Bloomberg — Um rali de US$ 14 trilhões que levou as ações a recordes históricos se aproxima de um ponto de inflexão na próxima semana, com os investidores à espera de que o Federal Reserve (Fed) retome os cortes nas taxas de juros em sua tão aguardada reunião de política monetária.O índice S&P 500 acumula alta de 32% desde suas mínimas de abril, puxado por apostas de que o Fed reduzirá os custos de empréstimo várias vezes este ano, e uma redução de 25 pontos-base na quarta-feira (17) é vista como certa.Os investidores otimistas (bullish) podem ter a história a seu favor: o índice subiu, em média, 15% um ano após a retomada dos cortes, depois de uma pausa de seis meses ou mais, mostram dados da Ned Davis Research que remontam à década de 1970. Isso se compara a um ganho de 12% no mesmo período após o primeiro corte de um ciclo comum. A preocupação é se o Fed agiu rápido o suficiente para evitar um “pouso forçado” (hard-landing) da economia, o que minaria o argumento para uma nova alta das ações. Leia mais: Rumo aos 150 mil? O que esperar para o Ibovespa após renovar sucessivas máximasEmbora o crescimento permaneça relativamente forte e os lucros corporativos estejam saudáveis, sinais preocupantes surgiram em dados recentes, incluindo um relatório que mostrou o desemprego no seu nível mais alto desde 2021. Os investidores tem empregado uma variedade de estratégias para aproveitar a mudança esperada, desde a compra de ações de empresas menores até a manutenção das gigantes de tecnologia que lideraram a alta dos mercados.“Estamos em um momento único”, disse o CEO da GoalVest Advisory, Sevasti Balafas. “A grande incógnita para os investidores é o quanto a economia tem desacelerado e o quanto o Fed precisará cortar as taxas. É uma situação delicada.”Com o comunicado do Fed após a reunião previsto para ser divulgado às 14h de quarta-feira, os investidores buscarão mudanças nas mais recentes projeções trimestrais de taxas, conhecidas como “gráfico de pontos” (dot plot), e analisarão atentamente os comentários do presidente Jerome Powell meia hora depois. Os contratos de swap precificam integralmente pelo menos uma redução de um quarto de ponto percentual, com a expectativa de que os formuladores de políticas reiniciem um ciclo de flexibilização que foi interrompido em dezembro. Cerca de 150 pontos-base de cortes estão precificados para o próximo ano. Uma perspectiva do Fed que ecoe essa visão seria um sinal encorajador para os otimistas do mercado de ações, que em grande parte apostaram em um caminho de flexibilização gradual que impeça a economia de deslizar para uma recessão.De forma mais ampla, “a maneira como a inflação e as tendências econômicas se desenvolverão no resto de 2025 e no próximo ano será crucial para determinar como o ciclo de flexibilização do Fed progredirá e como o mercado de ações se sairá”, disse Andrew Almeida, diretor de investimentos da plataforma de planejamento financeiro XY Planning Network.Setores de ações A força da economia e o ritmo com que o Fed reduz os custos de empréstimo podem ditar a preferência de setor dos investidores de ações, se a história servir de guia. Nos quatro ciclos em que o Fed realizou apenas um ou dois cortes após uma pausa, a economia estava geralmente forte e os setores cíclicos, como financeiro e industrial, superaram o desempenho, de acordo com dados compilados por Rob Anderson, estrategista de setores dos Estados Unidos na Ned Davis Research. No entanto, em ciclos onde quatro ou mais cortes foram necessários, a economia tendeu a ser mais fraca e os investidores se inclinaram para uma postura mais defensiva, com os setores de saúde e bens de consumo essenciais entregando os maiores retornos medianos. “Este mercado depende de três fatores: quão rápido e quanto o Fed cortará as taxas, se o movimento de IA continuará a impulsionar o crescimento e se as tarifas arriscam provocar uma inflação mais alta”, disse o diretor de investimentos da Robertson Stephens, uma empresa de gestão de patrimônio, Stuart Katz.Para Katz, uma queda inesperada nos preços ao produtor, vista nos dados de agosto, ajudou a aliviar as preocupações de que a inflação persistente impediria o Fed de cortar as taxas de forma muito agressiva nos próximos meses. Ele tem comprado small caps, que tendem a ser altamente endividadas e se beneficiam de taxas mais baixas. O índice Russell 2000, focado em small caps, acumula alta de cerca de 7,5% este ano, em comparação com o ganho de quase 12% do S&P 500. Investidores com esperanças semelhantes têm observado os comentários de Powell, que no mês passado disse que os efeitos da guerra comercial do presidente Donald Trump sobre a inflação serão “relativamente de curta duração” e espera uma “mudança pontual no nível de preços”. Outros têm explorado áreas menos visadas do mercado. Almeida, da XY Planning Network, aposta em ações de média capitalização (mid caps): embora a categoria tenha sido frequentemente negligenciada, ela normalmente superou tanto as grandes quanto as pequenas capitalizações um ano após o início dos cortes de juros, disse ele. Almeida também favorece ações de empresas nos setores financeiro e industrial que poderiam se beneficiar de custos de empréstimo mais baixos. Balafas, da GoalVest Advisory, tem ações da Nvidia, Amazon e Alphabet , uma aposta de que uma desaceleração econômica gradual provavelmente não prejudicará o crescimento do lucro corporativo. Dito isso, sinais de que a economia tenha esfriado mais rápido do que o previsto podem fazer com que os investidores de ações abandonem essas apostas em favor de jogadas mais defensivas. Os setores de saúde e bens de consumo essenciais do S&P 500, por exemplo, retornaram em média cerca de 20% durante ciclos em que o Fed precisou cortar as taxas agressivamente, mostraram dados da Ned Davis Research. “Se o crescimento desacelerar, o Fed cortará as taxas, mas se a economia estagnar demais, os riscos de recessão aumentarão”, disse Katz, da Robertson Stephens. “Então, quão confortáveis estão os investidores com a desaceleração da economia? O tempo dirá.”© 2025 Bloomberg L.P.The post Rali de US$ 14 trilhões que levou mercado a recordes enfrenta teste decisivo appeared first on InfoMoney.