O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), usou passagens carregadas de ironia em seu voto no julgamento da trama golpista para ressaltar a gravidade dos atos e desconstruir a narrativa dos réus. Ele alternou explicações jurídicas com imagens fortes que buscaram traduzir para o público o alcance das investidas contra o Estado democrático de direito.“O plano não era Bíblia verde e amarela, era Punhal verde e amarela”Em uma das frases de maior repercussão, Dino mencionou o documento que circulou entre aliados de Jair Bolsonaro com propostas para assassinar autoriadades, como o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF Alexandre de Moraes.— O nome do plano não era Bíblia verde e amarela. Era Punhal verde e amarelo — disse“Os acampamentos não foram em igrejas, foram em quartéis”Ao tratar da tentativa de envolver militares na ofensiva, Dino também recorreu a imagens. Ele disse que os atos em frente a unidades das Forças Armadas tinham um claro caráter político, muito diferente do que ocorreria se fossem manifestações religiosas.— Os acampamentos não foram nas portas de igrejas. Foram nas portas de quartéis, onde há fuzis, metralhadoras e tanques — afirmou.Para o ministro, essa escolha simbolizava a pressão exercida sobre a instituição militar, alvo de tentativas de arrastá-la para uma aventura golpista.“Não se rompe linha policial com flores e chocolates”Dino também refutou a versão de que os atos de violência poderiam ser minimizados. Ao relembrar confrontos com forças de segurança, ele ironizou:— Não existe forma de enfrentar a polícia com flores e chocolates. Houve confrontação física para se chegar à Praça dos Três Poderes — disse, em referência à depredação de prédios públicos e à hostilidade contra policiais.“É exótico dizer que tribunal constitucional é tirânico”Outra passagem de ironia foi direcionada a críticas feitas ao Supremo. Dino classificou como absurda a ideia de que cortes constitucionais, criadas justamente para proteger democracias, pudessem ser tachadas de autoritárias.— É no mínimo exótico dizer que tribunal constitucional é tirânico. É exatamente o oposto: tribunais são anteparos contra tiranias — afirmou.“A ‘musiquinha de Heleno’ e a participação de menor importância”Ao avaliar a conduta do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Flávio Dino lançou mão de uma ironia. Ele recordou a cantoria em que o militar rimava “Centrão” com “ladrão”, episódio que marcou o estilo do general nos bastidores do governo Bolsonaro.— Ele não cantou, graças a Deus. Mas, salvo engano, foi aquele que cantava uma musiquinha rimando Centrão com ladrão, ou ladrão com Centrão, algo assim — disse Dino, provocando risos no plenário.O ministro explicou que, em sua avaliação, não houve atos exteriorizados relevantes de Heleno no segundo semestre de 2022, e que a ausência de participação em reuniões decisivas o coloca em posição de menor protagonismo. Por isso, considerou que sua atuação deve ser classificada como de “participação de menor importância”, hipótese prevista no artigo 29 do Código Penal.Julgamento em andamentoAs falas de Dino se somaram ao voto do relator Alexandre de Moraes, que também frisou a separação entre as Forças Armadas e os acusados. Ambos destacaram que a ausência de adesão dos comandos militares foi determinante para o fracasso da trama.O julgamento prossegue nesta semana, com a manifestação dos demais ministros.The post Bíblia verde e amarela, flores e chocolates: as ironias de Dino no julgamento appeared first on InfoMoney.