Por que a água muda de cor? Veja o que isso revela sobre o ambiente

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Quem nunca se perguntou por que o mar do Nordeste é azul-turquesa, enquanto o oceano no Sul parece mais acinzentado? Ou por que alguns rios da Amazônia são tão escuros que lembram café, enquanto outros têm a cor do barro ou se aproximam de um verde translúcido?As diferenças são tão visíveis que, vistas do alto, criam mosaicos sobre o mapa do Brasil. Mas o que poucos sabem é que essas variações da cor da água contam uma história sobre a vida e a química dos ambientes. Leia Mais Estudo mostra que ilhas brasileiras abrigam espécies únicas do planeta Crise climática afeta baleias-jubarte e o equilíbrio dos oceanos Partes de Guarujá e Santos podem ser alagadas pelo mar até 2050, diz estudo A tonalidade de um lago, rio ou mar é resultado direto da interação entre a luz solar e as substâncias presentes na água, sejam elas naturais, como algas e sedimentos, ou fruto da ação humana. Cada partícula, cada molécula e cada organismo absorve e reflete a luz de forma diferente e é essa combinação de fatores que transforma a cor da água em diferentes locais.Essa explicação faz parte de um estudo detalhado conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). No artigo “O sensoriamento remoto da cor da água”, cientistas mostram como a observação da cor pode revelar propriedades químicas, físicas e biológicas dos ecossistemas aquáticos.A física por trás das cores da águaDe acordo com o estudo, a luz do sol, que parece branca aos olhos humanos, é composta por diferentes comprimentos de onda, do violeta ao vermelho. Quando ela penetra na água, parte dessa energia é absorvida e outra parte é espalhada.A água pura, sozinha, absorve mais a luz nas faixas do vermelho e do infravermelho, e espalha mais o azul. É por isso que mares profundos e limpos aparecem azul-escuros: quase não há partículas ou organismos interferindo no caminho da luz.Mas basta um pequeno desvio na composição da água para que o tom mude completamente. A presença de fitoplâncton (microalgas), por exemplo, altera o equilíbrio óptico e faz com que o ambiente pareça esverdeado.Já sedimentos inorgânicos, como areia, argila e minerais, aumentam o espalhamento da luz, produzindo águas amarronzadas ou turvas. E quando há muita matéria orgânica dissolvida, proveniente de folhas ou detritos vegetais, o resultado pode ser um tom amarelado ou até preto, como o dos rios amazônicos.Três componentes, infinitas combinaçõesDe acordo com o estudo do INPE, há três grupos principais de substâncias que determinam a cor natural das águas:Fitoplâncton: organismos microscópicos que realizam fotossíntese e contêm pigmentos como a clorofila, responsável por tons de verde.Material inorgânico em suspensão: partículas minerais que refletem e espalham a luz, deixando a água turva ou barrenta.Substâncias amarelas: matéria orgânica dissolvida, que dá às águas tons amarelados, avermelhados ou escuros.A combinação e a concentração desses elementos variam conforme o ambiente. Nos oceanos abertos, por exemplo, a água é dominada pela pureza óptica e pelo baixo teor de partículas. Já em regiões costeiras, rios e lagos, o encontro entre matéria orgânica, sedimentos e nutrientes cria paletas de cores.O exemplo da AmazôniaNa Bacia Amazônica, o contraste entre as águas brancas, pretas e claras é um exemplo de como a cor reflete processos biogeoquímicos complexos.As águas brancas, típicas do Rio Solimões, são ricas em sedimentos minerais e apresentam tons barrentos. As águas pretas, como as do Rio Negro, têm baixa turbidez, mas elevada concentração de matéria orgânica dissolvida, que escurece o tom e acidifica o ambiente. Já as águas claras, com coloração esverdeada ou transparente, indicam baixo teor de sedimentos, mas variações no pH e nos nutrientes.Essas diferenças influenciam a biodiversidade, a produtividade e até o tipo de vegetação que cresce nas margens dos rios. E, por meio de imagens orbitais, é possível acompanhar como esses fluxos mudam ao longo do ano, especialmente durante os períodos de cheia e vazante.Ao analisar o comportamento da luz sobre rios, lagos e oceanos, a ciência consegue identificar a presença de sedimentos, algas e matéria orgânica, e até monitorar sinais de poluição e mudanças climáticas. Observar a cor da água é uma forma de acompanhar a saúde dos ecossistemas. Em tempos de transformação ambiental acelerada, entender o que essas cores revelam pode ser decisivo para proteger os recursos hídricos e planejar políticas de preservação mais eficazes.Ciclo global da água está desregulado pela 1ª vez na história; entenda