As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em alta, em especial entre os contratos com prazos mais longos, com a curva a termo refletindo receios dos investidores com a política fiscal brasileira e as novas ameaças tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, à China.Em meio à disparada do dólar para perto dos R$5,50, a taxa do DI para janeiro de 2028 estava em 13,41% no fim da tarde, em alta de 1 ponto-base ante o ajuste de 13,4% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2029 marcava 13,4%, ante o ajuste de 13,343%.Entre os contratos longos, o contrato para janeiro de 2035 tinha taxa de 13,805%, em alta de 9 pontos-base ante 13,719%.A sexta-feira foi, na visão de alguns analistas, uma espécie de “tempestade perfeita” para os ativos brasileiros, com notícias negativas vindas tanto do Brasil quanto do exterior.Internamente, o arquivamento pelo Congresso na quarta-feira da medida provisória 1303, que tratava da taxação de aplicações, seguia dando suporte à curva, em meio a leitura de que o desfecho foi negativo para o esforço do governo de equilibrar as contas. A MP teria impacto fiscal de R$14,8 bilhões em 2025 e de R$36,2 bilhões em 2026, considerando as novas receitas previstas e os cortes de despesas, conforme o Ministério da Fazenda.Durante a manhã, o mau humor dos investidores se intensificou após reportagem do jornal O Estado de S. Paulo indicar que o pacote de medidas do governo para 2026 poderia somar R$100 bilhões, sem que as receitas estejam garantidas. Na conta entram medidas como a ampliação da isenção do Imposto de Renda, a distribuição de gás de cozinha, a isenção nas contas de energia para uma parcela das famílias e o pagamento de bolsas para estudantes — todos programas já anunciados anteriormente pelo governo e previstos no projeto orçamentário para o próximo ano.Ainda que não haja novas medidas, os agentes demonstravam preocupação de que o ano de 2026 seja marcado por ações para impulsionar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com impacto negativo para as contas públicas.Para piorar o cenário, perto do meio-dia Trump ameaçou aumentar as tarifas comerciais contra a China e cancelar uma reunião planejada com o presidente chinês, Xi Jinping.Ele acusou a China de manter a economia global refém, depois que o país asiático expandiu drasticamente seus controles de exportação de terras raras, na quinta-feira.“O mercado brasileiro entrou em pânico pouco antes do (fator) global. Mas depois da notícia de que Trump pensa em aumentar as tarifas da China, a curva abriu e o dólar foi mais para cima”, pontuou a analista Laís Costa, da Empiricus Research. “O Brasil opera China”, acrescentou, em referência ao impacto da fala de Trump sobre os ativos brasileiros.Neste cenário, na ponta longa da curva — onde geralmente a atuação dos investidores estrangeiros é maior –, a taxa do DI para janeiro de 2035 marcou a máxima de 13,935% às 14h08, em alta de 22 pontos-base ante o ajuste da véspera. Até o encerramento da sessão regular as taxas desaceleraram os ganhos, mas ainda assim terminaram no positivo na maior parte dos vencimentos.O movimento era contrário ao dos Treasuries, cujos rendimentos cediam em meio à busca pela segurança dos títulos norte-americanos.Pela manhã, durante evento de lançamento de um novo modelo de crédito imobiliário, em São Paulo, Lula chegou a criticar a rejeição da MP sobre taxação, reiterando o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. Os comentários, no entanto, não reduziram o estresse na curva de juros, ampliado à tarde pelas declarações de Trump.No mesmo evento de São Paulo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou o compromisso da instituição com a busca da meta contínua de inflação, de 3%. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo espera que no fim de 2026 as condições de política monetária “estejam substancialmente diferentes das atuais”.Perto do fechamento da sessão a curva brasileira precificava em 97% a probabilidade de manutenção da taxa básica Selic em 15% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, no início de novembro.Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — despencava 10 pontos-base, a 4,051%.The post Taxas dos DIs sobem com receio sobre a área fiscal e ameaças de Trump à China appeared first on InfoMoney.