O momento é desafiador, mas também cheio de oportunidades para os investidores em fundos multimercados. Para Tiago Sant’Anna, sócio-fundador e CEO da Absolute Investimentos, o cenário atual favorece estratégias em moedas e juros internacionais, diante de uma desaceleração controlada da economia americana e de um dólar mais fraco. “É um ambiente que pode ser bastante benéfico para ativos de risco”, diz o executivo em entrevista ao InfoMoney.Com cerca de R$ 60 bilhões sob gestão, a casa foi destaque na Premiação Outliers InfoMoney, que reconheceu os principais nomes do mercado em 16 categorias. A Absolute conquistou o 3º lugar na categoria Fundo Multimercados, com o Absolute Vertex, seu fundo carro-chefe.Além dos multimercados, Sant’Anna vê espaço para oportunidades em arbitragem — impulsionada por um ambiente mais favorável para operações de M&A nos Estados Unidos — e em renda variável, com bolsas globais em trajetória positiva e o mercado brasileiro negociando a preços atrativos. No crédito, ele destaca o momento dos fundos de debêntures incentivadas de infraestrutura, que permitem acesso a empresas de baixo risco de crédito com retornos equivalentes a CDI + 2,6% ao ano, líquidos de impostos.Leia também: Máximas renovadas: as 4 forças que explicam o ânimo recente do IbovespaMas nem tudo é terreno fértil. O executivo aponta dois fatores de atenção no radar dos investidores.“É muito importante acompanhar a velocidade de desaceleração da economia americana, que não deve ser muito forte para evitar uma recessão mais aguda. Aqui no Brasil, o grande ponto de atenção são as eleições de 2026.”— diz Tiago Sant’Anna, sócio-fundador e CEO da Absolute InvestimentosLeia também:O que muda com juros altos em 2025? Para gestores Outliers, mais oportunidadesConfira todos os vencedores da Premiação Outliers InfoMoneyVeja a seguir a entrevista completa com Tiago Sant’Anna, sócio-fundador e CEO da Absolute InvestimentosInfoMoney: Pode contar sobre a trajetória da Absolute, desde a fundação até hoje, e em quais verticais vocês atuam?Tiago Sant’Anna: A Absolute começou em 2013, então já são 12 anos de companhia. A história começa quando o Fabiano Rios saiu da gestora em que estava e me convidou, junto com outros sócios, para montar a casa. Começamos com duas estratégias, macro e arbitragem, todas dentro do multimercado, tendo o fundo Absolute Vertex como nosso carro-chefe.Desde o início, tínhamos clareza de modelo de negócio e experiência em asset independente, o que nos permitiu evitar armadilhas e implementar uma meritocracia real no dia a dia. A gestora foi crescendo de forma gradativa, sempre entregando resultados.Em 2018 abrimos uma frente de ações com a Absolute Pace (long bias) e o Endurance (long only). A equipe trouxe sinergia com o macro e os fundos performaram bem. Em 2022 abrimos também a área de crédito high grade, modelo de negócio que acabou se mostrando muito eficiente ao longo do tempo. A indústria vem passando por uma janela difícil e temos conseguido navegar.Hoje temos mais de R$ 60 bilhões sob gestão, atuando em quatro vertentes: macro, arbitragem, ações e crédito.IM: E olhando para frente, quais são as ambições estratégicas da Absolute nos próximos anos?TS: Gostamos de fazer movimentos gradativos. Foram cinco anos para abrir a frente de ações e, quatro anos depois, a de crédito. Já faz três anos desde a última expansão. No curtíssimo prazo, estamos sofisticando produtos e combinando estratégias que já dominamos, muitas vezes em parceria com grandes clientes. Por exemplo, juntar crédito com risco de mercado ou renda variável com macro. Temos feito alguns produtos que são uma composição de habilidades que já temos.Mais adiante, estamos sempre atentos a oportunidades, mas não há nada desenhado no pipeline de curto ou médio prazo.IM: Quais boas práticas de governança vocês adotam? Tem alguma que se destaca?TS: A governança está muito presente no mercado de investimentos, especialmente em ações. Avaliamos as empresas