Até 19 de outubro de 2025, a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, organizada pelo IABsp (Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo), ocupa o Pavilhão da Oca, no Parque Ibirapuera, na capital paulista. Sob o tema “Extremos: Arquiteturas para um Mundo Quente”, a edição discute o enfrentamento das mudanças climáticas e dos eventos extremos pelo olhar da arquitetura, do urbanismo, do design e do paisagismo. O conceito curatorial desta edição parte do entendimento de que vivemos em tempos de extremos climáticos, exigindo da arquitetura soluções radicais e inovadoras. Nos quatro pisos do Pavilhão da Oca, os curadores propõe um encontro entre vanguardas científicas e inovação, saberes tradicionais, soluções do cotidiano e das periferias urbanas, propostas do mercado e ações do Estado para afirmar uma posição: o desafio das mudanças climáticas precisa ser enfrentado pelo conjunto da sociedade, na arena de disputas que a constitui.“A 14ª Bienal de Arquitetura é uma arena. Evitamos propositalmente uma narrativa unívoca e colocamos em um mesmo espaço proposições decorrentes de visões de mundo diversas. Elas se enfrentam, se complementam, divergem, convergem, desafiam o visitante a pensar suas próprias escolhas”, afirma Renato Anelli, um dos curadores da Bienal de Arquitetura, sobre o caráter da proposta curatorial.Your Greenhouse is Your Living Room | Leyuan Li, Jiaxun Xu, Yue XuApós uma década de edições descentralizadas, a Bienal retorna à Oca no Ibirapuera, sede histórica das primeiras mostras, desde 1951, consolidando o espaço como um ponto de encontro das respostas globais da arquitetura às mudanças climáticas.Your Greenhouse is Your Living Room | Leyuan Li, Jiaxun Xu, Yue XuDe jovens emergentes a nomes consagradosA Bienal destaca uma nova geração de arquitetos nascidos nos anos 1990, que combinam rigor construtivo, materiais sustentáveis e inovação tecnológica. “O resultado é uma arquitetura ao mesmo tempo investigativa, adaptável, consciente e meticulosamente construída”, afirma o curador Clévio Rabelo, sobre os arquitetos jovens com trabalhos expostos na 14ª BIAsp. Entre os nomes estão Mixtura (Itália), La Cuadrita (Paraguai), Cauce (Colômbia), Gustavo Utrabo (Brasil), Arquipélago (Brasil), Messina Rivas (Brasil), entre outros. Leia também: 1.Quando a moradia social vira arquitetura de referência 2.Na Índia, arquitetura resfria casa sem precisar de ar-condicionado Arquitetos renomados também integram a mostra, como Eva Pfannes (OOZE), Liu Jiakun (ganhador do Pritzker), Shigeru Ban (Paper Log House), Kongjian Yu das cidades-esponja chinesas (que faleceu em uma queda de um avião em 24 de setembro na cidade de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul) e brasileiros como Gabriela de Matos, Aflalo | Gasperini, MMBB e Grupo SP.Como resultado do esforço curatorial de trazer visões diferentes sobre o tema dos Extremos para a exposição, o visitante encontrará na Oca desde uma construção experimental em bambu (produzida em um workshop pelo mestre bambuzeiro Ventania junto com o Instituto Cambará) que, a partir de uma técnica tradicional, propõe uma estrutura que é ao mesmo tempo nova e evocativa da iconografia africana, até um arranha-céu inaugurado em 2022 como o mais alto da cidade de São Paulo. Curadores da BienalA curadoria da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo está a cargo do Comitê Curatorial, formado por seis profissionais de diversas regiões do Brasil: Renato Anelli, Karina de Souza, Marcos Cereto, Clevio Rabelo, Marcella Arruda e Jerá Guarani. Suas trajetórias abrangem arquitetura, urbanismo, pedagogia, pesquisa acadêmica, ativismo social e produção cultural. Confira a minibiografias dos curadores.A seleção combinou chamada aberta e convites diretos, resultando em 179 projetos expostos, além das mostras nacionais, estaduais e municipais.Fazenda Bocaina | Arquipelago | Mariana CairesNa programação a 14ª BIAsp traz ainda 43 oficinas, 12 atividades em instituições associadas, além das 82 conferências e sessões temáticas do Fórum de Debates, com presença de 14 países (somados, exposição e atividades envolvem 29 países). Na Cinemateca, a bienal apresenta a Mostra Arquitetura e Cinema, que exibirá 14 filmes na temática dos Extremos na Cinemateca.A mostra principal, concentrada no primeiro e segundo andar, terá no térreo da Oca um momento introdutório composto de quatro seções: Visões de Futuro: utopias e distopias como ponto de partida.Introdução às mudanças climáticas nas cidades: abordagem educativa.Projetos Pioneiros: iniciativas brasileiras de 1970–2000.Desastres Recentes: impactos do novo regime climático. Andares superioresNos outros andares, o visitante encontra uma mostra pensada em oito seções:Reflorestar o Urbano – recuperação da natureza nas cidades.Partimos das Águas – enfrentamento da escassez e excesso de água.Circular Juntos – propõe transitar entre periferia e centro com mobilidade ativa, coletiva e