O mercado de games atravessa tempos desafiadores: crunch, demissões em massa e a crescente presença da inteligência artificial transformam a rotina de estúdios e artistas diariamente. Em meio a este cenário, Liam Proniewicz, premiado diretor de arte com 12 anos de carreira, conversou com o Voxel sobre os desafios do mercado atual. Trazendo nomes como Call of Duty: Black Ops 6 no currículo, o artista forneceu, em entrevista, sua visão sobre os bastidores da indústria e como os profissionais lidam com essas mudanças. Para ele, a paixão pelo que faz é o que mantém a equipe motivada mesmo diante de prazos apertados e orçamentos reduzidos.O evento, que acontece nos hoje (11) e amanhã (12) em São Paulo, é uma oportunidade única para estudantes, profissionais e curiosos conhecerem de perto os desafios da indústria criativa, com workshops, palestras e experiências interativas que unem tecnologia, design e inovação.O impacto do crunch, IA e demissões na criatividadeSegundo Proniewicz, a pressão por prazos curtos e cortes de orçamento é um reflexo do ciclo pós-pandemia, quando o aumento da demanda por entretenimento digital se estabilizou. “É desafiador equilibrar as expectativas do cliente com a qualidade que buscamos. Como diretor de arte, procuro proteger os artistas para que possam entregar seu melhor trabalho sem distrações”, afirma.Apesar das dificuldades, Liam reforça que a comunicação aberta e o planejamento cuidadoso ajudam a minimizar os efeitos do crunch. Em projetos onde é necessário acelerar a produção, a colaboração estreita entre diretores de arte e equipes de produção garante que a qualidade não seja sacrificada.O diretor de arte também comentou sobre as mudanças trazidas pela inteligência artificial na rotina de produção de games. Proniewicz vê a IA como uma ferramenta de potencial criativo, não uma ameaça. "Em um mundo onde podemos criar qualquer coisa com um prompt, é a inteligência humana que guia as decisões que agregam valor.”“Assim como softwares de animação e desenho vetorial se tornaram essenciais, a IA pode nos ajudar a desenvolver processos mais eficientes. Nosso valor real continua sendo criar experiências que importam e emocionam”, explica, indicando que as soluções podem eventualmente até tornar o trabalho dos artistas mais valioso.“Nosso verdadeiro valor não está em tornar as coisas mais rápidas ou mais baratas, mas em fazer coisas que importam. Em fazer com que nosso público sinta algo”, diz o artista. “Porque em um mundo onde podemos criar qualquer coisa com um prompt, é a inteligência humana que guia as decisões que agregam valor.”O desafio de fazer um jogo de guerra realistaEnquanto a evolução tecnológica gera mudanças no mercado, o salto gráfico trazido por novos hardwares está tornando os jogos cada vez mais realistas. Para Liam, a evolução tecnológica aproximou ainda mais os games do cinema. “O gameplay está cada vez mais cinematográfico, especialmente em jogos de mundo aberto. Isso nos permite criar experiências imersivas sem perder a essência interativa”, comenta. Essa linha cada vez mais tênue entre jogo e realidade, no entanto, também acompanha desafios. Em Call of Duty: Black Ops 6, a abordagem foi criar uma experiência visceral e imersiva, mas com cuidado para manter o realismo da guerra sem ser insensível. A escolha de linguagem visual e teoria do movimento ajudou a transmitir tensão e urgência sem recorrer a cenas explícitas, segundo o artista. “Quando o assunto é algo tão sombrio quanto a guerra, é importante que a linguagem visual e a teoria do movimento contribuam para que uma sensação de agitação e desconforto seja transferida para o jogador sem mostrar nada muito explícito”, revela o diretor de arte. Curiosamente, uma abordagem similar pode ser vista em Battlefield 6, onde os devs também tiveram cuidado para dar vida a um jogo realista, mas que não fosse desrespeitoso — confira mais detalhes aqui.Conselhos para novos profissionais de gamesApesar de todos os desafios existentes no mercado de games hoje, o diretor de arte ressalta que o mercado está repleto de oportunidades. Com isso, mesmo com desafios, o segmento ainda pode render muitos frutos para os apaixonados por games.Para quem está começando na indústria, Liam recomenda curiosidade e experimentação. “Explore tudo o que puder, aprenda com os erros e busque conhecimento constantemente. Pequenas descobertas hoje podem se tornar pilares importantes na sua carreira”, orienta.O diretor de arte também destacou a energia e a criatividade da comunidade de games brasileira. “O talento daqui está moldando o futuro do setor global. Continuem ultrapassando limites — o mundo está de olho”, incentiva.Liam Proniewicz está no Brasil para o Pixel Show, festival de criatividade que acontece de 11 a 12 de outubro na ESPM, em São Paulo. O evento traz experiências gratuitas ao público, workshops e a conferência paga com mais de 15 palestras de profissionais renomados — confira mais detalhes no site oficial.E aí, qual a sua opinião sobre o mercado atual de games? Comente nas redes sociais do Voxel e Minha Série.