SÃO PAULO (Reuters) – As ações do Banco do Brasil (BBAS3) engatavam mais uma sessão de alta nesta quinta-feira, ampliando recuperação desde que foram negociadas abaixo de R$ 20 em agosto, endossadas por medidas que veem trazendo alívio para o banco estatal, que tem mostrado resultados pressionados pelo aumento da inadimplência no agronegócio.No último dia 5, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou Medida Provisória que libera R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas de produtores rurais impactados por problemas climáticos, enquanto uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) publicada alguns dias antes flexibilizou os critérios de cura de créditos em atraso.“Ambas as medidas afetam diretamente o tratamento contábil e o potencial caminho de recuperação da rentabilidade do agronegócio do Banco do Brasil”, afirmaram analistas do Safra liderados por Daniel Vaz em relatório a clientes na véspera.Os analistas do Safra explicaram que a MP estabelece um marco para a renegociação voluntária das dívidas dos produtores rurais em condições mais favoráveis, enquanto a resolução do CMN permite que bancos reclassifiquem operações de longo prazo para estágio 2 após 90 dias de capacidade de pagamento demonstrada, o que antes mantinha grande parte da carteira travada em estágio 3.Leia tambémIbovespa volta a subir e fica perto de recorde; Banco do Brasil é destaquePrincipais índices nos EUA terminam mistos à espera do CPI amanhãA resolução CMN nº5.244/2025, de acordo com a equipe do Safra, corrige uma falha da resolução nº4.966, que penalizava empréstimos com parcelas semestrais ou anuais.“Anteriormente, para sair do Estágio 3 era necessário cumprir um ciclo completo de pagamento com amortização significativa, o que, na prática, congelava grande parte da carteira rural no Estágio 3, sem contabilização de juros. Agora, basta demonstrar capacidade de pagamento por 90 dias para que o empréstimo possa ser reclassificado para o Estágio 2.”Da divulgação do balanço do primeiro trimestre, a presidente-executiva do BB, Tarciana Medeiros, afirmou que estava discutindo com o Banco Central formas que permitissem uma transição suave da instituição na implementação da resolução 4.966, após as mudanças contábeis instituídas com ela no começo do ano terem contribuído para o forte aumento na inadimplência.A MP e a resolução do CMN, estima a equipe do Safra, devem gerar alívio contábil de curto prazo para o BB, retomada de receitas de juros e menor pressão de capital, podendo acrescentar cerca de R$1,5 bilhão ao lucro líquido em 2026 e reduzir provisões já a partir do quarto trimestre de 2025.Na apresentação do resultado do segundo trimestre, o BB mostrou que 34,6% das operações em Estágio 3 (R$32,2 bilhões) não estavam inadimplentes. “Parte desse montante consistia em empréstimos ‘bullet’ com prazos mais longos, que podem acabar sendo contemplados pela nova regra”, destacaram analistas do BTG Pactual liderados por Eduardo Rosman.Por volta de 10h35, BB ON subia 0,68%, a R$22,20, somando em setembro uma alta de 3,79%, após valorização de 8,58% em agosto, quando marcou a mínima de fechamento do ano, de R$18,35, no dia 1. A máxima do ano, de R$29,22, ocorreu em 14 de maio, pouco antes do banco divulgar o balanço do primeiro trimestre, com resultado aquém das previsões do mercado e suspensão de parte do guidance.Leia mais: Linha de R$ 12 bi para crédito rural: positiva, mas não muda o jogo para BBAS3“Esses últimos anúncios podem ser bastante favoráveis para o BB”, endossaram os analistas do BTG, em relatório a clientes, citando ainda uma instrução normativa do BC, de 17 de julho, que permite que o crédito não seja classificado como reestruturado quando as renegociações envolvem contrapartes amparadas por decisões do CMN ou outras medidas legais.“Essa medida reforça o entendimento já existente do BC de que empréstimos rurais renovados não precisam ser necessariamente classificados como Estágio 3 na origem… A mudança na regra torna-se particularmente relevante, pois certos empréstimos classificados como Estágio 3 podem ser renegociados e, posteriormente, reclassificados como Estágio 1 ou 2.”De acordo com a equipe do BTG, embora isso não afete as provisões, “permite que os juros sejam reconhecidos pelo regime de competência contábil, em vez de pelo regime de caixa, possibilitando o reconhecimento antecipado da margem financeira (NII) nos resultados”.Os analistas do Safra ponderaram, contudo, que os fundamentos continuam frágeis, já que o agronegócio segue alavancado. A equipe citou que o problema estrutural de inadimplência ainda não foi resolvido e há riscos crescentes em crédito à pessoa física e para as pequenas e médias empresas.“Não acreditamos que haja uma assimetria positiva nos fundamentos, embora vejamos investidores argumentando a favor do ‘valuation’ barato das ações do BB, especialmente diante de uma possível mudança no ciclo monetário do país e dos cenários políticos de 2026”, afirmaram no relatório, reiterando recomendação neutra para os papéis.The post BBAS3 já sobe 20% desde mínima do ano endossada por medidas do governo; alta seguirá? appeared first on InfoMoney.