Amostras de asteroide podem mudar o que sabemos sobre origem da água na Terra

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Cientistas descobriram que o asteroide Ryugu, cuja órbita passa perto da Terra, teve água líquida circulando em suas rochas por muito mais tempo do que se imaginava. A conclusão veio de amostras coletadas pela sonda japonesa Hayabusa2 e analisadas após chegarem à Terra em 2020. O estudo foi publicado na revista Nature nesta quarta-feira (10).Até agora, acreditava-se que a água em asteroides só existia nos primeiros instantes do Sistema Solar, há cerca de 4,6 bilhões de anos. Mas Ryugu mostrou o contrário: a água continuou presente por até um bilhão de anos depois, o que pode mudar o entendimento sobre a origem de parte da água dos oceanos da Terra.Asteroide Ryugu é um ‘registro fóssil’ do espaço – e teve água por mais tempo do que se imaginavaRyugu é um asteroide carbonáceo em formato que lembra um pião. Ele se formou a partir de gelo e poeira na região externa do Sistema Solar. Por isso, é visto como um “registro fóssil” da infância do Sol e dos planetas.Asteroide Ryugu se formou a partir de gelo e poeira na região externa do Sistema Solar (Imagem: JAXA, UTokyo e colaboradores)A grande surpresa, dizem os cientistas, foi encontrar sinais de que a água permaneceu ativa nesse asteroide por tanto tempo. “A água ficou por muito mais tempo e não se esgotou rapidamente, como imaginávamos”, disse Tsuyoshi Iizuka, pesquisador da Universidade de Tóquio, em comunicado.Se isso aconteceu com Ryugu, pode ter acontecido também com outros asteroides semelhantes. Isso reforça a ideia de que eles podem ter ajudado a trazer água para a Terra primitiva.A pista escondida nos isótoposPara chegar à descoberta, a equipe analisou isótopos radioativos de lutécio e háfnio nas amostras. Esses elementos funcionam como um tipo de relógio natural da geologia.Os cientistas perceberam que havia mais háfnio do que o esperado em relação ao lutécio. Isso só faria sentido se algum fluido tivesse “lavado” parte do lutécio das rochas.A explicação mais provável é um impacto num asteroide maior, o corpo “pai” de Ryugu. Esse choque teria quebrado as rochas, derretido gelo interno e liberado água líquida. O mesmo evento pode ter fragmentado o corpo original e dado origem ao atual Ryugu.Trabalho feito com grãos minúsculosAs amostras analisadas eram minúsculas, equivalentes a uma fração de um grão de arroz. Isso obrigou os cientistas a criar técnicas de separação química e métodos de análise super precisos.Amostras do asteroide analisadas pela equipe eram menores que grão de arroz (Imagem: Iizuka et al./UTokyo)“O tamanho reduzido foi um enorme desafio”, disse Iizuka. “Tivemos de criar métodos que evitassem a perda de material e ainda permitissem estudar vários elementos ao mesmo tempo.”Sem essa inovação, não teria sido possível detectar sinais tão sutis da circulação tardia de água.Impacto para a TerraSe Ryugu manteve água líquida por mais de um bilhão de anos, isso significa que asteroides ricos em carbono podem ter carregado muito mais água do que se pensava. Ao colidirem com a Terra em formação, eles teriam contribuído para o surgimento de oceanos e até da versão inicial da atmosfera. “Isso sugere que os blocos de construção da Terra eram bem mais úmidos do que imaginávamos”, disse Iizuka.Leia mais:Asteroides famosos podem ser “irmãos”8 asteroides monitorados pela NASA e seus riscos de colisão com a TerraPor que as aves e crocodilos sobreviveram ao asteroide, mas não os dinossauros?O próximo passoO grupo agora vai estudar veios de fosfato nas amostras para tentar cravar quando ocorreu o fluxo de água no corpo original de Ryugu.Eles também vão comparar os resultados com amostras do asteroide Bennu, trazidas pela missão OSIRIS-REx da NASA em 2023. A ideia é descobrir se Ryugu foi um caso único ou se a água líquida tardia pode ter sido comum em outros asteroides.O post Amostras de asteroide podem mudar o que sabemos sobre origem da água na Terra apareceu primeiro em Olhar Digital.