O dólar fechou em forte alta nesta sexta-feira (10), superando R$ 5,50 e registrando a maior cotação em mais de um mês. A combinação de temores fiscais no Brasil e novas ameaças de Donald Trump à China desencadeou um movimento de aversão global ao risco, pressionando moedas emergentes e derrubando as bolsas.O Ibovespa fechou preliminarmente com queda de 0,60%, aos 140.859,07 pontos, acompanhando a piora no câmbio, enquanto investidores estrangeiros reduzem exposição ao mercado local.Entenda a seguir os motivos que levaram ao mau humor dos mercados nesta sexta.Fiscal volta ao centro das preocupaçõesA principal faísca doméstica veio do noticiário sobre um possível “pacote de bondades” de até R$ 100 bilhões que o governo estuda para 2026, ano eleitoral. Segundo o Estadão, as medidas envolveriam isenções e novos benefícios sociais, sem detalhamento sobre como seriam financiadas.“O real despontou como a pior moeda entre os emergentes. Esse pacote, ainda que não confirmado, reacendeu o temor de deterioração das contas públicas”, avalia Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.A percepção de risco aumentou após a derrubada da MP 1.303, que previa aumento de arrecadação na ordem de até R$ 46 bilhões em dois anos. Sem essa receita, o mercado teme que o governo recorra a medidas pontuais, como a elevação do IOF, possível após o STF confirmar que o Executivo pode aumentar o imposto sem aval do Congresso.“A incerteza fiscal é o vetor majoritário. O dólar subiu quase dez centavos em poucas horas, mesmo com o DXY estável, o que mostra que o desconforto é interno”, diz Marianna Costa, economista da Mirae Asset.Para Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, o movimento reflete “a combinação entre incerteza fiscal e fragilidade de confiança”.“O real se descolou de outros emergentes e perdeu força mesmo com o dólar caindo lá fora. Isso mostra que o risco é doméstico”, resume.Trump X China volta aos holofotes e mercados buscam proteçãoNo exterior, o gatilho veio de novas ameaças tarifárias de Donald Trump contra a China, em meio à escalada das restrições de Pequim a empresas americanas como Nvidia e Qualcomm. O episódio reacendeu o temor de uma guerra comercial e atingiu os mercados de commodities e de emergentes.“As declarações de Trump criaram novo gatilho para saída de recursos estrangeiros do Brasil. A queda do petróleo e o temor com tarifas reforçaram a fuga para ativos seguros”, explica Shahini.Segundo Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury, o cenário global já estava frágil.“Durante o fechamento do governo dos EUA, o dólar se fortaleceu como refúgio seguro, o ouro renovou máximas e os títulos do Tesouro atraíram compradores. Agora, com Trump reacendendo tensões, a demanda por proteção deve se intensificar.”O índice DXY, que mede o dólar contra uma cesta de moedas fortes, opera ao redor de 99 pontos, enquanto o ouro renovou recordes históricos.Fuga para o dólar e descolamento do realNa B3, o dólar futuro para novembro avançava 1,5%, a R$ 5,49, enquanto o dólar à vista subia 2,4%, a R$ 5,505. Mesmo com o dólar global enfraquecido ante euro e iene, o real seguiu na contramão.“A alta reflete fuga de risco e repatriação de recursos para os EUA. Não é força do dólar em si, mas do movimento defensivo dos investidores”, diz Paulo Monteiro, head da Gravus Capital.Ele observa que a aversão global ao risco se soma ao temor doméstico de reversão da trajetória da Selic, caso a política fiscal comprometa a estabilidade de preços.Bolsa sente o baque, mas setores ligados à habitação tentam reagirO Ibovespa chegou a subir 0,3% no início do dia, aos 142.137 pontos, impulsionado por medidas de estímulo ao crédito imobiliário e valorização das commodities metálicas. O alívio, porém, não durou.“A Bolsa reagiu a fatores setoriais, mas o câmbio segue pressionado. O investidor estrangeiro exige prêmio maior para emergentes, e isso impede recuperação consistente”, afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, acrescenta que o momento favorece empresas “inovadoras, ágeis e orientadas à eficiência”, que conseguem se adaptar mesmo em ciclos de volatilidade.The post Entre fiscal e Trump, mercado joga a toalha: por que dólar e Bolsa azedaram nesta 6ª? appeared first on InfoMoney.