O envelhecimento cerebral é um processo natural, progressivo e multifatorial. Ao longo dos anos, nosso cérebro passa por mudanças estruturais, funcionais e químicas. Algumas delas são pouco perceptíveis e fazem parte do envelhecimento saudável; outras podem indicar risco aumentado para doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e outras demências.Transformações no cérebro ao longo da vidaA partir dos 30 anos, já é possível observar uma leve diminuição no volume cerebral, especialmente em áreas relacionadas à memória e à atenção, como o hipocampo e o córtex pré-frontal. Essa perda se acentua após os 60 anos, estando associada a uma redução na velocidade de processamento das informações, além de alterações nos neurotransmissores, que são substâncias químicas responsáveis pela comunicação entre os neurônios, como dopamina, acetilcolina e serotonina.Apesar disso, o cérebro continua altamente funcional em muitas pessoas idosas, graças à chamada neuroplasticidade — a capacidade do sistema nervoso de se adaptar, criar conexões e até mesmo formar novos neurônios em algumas regiões. É essa capacidade que tem sido cada vez mais explorada por terapias modernas, com o objetivo de preservar e recuperar funções cognitivas na terceira idade.Vale lembrar que o envelhecimento cerebral não é sinônimo de demência, e envelhecer não significa, necessariamente, esquecer. Muitas mudanças fazem parte de um envelhecimento normal, e o desafio da medicina é justamente diferenciar o que é esperado daquilo que pode ser sinal de alerta. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Novas abordagens para a saúde do cérebroDurante décadas, acreditou-se que o declínio cognitivo era um caminho inevitável do envelhecimento — uma espécie de “desligamento gradual” do cérebro com o passar dos anos. No entanto, essa visão tem sido desafiada por descobertas recentes da neurociência, que mostram um cenário mais otimista e transformador: o cérebro idoso é mais plástico e adaptável do que se pensava.Graças a novas terapias — que vão desde medicamentos inovadores até intervenções não farmacológicas, como estimulação cerebral, treino cognitivo e mudanças no estilo de vida — já é possível falar sobre a possibilidade de rejuvenescer o cérebro na terceira idade. A memória, a atenção e até a criatividade podem ser estimuladas e preservadas com estratégias cada vez mais personalizadas.Neste artigo, convido você a explorar como a medicina moderna está redesenhando o envelhecimento cerebral e o que isso representa para o futuro da longevidade cognitiva.Como é possível rejuvenescer o cérebro?O que é possível fazer hoje para rejuvenescer o cérebro? Algumas intervenções específicas são capazes de melhorar a memória, a atenção e a capacidade de aprendizado, mesmo em cérebros que já apresentam algum grau de declínio cognitivo leve. Entre as estratégias, podemos citar:Estimulação Cognitiva: exercícios mentais que desafiam o cérebro, como aprender um novo idioma, praticar um instrumento ou utilizar plataformas digitais com treinos cognitivos personalizados. Atividades desse tipo aumentam a flexibilidade cognitiva e a habilidade verbal;Exercício Físico Regular: exercícios aeróbicos promovem o aumento do fluxo sanguíneo cerebral, estimulam a liberação de neurotransmissores e o crescimento de novos neurônios (neurogênese);Sono de Qualidade: fundamental para a consolidação da memória e a eliminação de toxinas. Distúrbios do sono estão diretamente associados ao declínio cognitivo e à progressão de doenças neurodegenerativas;Alimentação de Qualidade: dietas como a Mediterrânea ou a MIND são ricas em antioxidantes, ômega-3, vitaminas do complexo B e compostos anti-inflamatórios que protegem os neurônios;Controle de Doenças Cardiovasculares: controlar comorbidades como diabetes, hipertensão, colesterol alterado e obesidade é fundamental e impacta diretamente a saúde cerebral. Ou seja: “O que é bom para o coração é bom para o cérebro” é uma verdade que deve ser levada a sério;Neuromodulação: técnicas como a estimulação magnética transcraniana (EMT) e intervenções com realidade virtual têm mostrado resultados animadores na melhora da cognição em idosos, embora ainda estejam em estudo.Diante disto, o que devemos ter em mente é que o envelhecimento do cérebro pode ser, cada vez mais, um processo ativo, com escolhas conscientes e intervenções eficazes.Estudos brasileiros conduzidos na Unicamp, por exemplo, já mostram que realizar musculação duas vezes por semana em pacientes com comprometimento cognitivo leve, com intensidade moderada a alta por pelo menos seis meses, auxilia na proteção contra a atrofia cerebral em áreas responsáveis pela memória, como hipocampo e pré-cúneo. Além disso, proporciona melhora significativa na memória episódica verbal, uma das primeiras a declinar com o envelhecimento — responsável pela capacidade de recordar palavras, histórias e conversas prévias, como lembrar de uma conversa com um neto durante um almoço de domingo. Também há benefícios para a mobilidade funcional, resistência muscular e condicionamento cardiorrespiratório, promovendo maior autonomia e independência ao idoso.Depois de considerar todos esses avanços, é possível concluir que, sim, o cérebro do idoso pode rejuvenescer em termos funcionais. Novas terapias vêm mostrando que é possível melhorar a memória e a atenção, independentemente da idade. Técnicas como a estimulação magnética transcraniana, treinamento cognitivo computadorizado, neuroestimulação personalizada e a combinação de exercícios físicos com desafios mentais estão sendo estudadas em centros de pesquisa no Brasil e no mundo, e os resultados até o momento são bastante promissores. Embora muitas dessas abordagens permaneçam, por enquanto, restritas a contextos acadêmicos ou clínicos especializados, a ciência avança em direção a tornar essas intervenções acessíveis, seguras e aplicáveis a todos. À medida que as evidências se consolidam, é possível vislumbrar um futuro próximo em que unidades básicas de saúde, clínicas de atenção ao idoso e programas públicos de envelhecimento ativo incorporem essas estratégias, democratizando o cuidado com a saúde cerebral na terceira idade.*Por Dra. Julianne Pessequillo – CRM 160.834 //RQE : 71.895Geriatria e clínica médica – Longevidade saudável Leia também Suicídio: desafios e prevenção no Setembro Amarelo Raul Gil foi internado com diverticulite aguda; veja sintomas que exigem atenção imediata