, cujo desempenho está sendo muito forte nos últimos anos, apoiado pelo programa Minha Casa Minha Vida. Setores ligados a tendências seculares domésticas, como saúde, educação e consumo discricionário, também têm sido destaque no portfólio”, aponta.O BBI, por sua vez, avalia que os potenciais vencedores da entrada de capital da indústria de gestão de ativos são os setores de Vestuário & E-commerce, Varejo de Alimentos e Educação, que estão próximos das mínimas e expostos ao ciclo de juros.O mercado também segue atento aos riscos, que podem levar a um banho de água fria para o Ibovespa. No Brasil, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por crimes relacionados a uma tentativa de golpe de Estado após a derrota do ex-presidente na eleição de 2022. Ele já está em prisão domiciliar.De acordo com o head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, Anderson Silva, o julgamento do ex-presidente e o temor de novas sanções permanecem no radar, adicionando cautela ao mercado. Mas, acrescentou, a perspectiva de cortes pelo Fed acabou se sobrepondo às incertezas domésticas nas últimas sessões. Ainda no noticiário local, o Ministério da Fazenda cortou as previsões para o crescimento do país e a inflação neste ano, enquanto pesquisa Datafolha mostrou que aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu a 33% de “ótimo/bom” e se aproximou da desaprovação, com 38% de “ruim/péssimo”.No exterior, os dados de inflação ao consumidor CPI nos EUA ficaram um pouco acima do esperado, mas os investidores entenderam que a piora no emprego aumenta a probabilidade de cortes de juros pelo Fed ainda este ano. Mas isso também pode causar um dilema para o Federal Reserve. “O CPI indica uma pressão inflacionária maior do que a desejada, mas não o suficiente para inviabilizar cortes, já que o núcleo da inflação permanece controlado”, diz. Já os recentes dados do mercado de trabalho reforçam a percepção de que a atividade econômica está em desaceleração nos EUA. “Nesse contexto, o Fed se vê diante do dilema de cortar os juros para estimular a atividade e correr o risco de reacender pressões inflacionárias, ou manter a política restritiva e sufocar ainda mais a indústria e o emprego”, observa Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.(com Reuters e Estadão Conteúdo)The post Rumo aos 150 mil? O que esperar para o Ibovespa após renovar sucessivas máximas appeared first on InfoMoney.