O recente aumento nos casos de adulteração de bebidas com metanol trouxe à tona um problema mais amplo: a crescente presença do PCC e de organizações similares na agroindústria. Um aspecto pouco debatido é que o mesmo método de operação tem se manifestado de forma alarmante no comércio ilegal de agroquímicos.Esse crime resulta em prejuízos ambientais que superam R$ 3 bilhões anualmente, além de causar sérios problemas de saúde. Entre 2019 e 2023, foram registrados mais de 14.500 casos de intoxicação e 439 mortes — números que, devido à subnotificação, podem ser ainda maiores. A chamada “máfia do veneno”, possivelmente ligada a uma facção do PCC, atua em três frentes: contrabando de produtos por fazendas na fronteira, especialmente no Paraguai; roubo de cargas; e fabricação de insumos piratas, que incluem a reclassificação de mercadorias desviadas. O Brasil se destaca como o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo, com mais de 300 mil toneladas por ano, embora uma parte significativa circule clandestinamente, sob a “cobertura” do PCC do Agro. Essa carga é extremamente perigosa, chegando a ser utilizada como arma química.O agronegócio brasileiro é um setor vital e um pilar de inovação. Contudo, como ocorre em países que lidam com organizações criminosas, os segmentos mais robustos da economia também atraem sombras indesejadas. Diante de várias investigações em curso, fontes do setor ouvidas pela Jovem Pan defendem a implementação de rastreabilidade para os produtos. A proposta sugere um sistema público integrado com a Receita Federal, a Polícia Rodoviária Federal e outros órgãos que possam monitorar a movimentação dos produtos em tempo real até o consumidor final.Recentemente, o Ministério da Agricultura iniciou discussões sobre o tema, mas a proposta perdeu força devido à resistência da bancada ruralista no Congresso Nacional. Segundo o ministério, o programa visa promover a rastreabilidade de produtos agrotóxicos em toda a sua cadeia produtiva. A medida é também uma forma de garantir a defesa agropecuária, a segurança alimentar e a proteção ambiental, além de prevenir fraudes.O programa abrangerá todos os envolvidos na cadeia, desde fabricantes até usuários finais, e sua implementação será gradual, conforme um cronograma que será divulgado pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Mapa.Parlamentares da bancada ruralista tentam suspender os efeitos da portaria 805/2025, que instituiu o Programa Nacional de Rastreabilidade de Agrotóxicos e Afins (PNRA). A indústria de pesticidas expressou descontentamento com a norma, argumentando que o modelo de rastreamento proposto será “pouco eficaz” e acarretará custos adicionais, além de restringir o uso de outras tecnologias no controle de produtos. Parlamentares ligados ao setor já apresentaram projetos de decretos legislativos para barrar a norma, mas ainda não há previsão de votação. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp A portaria prevê a criação de uma plataforma tecnológica, chamada Brasil-ID/Rastro-ID, que monitorará a movimentação dos produtos desde as fábricas até o consumidor, incluindo a logística reversa. O objetivo é combater o comércio ilegal de agrotóxicos e o roubo de cargas. De 2019 a 2024, a Polícia Federal apreendeu 273 toneladas de agrotóxicos irregulares, conforme dados do portal R7. A ferramenta também deverá verificar se o consumo dos produtos respeita os prazos de validade. Entretanto, a indústria de agrotóxicos afirma ter sido pega de surpresa pela discussão do tema. Leia também Rio Grande do Sul registra primeiro caso de intoxicação por metanol Justiça de SP autoriza destruição de 100 mil garrafas apreendidas após casos de metanol