Caso Charlie Kirk: Quando foi que começamos a comemorar a morte para pertencer? 

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Estamos vivendo um tempo em que a morte não causa mais silêncio, mas aplausos. Não a morte natural, nem aquela que chega depois de uma vida inteira, mas a perda de alguém que pensa diferente, que ocupa o outro lado do debate, que carrega um rosto que não nos agrada. Vivemos uma guerra fria mundial, só que agora travada em telas, hashtags e discursos polarizados. Não há bombas caindo do céu, mas há explosões simbólicas a cada comentário que vibra com a tragédia do outro. A opinião, que deveria construir pontes, veste uniforme de torcida organizada e ergue bandeira sobre a vida alheia. Estudos de Stanford mostram que a polarização política intensifica o chamado schadenfreude, ou o prazer pela desgraça alheia. Esse efeito aciona a dopamina, o neurotransmissor da recompensa, e transforma a dor do outro em entretenimento de curto prazo. É como se a empatia tivesse virado moeda fora de circulação e a indiferença, o novo espetáculo coletivo. A teoria da desumanização, descrita por Albert Bandura em “Moral Disengagement”, ajuda a explicar o fenômeno: quando o outro vira apenas inimigo, não resta espaço para culpa. Nesse terreno, até a morte se torna motivo de aplauso. Afinal, quando o outro deixa de ser gente, qualquer fim serve de argumento. O mesmo teclado que escreve “você não está sozinho” é o que digita “bem feito” na tragédia do outro. A rivalidade pode até dar audiência, mas será que dá sentido? Aqui cabe um contraste. Setembro Amarelo nos lembra da importância de valorizar a vida, de estender a mão, de abrir espaço para o diálogo e oferecer cuidado. É um mês que se pinta de esperança. Mas a ironia é que, enquanto penduramos fitas amarelas, seguimos aplaudindo a morte de quem não veste a mesma cor política ou ideológica. Salvamos no discurso, mas matamos na prática. Ainda assim, há formas de nutrir esperança. Quando escolhemos o silêncio respeitoso em vez do comentário cruel, ensinamos ao cérebro que pertencimento também pode nascer da empatia. Pequenos gestos, como perguntar como alguém está, oferecer ajuda ou reconhecer a dor do outro, tornam-se sementes invisíveis que, somadas, fortalecem a humanidade que parece em risco. Ao invés de buscar aplausos fáceis, experimente perguntar: e se fosse eu no lugar daquela pessoa, mesmo que ela tenha errado? Que atire a primeira pedra quem nunca falhou. Acender uma vela, levar flores, dar um abraço ou apertar a mão de quem pensa diferente é mais revolucionário do que qualquer ataque. Porque no fim, ninguém se torna melhor ferindo o outro, nem quem ataca, nem quem é ferido. Nietzsche já alertava: “Quem combate monstros deve velar para que não se torne também um monstro”. O risco é esse: ao vibrar com a morte de alguém, nos aproximamos daquilo que dizemos combater.  Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp A história mostra que guerras silenciosas deixam cicatrizes profundas. Talvez a maior delas seja a perda da nossa capacidade de reconhecer que, apesar das diferenças, toda vida importa. Porque se hoje a morte do outro é motivo de festa, amanhã talvez seja a nossa vez de ser notícia em comemoração. Leia também Quando o roteiro de desculpas chega ao fim