atribuindo notas de governança e ESG. Quanto pior a nota, maior a taxa de desconto que aplicamos no modelo. Isso não impede a compra dessas empresas, mas exige um desconto relevante no preço. Essa prática, cada vez mais difundida, acaba levando as empresas a adotarem medidas alinhas com boas práticas para valorizarem suas ações.IM: A Absolute foi um dos destaques da premiação Outliers InfoMoney, conquistando o 3º lugar na categoria melhor fundo multimercado com o Absolute Vertex. Qual o diferencial do fundo perante os demais do mercado?TS: O principal diferencial é a consistência de retorno. Temos 12 anos de histórico e conseguimos navegar por diferentes cenários macro sem grandes perdas, o que gera um retorno composto muito interessante. Desde o início, o fundo entregou algo próximo a CDI + 9% ao ano, com Sharpe (índice que mede a eficiência de tomada de risco visando o retorno gerado) de 1,6.Nossa gestão é disciplinada, com aversão à perda e stop loss quando necessário. Investimos em pesquisa econômica e dados, mas sempre combinando com leitura técnica de mercado para identificar boas assimetrias. Buscamos situações em que o fundamento ainda não está refletido nos preços. Aqui está o ‘Santo Graal’ do mundo macro. Também usamos opções para limitar perdas e potencializar ganhos.IM: Como vocês avaliam o mercado de multimercados hoje e as oportunidades para investidores?TS: O multimercado tem um mandato amplo, que pode ser desafiador, mas também oferece grandes oportunidades. Atualmente vemos um ambiente favorável para um dólar mais fraco globalmente. Isso abre espaço para posições em moedas e em juros lá fora, diante da desaceleração controlada da economia americana. Esse contexto também pode beneficiar ativos de risco.Falando particularmente de bolsas, vemos espaço para ganhos na bolsa americana, mas havendo distribuição da poupança global para outros mercados, como acreditamos que vai acontecer, há muito dinheiro relativo ao tamanho dos outros mercados que podem gerar deslocamento de preços bem importantes.IM: E nas demais verticais em que a Absolute atua, quais oportunidades enxergam? O que mais existe além das já citadas?TS: Vejo oportunidades em todas. Além de macro, que já comentei, vemos que em arbitragem, com a mudança na composição do FTC (órgão regulador) nos EUA, deixando-o mais pró-business, há mais espaço para operações de M&A, que são fonte de oportunidade.Já em ações, o cenário global é positivo e o Brasil está barato, embora as eleições de 2026 sejam um ponto de atenção. Mas parece que existe margem de segurança para ter posições iniciais compradas em bolsa. Pode ter uma correção muito grande em bolsa também, se houver uma melhora de fundamentos no Brasil no ano que vem junto com esse cenário global externo.No mercado de crédito, existe uma arbitragem muito interessante em fundos de debêntures de infraestrutura, que permitem comprar empresas triple A com retorno equivalente a CDI + 2,6% ao ano líquidos de impostos. Se a alíquota de 5% for implementada no futuro, quem investir agora preserva a isenção.IM: Quais são os principais desafios e pontos de atenção no radar? O investidor precisa acompanhar taxa de juros, inflação ou o cenário internacional?TS: Começando pelo cenário externo, que é o fator que mais dá o tom, é muito importante acompanhar a velocidade da desaceleração da economia americana. Precisa ser gradual, um “pouso suave”, para sustentar o cenário positivo que projetamos.Aqui no Brasil, o grande ponto é a eleição do próximo ano, que pode afetar expectativas e preços de ativos.IM: Vocês têm alguma projeção para juros e inflação no Brasil?TS: Não divulgamos projeções, usamos para consumo interno. Mas acreditamos que a inflação segue relativamente controlada e há espaço para queda de juros, possivelmente a partir de março, já com a nova composição do Banco Central.The post Bolsa opera nas máximas, mas Absolute ainda vê oportunidades; “preços atrativos” appeared first on InfoMoney.