Carros, motos, caminhões, tratores, bicicletas – o transporte de pessoas e cargas depende de pneus. Quando eles ficam carecas e já não podem mais ser usados, são trocados por novos e pouca gente sabe o que acontece com o pneu velho. Isso porque a responsabilidade pelo descarte correto fica com centros automotivos e ou empresas que geram grande quantidade destes produtos e os consumidores acabam sem saber o que acontece.No Brasil, existe um sistema gratuito que organiza a logística reversa de pneus. Estabelecimentos públicos ou privados que acumulam pneus velhos podem utilizar fazer parte do programa “Brasil Rodando Limpo” para garantir a destinação adequada sem pagar nada por isso, se cadastrando no sistema pelo site da Associação Brasileira das Empresas de Reciclagem de Pneus Inservíveis (Abrerpi).Já estão cadastrados na plataforma 19 empresas recicladoras associadas à entidade, os coletores de pneus e os estabelecimentos onde normalmente acumula o resíduo, como centros automotivos, borracharias, transportadoras e locais públicos de descarte.Foto: ABRERPI Leia também: 1.Manual ensina a fazer fossa séptica sustentável com pneus reaproveitados 2.5 formas de reutilizar os pneus após sua vida útil De acordo com Reinado Dorti, desenvolvedor do sistema, é uma solução muito simples, mas que resolve o problema do descarte irregular nas cidades em que os diversos atores responsáveis pela logística reversa percebem a vantagem e utilizam a ferramenta.Com a otimização do transporte dos pneus velhos e a consequente redução de custos proporcionada por essa tecnologia, mais de 180 mil toneladas de pneus inservíveis são recicladas anualmente pelas empresas associadas à Abrerpi.O programa Brasil Rodando Limpo é um modelo coletivo de atuação dos associados, com a participação aberta à administração pública e à iniciativa privada. Confere confiança, rastreabilidade e credibilidade na transferência da posse de um passivo ambiental importante, que é o pneu velho, até que ele chegue na recicladora e seja transformado em um ativo econômico, passando a integrar o ciclo produtivo de uma infinidade de novos produtos”, explica Dorti.Foto: ABRERPI Leia também: 1.Australianos usam borracha de pneus velhos para produzir concreto 2.Startup vai lançar bike com pneus da NASA que não furam Como funciona? De acordo com a Abrerpi, a logística reversa do pneu acontece de diferentes formas conforme o perfil econômico de cada região do país, os volumes gerados e as características culturais.Normalmente o centro automotivo cadastrado avisa no sistema quando há pneus velhos acumulados. O coletor da região visualiza em quais pontos deve passar, programa seu trajeto e faz o transporte até uma cooperativa de catadores. Quando acumula pneus suficientes para preencher uma carga de caminhão, a cooperativa faz a solicitação no sistema e a recicladora mais próxima providencia o transporte e reciclagem do material.Em outros casos o processo é mais simplificado, por exemplo, quando uma grande transportadora ou varejista já tem o número de pneus inservíveis para preencher uma carreta. Neste caso, só faz o aviso no sistema e a recicladora providencia a coleta e transporte do resíduo direto para processamento.Presidente da ABRERPI, Joel Custódio, mostra pneu triturado. Foto: ABRERPIComo consumidores podemos perguntar para os centros automotivos, oficinas ou lojas em que compramos pneus novos e realizamos a troca, se eles fazem a destinação correta dos produtos antigos. Caso isso ainda não aconteça, podemos indicar o sistema “Brasil Rodando Limpo”, ressaltando que não existe nenhum custo para o envio dos pneus antigos. Leia também: 1.Para onde vai a sua geladeira após o descarte? 2.Vila Velha lança aplicativo para facilitar descarte de recicláveis Combustível de pneu?Uma outra maneira de dar um destino mais sustentável aos pneus que já encerraram sua vida útil é a trituração dos produtos descartados e envio deste novo material como matéria-prima como combustível alternativo para a indústria cimenteira, promovendo a economia circular e a sustentabilidade.Para incluir estes resíduos no processo de coprocessamento, a Verdera, unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos da Votorantim Cimentos, e a CBL Comércio e Reciclagem de Borrachas inauguram nesta quarta-feira (03/09) uma planta dedicada à trituração de pneus inservíveis em Cuiabá (MT). Com capacidade para processar até 1,5 mil toneladas de pneus por mês.Cerca de 1,2 bilhão de pneus inservíveis serão descartados anualmente em todo o mundo até 2030. Foto: ReciclanipA solução implementada na capital do Mato Grosso minimizar os problemas gerados pelo descarte inadequado de pneus, que levam 600 anos para se decompor e podem servir de criadouro para vetores de doenças como dengue, zika e chikungunya.Os pneus inservíveis de carros, motos, caminhões e ônibus são recolhidos em ecopontos em Cuiabá e levados para a unidade, onde são triturados e transformados em chips de borracha. Em seguida, esses chips são destinados na fábrica da Votorantim Cimentos em Cuiabá, substituindo o coque de petróleo e reduzindo as emissões de CO2. O processo assegura rastreabilidade total e eficiência logística.Vista aérea da planta de trituração de pneus inservíveis em Cuiabá (MT). Foto: GlobalvantA escolha de Cuiabá para a planta de trituração de pneus foi estratégica porque une a proximidade da destinação final a uma alta geração de pneus inservíveis. Segundo dados dos Secretaria Nacional de Trânsito de 2024, o estado do Mato Grosso possui uma frota de cerca de 2,8 milhões de veículos. “A tecnologia de coprocessamento se consolida como uma aliada estratégica da indústria e das revendas de pneus ao viabilizar soluções em escala para a destinação ambientalmente correta dos inservíveis. É uma parceria que transforma custo ambiental em solução sustentável”, afirma Eduardo Porciuncula, gerente-geral da Verdera.A planta de trituração de pneus inservíveis da Verdera e da CBL possui 1,2 mil metros quadrados e será a primeira no Brasil a se dedicar exclusivamente à produção do chip de 45 mm, menor que o chip convencional de 70 mm. A menor dimensão reduz o aço e aumenta o poder calorífico na produção industrial, permitindo maior substituição do coque de petróleo e redução das emissões de carbono.Processo de transformação de pneus inservíveis, solução que reforça a economia circular e a logística reversa no Mato Grosso. Foto: Globalvant“Ao dedicar uma linha exclusiva para o chip 45, mostramos que a borracha descartada pode regressar à indústria não como passivo, mas como insumo premium, rastreável e alinhado às metas climáticas. A unidade amplia nossa capacidade de coleta de pneus, reduz a distância até a destinação e oferece um combustível pronto para uso, fortalecendo toda a cadeia de logística reversa”, diz Renata Murad, diretora de gestão e negócios da CBL.A nova planta de trituração de pneus inservíveis integra o plano de investimentos de R$ 330 milhões anunciado recentemente pela Votorantim Cimentos para o estado do Mato Grosso. Durante as obras, foram gerados mais de 60 empregos diretos e indiretos. A operação contará com 12 postos de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento local. Leia também: 1.Açaí e cimento, uma conexão contra a emergência climática 2.Estudantes criam dispositivo que recolhe microplásticos de pneus The post Pneus velhos: qual o caminho desse resíduo? appeared first on CicloVivo.