Fome atinge 6,4 milhões de brasileiros, menor número já registrado desde 2004

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A insegurança alimentar grave, realidade de famílias que convivem diariamente com a ameaça da fome, ainda alcançava mais de 6,4 milhões de brasileiros em 2024. O número absoluto é o menor já registrado em pesquisas do IBGE. A série histórica do instituto começa em 2004.Na edição anterior da pesquisa, em 2023, a fome atingia 8,6 milhões de pessoas no Brasil, chegando a 4,1% dos lares. Ou seja, de um ano para outro, 2,2 milhões de brasileiros deixaram essa situação.O percentual de lares nessas condições em 2024 ficou em 3,2%, equivalente ao de 2013.Somando os lares em que a restrição alimentar é mais grave com aqueles em que a situação é moderada, o número chegou a 7,7% no ano passado, também o menor desde 2013. Na pesquisa anterior, de 2023, esse percentual chegava a 9,4%.É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, cujos dados sobre segurança alimentar no país foram divulgados nesta sexta-feira. A primeira pesquisa do instituto a observar esses indicadores é de 2004.A pesquisa indica o percentual de lares sob qualquer grau de insegurança alimentar, desde os casos leves, até os moderados e os graves. Com isso, abrange desde as famílias que têm preocupações ou incertezas quanto acesso aos alimentos no futuro, até aquelas que podem ter passado por episódios de fome — com membros do domicílio ficando um dia inteiro sem comer ou com a restrição de alimentos atingindo até as crianças — no período observado pela pesquisa.Considerando os lares com qualquer um dos três graus de insegurança alimentar, o percentual caiu para 24,2% em 2024, após alcançar 27,6% em 2023 e 36,7% em 2017 e 2018, maior patamar já registrado. No entanto, o número do ano passado ainda é menor que o de 2013 (22,6%).A pesquisa foi elaborada com base na metodologia adotada na Pnad de 2004, 2009 e 2013 e na Pesquisa de Orçamentos Familiares dos anos de 2017-2018. O levantamento classifica as unidades domiciliares segundo os graus atribuídos pela Escala de Insegurança Alimentar brasileira (Ebia).Maior renda e programas sociais ajudam a diminuir a fomeOs dados mostram que a insegurança alimentar no Brasil é diretamente ligada à renda. Entre os lares que passavam por insegurança alimentar grave, em 71,9% os responsáveis ganhavam até um salário mínimo. Já considerando aqueles que passavam por qualquer tipo de insegurança alimentar, dois em cada três (66,1%) domicílios tinham renda de até um salário per capita.— Quanto menor o rendimento domiciliar per capita, as pessoas estão mais sujeitas a estarem em algum tipo de privação alimentar — explica Maria Lucia Vieira, gerente da pesquisa.E é por isso que, de acordo com a pesquisadora, o acesso aos alimentos também está relacionado aos índices de desemprego.— Em momentos que tem uma redução dos empregos, não tem jeito de não reduzir a alimentação. Tem que reduzir os custos ou para comer ou de outras contas para não reduzir a alimentação. E a gente veio observando nesses últimos dois anos, comparando 2023 com 2024, que, de fato, a taxa de desocupação também vem reduzindo, melhorando o rendimento das pessoas. Isso tem um reflexo direto no que as pessoas conseguem adquirir de alimentos.Além do aumento de renda via ocupação, a gerente da pesquisa também menciona os programas sociais, tanto os de transferência de renda, quanto os diretamente relacionados à alimentação, como os de merenda escolar, que são fatores importantes para reduzir a insegurança alimentar nas famílias.— O combate à fome era uma das propostas do governo federal, de tirar o Brasil do mapa da pobreza. E ele vem trabalhando nesse sentido, de políticas para essa redução de domicílios em algum grau de insegurança alimentar.Lares chefiados por negros e mulheres são os mais vulneráveisEntre os domicílios com algum tipo de insegurança alimentar, 70,4% dos domicílios tinham pessoas negras como seus responsáveis, entre eles 54,7% de pardos e 15,7% de pretos. Esses são os grupos mais vulneráveis em qualquer um dos tipos de privação alimentar, desde o mais grave até o mais leve.Nos casos de fome mais grave, a participação de domicílios com responsáveis negros (pretos e pardos) é ainda maior: 73,8%, mais que o triplo da parcela cujo responsável era branco (24,4%).As famílias chefiadas por mulheres também estão entre as mais atingidas pela fome, já que três em cada cinco (59,9%) dos lares com insegurança alimentar tinham elas como responsáveis.Já quanto às regiões do país, as maiores proporções de qualquer tipo de privação alimentar estão no Norte (37,7%) e Nordeste (34,8%). O grau mais grave foi registrado em 6,3% e 4,8% dos domicílios dessas grandes regiões, respectivamente.As áreas rurais também são mais atingidas (31,3%) do que as zonas urbanas (23,2%).Entenda os critérios de segurança alimentar:Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do IBGE, classificam os lares de acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). Nela, há quatro critérios que definem a situação dos brasileiros em um domicílio: segurança alimentar; insegurança alimentar leve; moderada ou grave. Veja abaixo o que caracteriza cada um:Segurança alimentar: A família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.Insegurança alimentar leve: Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos.Insegurança alimentar moderada: Redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos.Insegurança alimentar grave: Redução quantitativa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio. The post Fome atinge 6,4 milhões de brasileiros, menor número já registrado desde 2004 appeared first on InfoMoney.