A implementação de uma mistura de 16% de biodiesel no diesel (B16) a partir de março do ano que vem, conforme um cronograma oficial de aumento da mescla do biocombustível no Brasil, pode não ser possível no prazo previsto, disse o diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Marlon Arraes, nesta segunda-feira (6).Segundo ele, até lá pode não haver tempo suficiente para a realização de todos os estudos técnicos necessários para elevar a mistura, que atualmente está em 15%.“É possível que a gente não consiga cumprir este prazo em março, é altamente desafiador, a gente tem alguns passos a dar até que a gente possa fechar o entendimento, um relatório, que materialize essa realidade técnica”, disse ele, durante evento do BiodieselBR.Quer investir no setor? O Agro Times montou um guia com tudo que você deve saber antes de investir no agronegócioA possível postergação do prazo pode impactar principalmente a indústria de óleo de soja, matéria-prima que chega a responder por mais de 75% da produção de biodiesel no Brasil. O setor tem investido de olho em uma mistura mais alta do biocombustível –nos próximos 12 meses, serão R$5,9 bilhões, segundo estimativa da associação Abiove.A mistura de B15 em 2025, que deveria ter entrado em vigor em março deste ano, foi implementada somente em agosto, com o governo citando preocupações inflacionárias no início do ano.Segundo o diretor do ministério, a pasta tem que buscar cumprir o que está na Lei do Combustível do Futuro, fazendo esforços para isso, mas a legislação também exige que a alta da mistura seja condicionada à viabilidade técnica.A lei estabelece alta gradual da mistura, de 1 ponto percentual por ano, podendo chegar a 20% até 2030.Arraes disse ter ficado “feliz” de saber que o setor produtivo de biodiesel tem tido boa relação com entidades representativas das indústrias de peças de veículos e automotiva, para que eventualmente os testes possam ser mais céleres.“Isso pode se traduzir em testes mais simples, mais curtos”, afirmou.Questionado pela Reuters após sua participação em debate no evento, ele não quis prever um prazo para a implantação da mistura B16.Arraes afirmou que o governo deverá formar um comitê com os representantes da indústria produtora, juntamente com entidades da indústria automotiva, para que sejam definidos os testes de uma mistura mais alta de biodiesel.Ele disse não ter previsão de quando este comitê poderia ser formado.Para o diretor, é importante que o governo e os setores construam este processo em uma base “sólida”, para que uma eventual mistura mais alta não tenha sua viabilidade contestada.Indústria otimistaPara o diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e do Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, já há viabilidade técnica para o uso de uma mistura maior B16.“Várias empresas estão usando B100, várias montadoras já fizeram testes para B20”, argumentou ele.Para o executivo, “se for necessário fazer algum estudo mais aprofundado, que seja feito ao longo do próximo ano, mas que se cumpra essa escala para o B16”, para que os planos da indústria não sejam frustrados.Questionado sobre o motivo, então, para o eventual não cumprimento da mistura maior em 2026, Tokarski disse que “o governo é pressionado por diversos lados”.“E essa pressão que recebe de diversos lados promove uma discussão que às vezes não tem a mesma celeridade que o próprio Brasil necessita”, afirmou, sem especificar quais seriam esses lados.O executivo destacou que o Brasil está diante de uma “super safra de soja”, garantindo a oferta de matéria-prima, e que o maior uso de biodiesel seria importante para sustentar investimentos e a geração de empregos e renda.“A oportunidade que temos de avançar com a mistura é agora, para que possamos dar confiança a todo o mercado do agro brasileiro, dando mais oportunidade à utilização do óleo e do farelo de soja.”O farelo de soja, além do óleo, é outro derivado do esmagamento da soja, destinado à fabricação de ração animal.O setor no Brasil tem capacidade produtiva instalada e aprovada pela reguladora do setor ANP de 15 bilhões de litros por ano, mas ainda há outras empresas entrando no segmento. E as que já têm fábricas estão expandindo operações, disse o dirigente da Ubrabio.Para atender um B15 serão necessários quase 10 bilhões de litros de biodiesel. Se o B16 for implantado em março de 2026, serão mais 700 milhões de litros produzidos, segundo Tokarski.