Um estudo publicado na revista Science revela uma crise ecológica de proporções alarmantes no arquipélago de Fiji. De acordo com a pesquisa, pelo menos 79% das espécies de formigas nativas e exclusivas da região estão enfrentando um declínio populacional severo. Esta decadência, que começou com a chegada dos primeiros humanos há aproximadamente 3.000 anos, intensificou-se dramaticamente nos últimos séculos, paralelamente à colonização e modernização das ilhas do Pacífico Sul.A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, do Museu de Zoologia Comparativa de Harvard e da Universidade de Maryland, serve como um alerta para um fenômeno que pode estar se repetindo com insetos endêmicos em diversas partes do globo.Em ilhas, mudanças ambientais e biológicas acontecem em ritmo acelerado. Por serem ecossistemas isolados, as perturbações trazidas por humanos, como desmatamento, novas formas de cultivo e a chegada de espécies exóticas, têm efeitos rápidos e profundos. Imagem: dr.salama.photography/ShutterstockFormigas desempenham papel importanteA importância dessas formigas vai muito além de seu tamanho. Elas são peças fundamentais para a manutenção de ecossistemas saudáveis, atuando na polinização, na decomposição de matéria orgânica e no ciclo de nutrientes. Em Fiji, sua função é ainda mais peculiar: espécies nativas são conhecidas por cultivar pés de café na casca de árvores para, posteriormente, colher seu néctar.A queda na população começou com a chegada dos primeiros humanos, há cerca de 3 mil anos, e se intensificou nos últimos séculos, em paralelo à colonização, à modernização das ilhas e à expansão de espécies invasoras. O trabalho usa uma abordagem inédita para reconstruir a história das populações e aponta um alerta que pode valer para outros insetos no mundo.Planta Vincetoxicum nakaianum imita odor de formigas feridas. (Imagem: Mochizuki 2025)Isso foi necessário já que entender o declínio de insetos globalmente é um desafio, principalmente pela escassez de dados de longo prazo. Muitos estudos focam apenas em tendências recentes. Para contornar essa limitação, a equipe de cientistas empregou a análise genômica comunitária de amostras históricas de museus. Isso permitiu aos pesquisadores reconstruir o passado genético das formigas, desvendando suas relações evolutivas e as flutuações de suas populações ao longo de milênios.Leia também:Os 5 insetos mais venenosos do mundoOs 5 animais peçonhentos mais perigosos do BrasilQuais são as aranhas mais perigosas do mundoOs resultados foram descritos como alarmantes pela Universidade de Maryland. “O fato de as espécies endêmicas estarem em declínio é motivo de grande preocupação, tanto para o futuro dessas espécies em Fiji quanto pela possibilidade de que seja um fenômeno muito mais generalizado”, afirma o entomologista Evan Economo, um dos autores do estudo. A pesquisa mostra que a fase mais crítica coincide com o período de colonização europeia e a introdução de práticas agrícolas intensivas.O que se vê em Fiji pode ajudar a antecipar o que ocorre — ou está prestes a ocorrer — em outros ambientes. A equipe pretende aplicar a mesma abordagem genômica a amostras de museus de diferentes regiões do mundo, numa tentativa de entender se o “apagão” das formigas de Fiji seria apenas a ponta do iceberg. Na prática, as conclusões apontam para prioridades claras: controlar espécies invasoras, restaurar habitats, reduzir perturbações em áreas sensíveis e valorizar coleções científicas como ferramenta de conservação. Proteger as formigas endêmicas de Fiji não é um objetivo isolado; é um passo para manter funções ecológicas que sustentam florestas, agricultura e, em última instância, a qualidade de vida humana.O post Colapso dos insetos: declínio de formigas indica tendência alarmante apareceu primeiro em Olhar Digital.