Duas estruturas flutuantes capazes de ajudar a despoluir rios acabam de chegar a Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Batizada de “Caravela Ecológica”, por seu design inspirado nos barcos à vela, cada uma foi instalada em um ponto estratégico da cidade.O uso de algas nativas para absorver poluição, captar CO₂ e oxigenar águas poluídas, como é comum em rios urbanos, é uma solução de baixo impacto e com potencial ecológico significativo. De olho nessa possibilidade, em 2019 a startup brasileira Infinito Mare projetou a estrutura flutuante que incorpora a técnica e tem levado sua “caravela” para várias partes do Brasil. Leia também: 1.O que é jardim filtrante? 2.Jardins filtrantes de 7 mil m² vão despoluir riacho no Recife As estruturas flutuantes são consideradas uma Solução Baseada na Natureza (SbN) para monitorar e despoluir rios, baías, lagos, represas e outros corpos hídricos de água doce e salgada, uma vez que “mimetizam processos naturais e usam a natureza como um ator na eficiência da solução, beneficiando a sociedade, a economia e o próprio meio ambiente”, explica a startup.Como funciona a Caravela EcológicaA tecnologia cria um ambiente onde organismos nativos crescem em simbiose (algas + fungos + protozoários + bactérias) sobre superfícies submersas, formando uma turfa algal. Esse cultivo controlado funciona como um biofiltro de poluição que promove biodiversidade ao oxigenar a água e ao atrair espécies herbívoras e carnívoras. Assim, a tecnologia despolui de maneira natural, sem o uso de produtos químicos ou introdução de espécies exóticas no ambiente – e pode ser indicada para corpos d’água que recebem esgoto e nutrientes em excesso, já que as algas capturam e sequestram fósforo e nitrogênio, prevenindo a eutrofização e a proliferação de espécies tóxicas.Foto: Infinito MareA biorremediação com as Caravelas requer pouca intervenção humana: ela inclui visitas de manutenção em intervalos de 7 a 14 dias, quando é feita a raspagem das superfícies internas da estrutura modular para a remoção da biomassa algal que cresceu nela. A colheita é realizada com o auxílio de uma embarcação de pequeno porte: uma vez no local, a docagem de um deck flutuante facilita o manuseio das telas submersas. Leia também: 1.Microalgas limpam esgoto sem uso de energia ou químicos 2.Purificador biotecnológico usa algas para limpar o ar Design da CaravelaIdealizada por Bruno Libardoni, oceanógrafo com Ph.D em geociências pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e CEO da Infinito Mare, a Caravela foi desenhada pela equipe criativa da premiada Furf Design Studio. Seu design permite que, uma vez ancorada, ela gire em torno do próprio eixo ao sabor dos ventos e das correntes, rotação que potencializa e acelera o crescimento de algas em sua base.Foto: Infinito MareA Caravela foi desenhada de maneira que o seu movimento rotacional revele, a depender do ângulo de observação, dois significados: um barco à vela e uma gota d’água. O projeto recebeu em 2018 o maior prêmio de EcoDesign do mundo, o Top Innovation Award, em Guangzhou, na China.Foto: Infinito MareCaravela em Porto AlegreAs caravelas despoluidoras já passaram pela Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, pela Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, e agora chegam a Porto Alegre. Na cidade gaúcha, uma das estruturas foi instalada no poluído Arroio Dilúvio, enquanto outra foi instalada na Prainha do Parque Pontal, área de lazer bastante visitada.A iniciativa agora tem o apoio da Heineken Floating Bar, iniciativa da plataforma Green Your City de Heineken, que realiza intervenções em espaços urbanos. “É inspirador ver a tecnologia se somar ao engajamento da comunidade, aproximando as pessoas do seu território e gerando orgulho coletivo. Para nós, sustentabilidade é agir agora para brindar um mundo melhor – e esse projeto é um exemplo vivo disso”, reforça Ligia Camargo, Diretora de Sustentabilidade do Grupo HEINEKEN.Foto: divulgaçãoO projeto foi um dos quatro selecionados pelo Edital Heineken Floating Bar POA, que destinou o lucro obtido com a operação do bar flutuante na capital gaúcha para ações de sustentabilidade e inovação. Serão ações específicas com foco em educação ambiental, regeneração urbana e cuidado com a água, implementadas em parceria com a aceleradora Quintessa já nos próximos meses.Apesar do uso das algas para limpeza de águas poluídas não ser algo novo, o uso das simpáticas estruturas, além de ter uma função técnica, pode ajudar em seu objetivo de chamar a atenção e “ressignificar a relação da população com às águas urbanas além de sensibilizar a população para o papel coletivo na regeneração ambiental”.Foto: divulgaçãoInspirada nos ciclos naturais, “as Caravelas ativam processos naturais de regeneração contínua, onde a própria natureza dita o ritmo. A cidade colhe os benefícios ao ver suas águas mais limpas, biodiversas e resilientes,” afirma Libardoni.Além do impacto ecológico, a tecnologia também contribui para a saúde pública, a educação ambiental e a adaptação climática das cidades, atuando como ferramenta viva de ciência cidadã, pedagogia ecológica e gestão inteligente das águas.“O local de instalação foi selecionado considerando fatores hidrológicos, ambientais e de visibilidade, dada a relevância do Dilúvio e do Guaíba para a cidade de Porto Alegre”, explica a Diretora de Projetos e Políticas de Sustentabilidade da Smamus (Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre), Rovana Reale Bortolini, destacando a oportunidade de se avaliar iniciativas que utilizam a biorremediação com algas.Foto: divulgaçãoCom monitoramento contínuo, análises laboratoriais, coleta de dados e ações de sensibilização local, o projeto pretende deixar um legado de regeneração hídrica, com foco na recuperação dos serviços ecossistêmicos e na valorização das soluções baseadas na natureza no contexto urbano.The post “Caravela” usa alga para despoluir córrego em Porto Alegre appeared first on CicloVivo.