Trabalhadores sul-coreanos detidos em ação nos EUA são recebidos com festa em Seul

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Centenas de trabalhadores sul-coreanos detidos em uma operação de imigração dos EUA na semana passada retornaram ao seu país, encerrando um episódio que tensionou as relações entre Washington e Seul e levantou dúvidas sobre bilhões de dólares em investimentos planejados da Coreia do Sul nos EUA.Um avião da Korean Air Lines com 330 pessoas — 316 delas sul-coreanas — pousou nesta sexta-feira (12) no Aeroporto Internacional de Incheon, onde foram recebidos calorosamente por familiares ansiosos. O saguão de desembarque estava agitado, com equipes de filmagem lado a lado e câmeras focadas nas portas de saída.Leia tambémCoreia do Norte aprofunda repressão com mais vigilância e execuções, diz ONUA ampla revisão da ONU ocorre mais de uma década depois que um relatório histórico da ONU concluiu que a Coreia do Norte havia cometido crimes contra a humanidadeDo lado de fora, mais de 10 ônibus aguardavam em formação, enquanto familiares e amigos acenavam com cartazes de boas-vindas. Entre a multidão, havia um bebê de seis meses esperando o retorno do pai, e uma mulher grávida estava entre os passageiros.Parentes choravam e colegas seguravam cartazes com os dizeres “Bem-vindos de volta, livres e seguros”, em cenas de alívio e alegria à medida que os trabalhadores entravam no saguão.“Não consegui dormir — a ansiedade me causou insônia”, disse Cho Yangsoon, 67 anos, que aguardava com a filha e a nora para receber o filho de 46 anos, que partiu para os EUA há três meses para trabalhar na instalação de tubulações. “Cada dia era insuportável, sem saber o que havia acontecido”, acrescentou.“O silêncio foi a parte mais difícil. Por dias não houve notícias, nem ligações, nada além das notícias. Foi sufocante”, completou.A operação inédita na fábrica de baterias da Hyundai Motor Co.-LG Energy Solution Ltd. em construção na Geórgia gerou revolta pública na Coreia do Sul, afetando a popularidade do presidente Lee Jae Myung. A aprovação do presidente caiu 5 pontos percentuais em uma semana, para 58%, segundo a última pesquisa Gallup Korea divulgada na sexta-feira, com a situação diplomática apontada como o principal motivo.A operação de 4 de setembro ocorreu apenas duas semanas após Lee e o presidente Donald Trump realizarem uma cúpula para reafirmar os laços econômicos e de segurança, após um acordo comercial que inclui a promessa de Seul de investir US$ 350 bilhões nos EUA.O CEO da Hyundai, José Muñoz, afirmou em entrevista na quinta-feira (11) que a operação já atrasou a construção da fábrica em vários meses, com o impacto se espalhando pela indústria.Embora ambos os países tenham tentado minimizar os danos causados pelo incidente, as imagens iniciais da semana passada mostrando trabalhadores algemados em um local que simboliza o compromisso de investimento da Coreia do Sul nos EUA chocaram a nação asiática.Lee afirmou na quinta-feira que o incidente pode impactar significativamente o investimento direto nos EUA, já que empresas coreanas ficam receosas diante de uma possível repressão migratória.O chefe de gabinete do presidente Lee, Kang Hoon-sik, recebeu os trabalhadores que retornaram e disse à imprensa que o governo buscará melhorar o sistema de vistos dos EUA, incluindo a possibilidade de criar uma nova categoria de visto. Ele afirmou que a LG Energy planeja enviar outros trabalhadores aos EUA, mas aconselhou os que acabaram de retornar a não voltarem imediatamente.Uma mulher, que pediu anonimato, disse que perdeu contato com o marido por três dias após a operação e registrou um boletim de ocorrência antes de ser encaminhada ao consulado em Atlanta. Ela afirmou que operações assim não são incomuns, com trabalhadores frequentemente se escondendo em carros até os inspetores irem embora, mas desta vez as autoridades retiraram as pessoas. Após uma última mensagem do marido dizendo que estava em um carro, a comunicação cessou. Apesar do ocorrido, ela espera que ele retorne aos EUA devido ao salário mais alto.As consequências da operação agravam as tensões em torno de um acordo comercial de julho que ainda não foi formalizado por escrito. Os EUA impuseram uma tarifa de 15% sobre a maioria das importações coreanas e concordaram com a mesma taxa para carros e autopeças. Mas Trump ainda não assinou uma ordem executiva para reduzir as tarifas sobre carros, e os dois lados permanecem divididos sobre a promessa de investimento de Seul, parte fundamental do acordo.Com a repressão colocando bilhões em investimentos coreanos em risco, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disse em entrevista à CNBC que a Coreia do Sul deve aceitar o acordo comercial que exige investimento nos EUA ou enfrentar tarifas. Ele acrescentou que Trump planeja facilitar vistos de curto prazo para trabalhadores estrangeiros qualificados necessários para construir novas fábricas.“Considerando que Trump é mestre em criar alavancas, há grande chance de ele tentar usar esse incidente a seu favor — basicamente dizendo ‘Eu darei os vistos, então venham’. Lutnick já disse isso claramente”, afirmou Park Won Gon, professor de relações internacionais da Ewha Womans University, em Seul.No Japão, um compromisso semelhante de investimento de US$ 550 bilhões permite que Trump aumente tarifas se Tóquio não financiar projetos em até 45 dias. Essa cláusula foi incluída em um memorando de entendimento divulgado logo após Trump assinar uma ordem reduzindo as tarifas de carros do Japão para 15%.Lee provavelmente tentará resistir a assinar um acordo desigual, mas “a situação não parece favorável para a Coreia do Sul”, disse Park, citando o acordo com o Japão.As montadoras coreanas enfrentam forte pressão, já que as japonesas agora têm vantagem sobre suas concorrentes, disse Kathleen Oh, economista-chefe para a Coreia da Morgan Stanley, em relatório recente.As exportações da Coreia do Sul para os EUA caíram 12% em agosto em relação ao ano anterior, uma queda significativa para uma economia altamente dependente das vendas externas. E a pressão pode aumentar.“Lembre-se, as demandas de segurança ainda nem foram discutidas”, disse o professor Park, referindo-se à provável exigência de Trump para que Seul pague mais pela hospedagem das tropas americanas no país. “Honestamente, não vejo como a Coreia do Sul poderá resistir.”© 2025 Bloomberg L.P.The post Trabalhadores sul-coreanos detidos em ação nos EUA são recebidos com festa em Seul appeared first on InfoMoney.