Redução do uso de plásticos abre espaço para ações inovadoras

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A depender da fonte ou da perspectiva de quem conta a história, o uso do plástico como embalagem no comércio e na indústria data de algo entre meados dos anos 1880 e o início do século XX. Portanto, bem mais que um século diretamente agregado ao cotidiano de praticamente toda pessoa que vive no planeta Terra.Pesquisas de órgãos ambientais apontam que a produção de plástico disparou de 2 milhões de toneladas em 1950, para mais de 400 milhões de toneladas anuais atualmente no mundo.Por isso, de uns anos para cá abriu-se uma discussão sobre o papel do plástico na contaminação do meio ambiente, dado o volume de produção de resíduos. Quem não lembra, por exemplo, da polêmica envolvendo o canudo de plástico e as tartarugas?Para Paulo Teixeira, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), a discussão sobre a redução do uso de plásticos precisa ser melhor qualificada.“Falta um olhar sistêmico e há muito desconhecimento técnico nessas discussões. O plástico tem sua função na sociedade. Essa questão dos canudos, por exemplo, que foram proibidos no Rio de Janeiro um tempo atrás. Substituíram por um material de papel, envolto em plástico, que no fim não tem função nenhuma no pós, não pode ser reciclado. Então, não podemos proibir sem dar uma alternativa viável. E até que ponto também estamos dispostos a rever nossos hábitos de consumo, que hoje são muito dependentes do plástico?”Paulo Teixeira, presidente-executivo da AbiplastTratado Global sobre PlásticosEm 2022, sob a supervisão da Organização das Nações Unidas, foi aberta a negociação do Tratado Global sobre Plásticos. O acordo multilateral, que tinha como prazo de negociação este ano, abriu uma discussão sobre toda a cadeia de produção e consumo do plástico, daindústria ao descarte.Ainda em 2023, antes de uma das rodadas de negociação do tratado, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apresentou o relatório “Fechando a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular”, que defendia que a poluição plástica poderia ser reduzida em 80% até 2040 a partir de mudanças drásticas feitas por países e empresas.Na visão do executivo da Abiplast, no entanto, falta um olhar equânime quando se discute o consumo global de plásticos.“Há de se fazer uma transição justa, com olhar diferenciado entre o Norte e o Sul globais. Temos uma gama de novos materiais biodegradáveis, o Brasil já tem materiais feitos a partir da cana-de-açúcar por exemplo, mas isso tem um custo acima do que se usa hoje”, pondera.“Se quer mecanizar todo o processo de reciclagem, mas para onde vai o catador? Conversamos muito com a delegação brasileira sobre essa necessidade de uma visão ampla”, pontua.Economia circularUma saída e um desafio, ainda segundo Paulo Teixeira, são os investimentos em vista de uma economia circular. Isso se daria a partir da aplicação no redesenho das embalagens, privilegiando o design circular, que facilitaria tanto o reuso como a reciclagem dos materiais.Para isso, a Abiplast tem apostado em aplicações como o Recicurlar, criada em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, que dá a opção do rastreio dos materiais reciclados do recolhimento até a nova destinação já transformado, e uma plataforma, adaptada de uma experiência no Reino Unido, que aponta o grau de reciclabilidade da embalagem já a partir da produção.“Ela otimiza a produção, porque é possível ver se um material que vai, por exemplo, para o Norte tem chances de ser reciclado por lá ou é melhor que a composição seja modificada. E isso ainda dá informações necessárias para a orientação de políticas públicas”, explica o dirigente.Por outro lado, outros atores veem a situação de forma mais drástica. Coordenadora da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, Mariana Andrade defende uma aposta além da reciclagem e de outras medidas regulatórias. “É preciso enfrentar o problema na fonte, reduzindo em pelo menos 75% a produção de plásticos até 2040, combatendo a poluição causada pelas petroquímicas e pelos combustíveis fósseis”, frisa.O Greenpeace afirma que é preciso diminuir a produção de plástico em escala global, com regras obrigatórias e não só por meio de acordos voluntários. Segundo Andrade, o Brasil poderia avançar mais na discussão sobre a produção de plásticos, principalmente nas conversas do Tratado Global.“A posição brasileira é pouco ambiciosa, pois evita propostas necessárias, como o banimento de certos tipos de plásticos, e defende uma abordagem ‘balanceada’, condicionando ações a financiamentos”, ressalta.Ela defende que o consumo de plásticos tem relação direta com a crise climática. “Enfrentar a crise do clima precisa incluir a crise do plástico, e vice-versa. Essa é uma discussão essencial e que precisa avançar também no contexto da COP30, por exemplo.”