O dólar à vista disparou nesta sexta-feira (10/10). A moeda americana registrou alta de 2,38% frente ao real, cotado a R$ 5,50. O Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), caiu 0,72%, aos 140.682 pontos. Os dois vetores dos mercados de câmbio e ações foram as novas ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China, associadas a temores dos agentes econômicos sobre recrudescimento do risco fiscal no Brasil .Trump disse nesta sexta-feira que poderá impor um “aumento massivo de tarifas” sobre produtos chineses importados para os EUA. Isso em represália ao que chamou de controle que o país asiático pretende impor à exportação de terras raras, cruciais para a produção de itens de alta tecnologia. Leia também Negócios Temor fiscal e ameaça de Trump à China fazem dólar disparar. Bolsa cai Negócios Dólar dispara e Bolsa tomba com Lula, Haddad, Galípolo e exterior Negócios Dólar sobe e Bolsa cai com avanço do temor fiscal no Brasil e no mundo Negócios Dólar passa a subir com IPCA, Lula, Powell e acordo em Gaza. Bolsa cai O republicano disse ainda que não permitirá que a China mantenha o mundo “como refém” dessa matéria-prima. Trump afirmou também que, “para cada elemento que eles (os chineses) têm para monopolizar, os EUA têm dois”.Com essas declarações, os investidores perderam o apetite por ativos de risco, como as ações negociadas em bolsas. Por volta das 16h30, os índices de Nova York caíam fortemente. O S&P 500 recuava 2,23%, o Dow Jones baixava 1,52% e o Nasdaq, que concentra papéis de empresas de tecnologia, anotava queda de 2,87%.Portos-segurosEm contrapartida, os “portos-seguros” dos investidores valorizaram-se. Os contratos futuros do ouro, por exemplo, voltaram a atingir máximas históricas. O metal com entrega prevista para dezembro subiu 0,69%, retornando à casa dos US$ 4,00 a onça-troy.Moedas como o iene, do Japão, e o franco suíço também se fortaleceram. Às 16h30, o índice DXY, que compara o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes (euro, iene, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço) baixava 0,47%, aos 98.93 pontos.As ameaças de Trump à China abafaram até a repercussão positiva no mercado do anúncio do fim da guerra entre Israel e Hamas, feito na quinta-feira (9/10). Com o fim do conflito, que durava dois anos, o preço do petróleo chegou a cair quase 2% na quinta-feira (9/9).Real liderou perdasBruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, nota que, embora o cenário de aversão a risco tenha sido global, o real liderou as perdas entre as moedas emergentes. “A combinação entre a deterioração fiscal doméstica e o aumento das tensões geopolíticas globais formou um cenário indigesto para os mercados”, diz.Ele observa que, no Brasil, a notícia de um “pacote de bondades” de R$ 100 bilhões, supostamente preparado pelo governo federal para 2026, acentuou a percepção do mercado de risco fiscal. Se isso ocorrer, diz o analista, o Executivo pode “caminhar para um cenário de gastos mais elevados com a proximidade do período eleitoral”.Fuga para a segurançaHaveria, então, diz o economista, uma elevação do prêmio de risco, colocando em xeque a credibilidade do ajuste das contas públicas. “Lá fora, as declarações de Trump sobre a possibilidade de novas tarifas contra a China foram o gatilho para um movimento global com bolsas em queda, VIX (o chamado “índice do medo”) em disparada, ouro acima de US$ 4 mil e petróleo afundando mais de 3%”, afirma. “O resultado foi um dia típico ‘fuga para a segurança’, em que o investidor direcionou-se para títulos da dívida americana, os Treasuries, também como porto seguro.”Quando às preocupações com a situação fiscal do Brasil (fruto da relação entre gastos e receitas do governo), ela já vinha se acentuando ao longo da semana. Isso ocorreu, notadamente, depois que Medida Provisória 1.303, que criava uma alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), caiu no Câmara dos Deputados, na quarta-feira (8/10).A MP era considerada fundamental pela equipe econômica do governo para viabilizar o equilíbrio fiscal em 2026. A medida previa, originalmente, uma arrecadação de R$ 20,9 bilhões e um corte de gastos de R$ 10,7 bilhões, ambos em 2026.