Chegar perto de um visitante interestelar não é ficção científica

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E se pudéssemos chegar perto de um visitante interestelar? Pesquisadores do Southwest Research Institute (SwRI), nos EUA, concluíram um estudo de missão que propõe como uma espaçonave poderia sobrevoar corpos celestes vindos de fora do Sistema Solar. Esses “intrusos” despertam enorme interesse científico porque carregam informações únicas sobre outros lugares da Via Láctea.Financiado internamente, o projeto estabelece objetivos científicos, equipamentos e requisitos com base em descobertas anteriores de objetos interestelares (ISOs), como o cometa 3I/ATLAS, detectado este ano. A equipe afirma que, se houvesse tempo hábil, seria teoricamente possível interceptá-lo e observá-lo de perto com a espaçonave proposta. Imagem do objeto interestelar 3I/ATLAS obtida pelo telescópio espacial SPHEREx, da NASA. Crédito: NASA/SPHERExEm poucas palavras:Pesquisadores propõem missão para sobrevoar visitantes interestelares;Os objetos ʻOumuamua, Borisov e 3I/ATLAS inspiraram estudo detalhado de interceptação;Milhares de corpos desse tipo passam imperceptíveis próximos à Terra a cada ano;Sobrevoos forneceriam dados sobre composição, estrutura e evolução desses objetos;Projeto detalha trajetórias possíveis usando técnicas de propulsão já existentes.Apenas três detecções entre milhares de “forasteiros” que passam pelo Sistema SolarEm 2017, o asteroide 1I/ʻOumuamua foi o primeiro “forasteiro” descoberto, por isso sua designação é precedida pelo número 1, enquanto a letra “I” significa “interestelar”. O nome ʻOumuamua vem do havaiano, traduzido como “mensageiro de longe que chega primeiro”. Dois anos depois, em 2019, veio o 2I/Borisov, classificado como o primeiro cometa interestelar (ISC). Em julho de 2025, o cometa 3I/ATLAS chamou a atenção da comunidade científica e da imprensa internacional como terceiro ISO e segundo ISC a passar por aqui.Imagem conceitual do asteroide 1I/ʻOumuamua, o primeiro objeto interestelar visto no Sistema Solar. Crédito: ESO/M. KornmesserA expectativa é que mais objetos semelhantes sejam encontrados nos próximos anos. O Observatório Vera C. Rubin, inaugurado recentemente no Chile, será uma peça-chave nesse processo. Sua capacidade de rastrear o céu com alta precisão deve multiplicar o número de descobertas de ISOs e ISCs na próxima década, ampliando as oportunidades de estudo.“Esses tipos de objetos oferecem à humanidade a primeira oportunidade viável de explorar de perto corpos formados em outros sistemas estelares”, disse Alan Stern, cientista planetário e vice-presidente associado do SwRI, em um comunicado. Ele explica que um sobrevoo permitiria entender a composição, a estrutura e a evolução desses visitantes e “expandiria significativamente nossa compreensão dos processos de formação de corpos sólidos em outros sistemas estelares.”Estima-se que milhares de objetos de origem interestelar cruzem nossa vizinhança cósmica anualmente. Só na órbita de Netuno, até 10 mil podem passar a cada ano. O problema é que todos viajam em trajetórias hiperbólicas, ou seja, em rotas de alta velocidade que não permitem capturas orbitais com a tecnologia atual. Painel superior esquerdo: Cometa 3I/ATLAS observado logo após ser descoberto. Painel superior direito: Corpo sólido do cometa Halley visto de perto pela sonda espacial Giotto, da Agência Espacial Europeia (ESA). Painel inferior: Trajetória do cometa 3I/ATLAS em relação a Mercúrio, passando por Saturno, e a trajetória de estudo do interceptor da missão SwRI, caso a espaçonave fosse lançada este ano. O arco vermelho no painel inferior representa o percurso da missão da Terra até o cometa interestelar 3I/ATLAS. Créditos: Cortesia da NASA/ESA/UCLA/MPSEspaçonave conseguiria alcançar o visitante interestelar 3I/ATLAS se já existisseMesmo assim, os pesquisadores mostraram que um sobrevoo é viável, relativamente barato e poderia render dados valiosos. O estudo do SwRI detalhou inclusive como seria esse encontro. A proposta prevê um sobrevoo frontal em alta velocidade, coletando o máximo de informações durante a passagem. O engenheiro Matthew Freeman, gerente de projeto do estudo, reforça que, se a espaçonave proposta já existisse, poderia ser usada no nosso atual visitante. “A trajetória do 3I/ATLAS está dentro do alcance interceptável da missão que projetamos, e as observações científicas feitas durante tal sobrevoo seriam inovadoras”.Os principais objetivos seriam identificar as propriedades físicas do corpo, analisar sua composição e entender como forças externas moldaram sua evolução. Outra meta importante é examinar a coma, a nuvem de gases que se forma em torno do núcleo do cometa, oferecendo pistas sobre sua origem.Para planejar os trajetos possíveis, os cientistas criaram um software que simulou uma população fictícia de ISCs. O programa então calculou rotas de energia mínima da Terra até esses objetos, e o resultado mostrou que encontros desse tipo são possíveis com tecnologias de propulsão já utilizadas em missões espaciais recentes, sem a necessidade de inovações radicais.Leia mais:Veja a “cabeleira” verde de gás do visitante interestelar 3I/ATLASVisitante interestelar é analisado em imagem incrivelmente nítidaVisitante interestelar foi visto por caça-planetas da NASA meses antes de ser descobertoMark Tapley, especialista em mecânica orbital do SwRI, aplicou o programa para calcular se a espaçonave proposta poderia alcançar o 3I/ATLAS, descobrindo que a missão conseguiria interceptar o objeto. Segundo ele, isso reforça a viabilidade de missões a ISCs, já que as exigências técnicas não seriam maiores do que as de operações que a NASA já conduziu com sucesso.Com esse estudo, os cientistas do SwRI demonstram que explorar objetos interestelares de perto é algo que está ao alcance da engenharia espacial atual. Embora o 3I/ATLAS tenha passado cedo demais para uma interceptação real, ele serviu como um excelente exemplo prático de que missões desse tipo podem ser planejadas e executadas em um próximo visitante.O post Chegar perto de um visitante interestelar não é ficção científica apareceu primeiro em Olhar Digital.