sustentável.Construir Verde – técnicas e materiais de baixo impacto.Recuperar Enquanto Há Tempo – reuso de edificações e materiais.Saber Fazer Com – resgata as cosmovisões indígenas e afro-diaspóricas e o conhecimento ancestral como ferramentas para a arquitetura contemporânea.Reduzir as Desigualdades – justiça climática e direitos.Ficaremos Aqui – reinvenção do habitar com materiais naturais e reciclados.Saberes tradicionais em destaqueUm dos destaques da mostra é a seção expositiva Ficaremos aqui, que ocupará todo o segundo andar da Oca com quatorze construções experimentais de baixo impacto, algumas delas em tamanho real, que resgatam saberes tradicionais e exploram novos materiais. Essas construções apresentam técnicas como telhas de plástico reciclado, solo-cimento, cânhamo e diversas formas de usar a madeira que reconciliam inteligência projetual e respeito aos ciclos da Terra.CASA FLORESTA Foto: Dannyel SaAlém disso, neste ano, China, França e União Europeia prestigiam a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo com um grande esforço de presença, ao levar mostras nacionais de porte.Outros destaques da Bienal de ArquiteturaA Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo é uma das principais instâncias de debate e atualização da cultura arquitetônica brasileira. Confira mais alguns destaques da programação deste ano:Moradias para pessoas em situação de ruaOs visitantes da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo podem conhecer ainda, em escala real, uma moradia do programa Morar Primeiro, do Fundo FICA, em parceria com a paróquia do padre Júlio Lancellotti. A iniciativa oferece habitação digna e serviços sociais para pessoas em situação de rua, beneficiando 60 pessoas até agora.ONG Fundo Fica reproduz casa do programa ‘Morar Primeiro’É a primeira vez que um programa habitacional voltado a essa população é exibido na Bienal, inserido no eixo “Justiça Climática e Habitação Social”. A proposta destaca como os mais afetados pela crise climática, e os que menos contribuem para ela, devem estar no centro das soluções.Além da casa-modelo, a instalação apresenta a atuação do FICA, que também promove locação social, moradias compartilhadas e habitação estudantil acessível em regiões centrais de São Paulo.Projetos japoneses de moradia sustentávelPaper Log House, por Shigeru Ban, na JHSP. Foto: Thiago MinoruNesta edição da Bienal, a Japan House São Paulo participa pela primeira vez, apresentando na Oca dois projetos japoneses de moradia sustentável: a “Paper Log House”, do arquiteto Shigeru Ban, feita com tubos de papel e madeira para abrigos temporários em desastres naturais; e a cabana de junco, bambu e sisal, criada pelo artesão Ikuya Sagara, inspirada em abrigos tradicionais japoneses e adaptada com materiais locais como o junco de Registro (SP).Cabana de Ikuya Sagara na JHSP. Foto: Luciana IzukaAmbas as estruturas seguem a filosofia “mottainai”, de não desperdício, e foram exibidas anteriormente na mostra “Princípios japoneses: design e recursos”. Os projetos destacam o uso eficiente de materiais, conforto ambiental e baixo impacto ecológico, promovendo uma arquitetura alinhada à regeneração da natureza. Após a Bienal, a “Paper Log House” será transferida para a FAU-USP como objeto de estudo acadêmico.Exposição “Terra”A exposição “Terra” é um dos destaques da bienal. A mostra propõe reflexões sobre o uso da terra crua como material sustentável na construção, frente à crise climática. Com apoio do Instituto Francês, a mostra é fruto da colaboração entre instituições e arquitetos como o grupo francês CRAterre, o NAP PLAC da FAU-USP, os estúdios Argus Caruso Arquitetura e Laboraterra Arquitetura.A curadoria destaca a conexão entre tradição e inovação, propondo a terra como alternativa de baixo impacto ambiental, culturalmente significativa e viável para construções resilientes. A exposição convida o público a uma jornada sensorial pelo processo construtivo, da matéria-prima ao projeto final.Projeto Casa AA da Argus Caruso Arquitetura. Foto: Gustavo UemuraEstão programadas uma oficina (11/10) e uma roda de conversa (12/10) sobre técnicas de bioconstrução. Argus Caruso defende que a arquitetura deve aliar estética, técnica e responsabilidade ambiental. Ele destaca soluções como tintas de terra, naturais, duráveis e de baixo impacto, e tetos verdes, que ajudam no controle térmico, acústico e hídrico urbano, além de promoverem a biodiversidade.Projeto Casa AA da Argus Caruso Arquitetura. Foto: Gustavo UemuraO mercado de materiais sustentáveis cresce rapidamente, com previsão de chegar a US$ 907 bilhões até 2034, impulsionado por soluções como biocompostos e insulantes naturais. A exposição “Terra” reforça a importância de práticas que unem saberes ancestrais e inovação para um futuro mais justo e ecológico.Para mais detalhes sobre a bienal, acesse o site oficial. The post Bienal de Arquitetura reúne soluções para um mundo em crise appeared first on CicloVivo.