A apresentação do Exodus na última quinta-feira (9) já passava da metade quando um membro brasileiro de sua equipe técnica pediu ajuda do Carioca Club para cuidar do gargalo da pista, em frente ao palco. Sem reduzir a intensidade durante 90 minutos, o grupo capitaneado pelo guitarrista Gary Holt celebrou os quarenta anos de seu disco de estreia, “Bonded by Blood” (1985), tocado na íntegra em mais um show abarrotado de uma lenda do thrash metal em São Paulo.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showA casa, como ocorrera pouco mais de um mês antes, mal permitia qualquer tipo de movimentação. No entanto, se o Testament havia variado tempos e atmosferas ao longo de suas quase duas horas de show, o vocalista Rob Dukes — que retornou ao posto este ano — só mexia os dedinhos, música após música, pedindo rodas, com o público se virando para tentar abri-las.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showThrow Me to the WolvesJá dava para notar que seria uma noite daquelas quando os paulistanos do Throw Me to the Wolves subiram ao palco do Carioca Club minutos antes do horário combinado. O Exodus só começaria seu show pouco mais de uma hora depois, mas a pista já estava bem preenchida às 19h50.O vocalista Diogo Nunes até tentou fazer o público demonstrar mais empolgação enquanto a banda executava as faixas extraídas de seu disco de estreia, “Days of Retribution”, lançado no primeiro semestre deste ano. Uma ou outra roda tímida se abria, mas, se não era efusiva, a recepção ao death metal melódico bem à moda sueca do grupo também não foi fria.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showA qualidade de som, porém, não ajudou. Os efeitos adicionados à bateria de Maycon Avelino ajudaram quando o som do grupo se aproximou dos breakdowns de metalcore. Só que, na maior parte da apresentação, eles acabaram por encobrir os riffs de Gui Calegari e do estreante Fabrício Fernandes.Apenas se conseguia ouvir as guitarras quando a dupla executava seus leads melódicos, algo essencial na cartilha escrita em Gotemburgo, e trocava solos — que foram muitos desde a abertura, com “Chaos”. Até mesmo o baixista Fabio Fulini teve seu momento na seção intermediária da faixa “Gates of Oblivion”.Quando “Gaia” encerrou o set de quarenta minutos, pode-se dizer que houve uma aprovação geral do público ao Throw Me to the Wolves, a julgar pela fila imensa formada para acessar o banheiro da casa apenas quando o quinteto paulistano deixou o palco.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showRepertório — Throw Me to the Wolves:ChaosTartarusDays of RetributionFragmentsAwakening My DemonsGates of OblivionAn Hour of WolvesGaiaExodusFelizmente, foram necessários os poucos segundos iniciais de “Bonded by Blood”, para saber que a bateria de Tom Hunting não padeceria do mesmo mal. Ainda assim, a qualidade de som do Carioca Club não chegou a nada muito além do aceitável. A acústica da casa é das que mais apresenta variações conforme o posicionamento do público da pista. No entanto, se não foi um primor, pelo menos os instrumentos estavam definidos o suficiente para não atrapalhar a diversão de ninguém.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showHunting, aliás, tornou-se o único membro presente nas doze visitas do Exodus ao país. Como Gary Holt acabou não participando de alguns shows no Brasil devido à sua agenda com o Slayer, apenas o baixista Jack Gibson havia acompanhado o baterista desde as primeiras apresentações da banda por aqui, ainda em 1998, ainda com o saudoso Paul Baloff nos vocais.O músico, no entanto, teve uma emergência familiar e foi obrigado a retornar aos Estados Unidos. Sua substituição foi na base do improviso: o técnico de guitarra de Holt, Steve Brogden, membro do grupo Nukem, dividiu o baixo com o brasileiro Gerson Polo, integrante do Funeral Blood, banda-tributo nacional dedicada ao Exodus e reconhecida oficialmente.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showO repertório da noite teve a execução de todas as faixas de “Bonded by Blood”, como prometia a turnê de celebração do quadragésimo aniversário do trabalho de estreia. Entretanto, elas não foram reproduzidas de forma ininterrupta na sequência do disco.Cinco minutos antes do horário programado para o começo do show, o sistema de som passou a reproduzir hilários discursos do lendário vocalista Paul Baloff, falecido em 2002, alguns deles extraídos do disco ao vivo “Another Lesson in Violence” (1977).Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showPontualmente às 21h, o Exodus começou os trabalhos cumprindo a promessa: a faixa-título do disco de 1985 veio praticamente emendada à canção com o nome de batismo da banda. Se as rodas eram difíceis de se abrir no meio da pista abarrotada, o público não deixou de cantar junto e chacoalhar a cabeça aos riffs de Holt.Ao seu lado nas seis cordas, segue Lee Altus, nascido na Ucrânia ainda sob o jugo da União Soviética, de onde se mudou no início dos anos 1980. Membro do Exodus desde 2005, o exímio guitarrista ainda lidera o cultuado Heathen, outro tradicional grupo da Bay Area de San Francisco.Rob Dukes mostrou ainda ter voz potente para se esgoelar sem dó. Presente com o Exodus em quatro de suas visitas ao Brasil — inclusive uma das poucas atrações estrangeiras a subir ao palco do malfadado Metal Open Air, de 2012 —, ele pôde dizer como estava feliz de retornar ao país antes de “And Then There Was None”.Depois de dedicar “A Lesson in Violence” a Paul Baloff, apenas antes de “Metal Command”, o vocalista mencionou a presença de Steve Brogden no baixo. Até então, o baixista-tampão havia tocado todas as músicas e mostrou familiaridade o suficiente para correr empolgado o palco todo.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showEncerrada a execução na sequência de todas as faixas do Lado A de “Bonded by Blood”, foi a hora de fazer a “substituição do substituto”. Holt assumiu o microfone para explicar a ausência de Gibson e chamar Gerson Polo à linha de frente.Sem tirar seus óculos escuros, o brasileiro mostrou tranquilidade ao seguir na execução do repertório, a começar pelos oitos minutos da intrincada “Iconoclasm”. A faixa extraída de “The Atrocity Exhibition: Exhibit A” (2007), foi a primeira estranha ao disco celebrado na noite e baixou um pouco a adrenalina.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showA cadência nervosa de “Blacklist”, por outro lado, foi recebida pelo público como um clássico recente do Exodus – apesar de “Tempo of the Damned” (2004) já ter mais de vinte anos de lançado. A rápida “Fabulous Disaster”, faixa-título do trabalho de 1989, seguiu aumentando a violência na pista. Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Igor Miranda (@igormirandasite)Curiosamente, coube a “No Love”, música que retomou a execução de faixas de “Bonded by Blood”, quebrar um pouco o ritmo. Não apenas por sua introdução em dedilhados de Gary Holt, mas também pelo “momento Freddie Mercury” de Dukes aquecendo o vocal com o público. O respiro não resistiu ao riff principal da faixa, muito menos à troca incessante de riffs e solos entre Holt e Altus em “Deliver Us to Evil”, que encerrou a participação de Polo na noite.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showSteve Brogden voltou ao baixo a partir da cadência mal encarada dos riffs de “Piranha”, mas o país ainda seguiu representado no palco. O vocalista do Funeral Blood, Fabio Seterval, repetiu a dose do Summer Breeze Brasil de 2024, quando dividiu os vocais com o então frontman do Exodus, Steve “Zetro” Souza. Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Igor Miranda (@igormirandasite)Se a banda deixou de lado por alguns momentos o disco “Bonded by Blood”, a presença em espírito de Baloff seguiu com a execução de duas faixas compostas enquanto ele ainda estava na banda. “Brain Dead” só foi lançada no álbum “Pleasures of the Flesh” (1987), já sob a voz de “Zetro” Souza.“Impaler”, a próxima do repertório, deveria ter integrado “Bonded by Blood”. Mas um certo ex-guitarrista reutilizou seu riff em uma faixa relativamente esquecida do segundo disco de sua então nova banda, causando seu arquivamento. Composta quando esse estilo rápido ainda não havia nem sido batizado, traz um início cadenciado que serviu apenas um prelúdio para a hecatombe final, retomando a velocidade do show.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showSem sair do palco, a banda instigou o público ao tocar o clássico riff de introdução de “Raining Blood” (Slayer), ou mesmo de forma meio atrapalhada os primeiros versos de “Motorbreath” (Metallica). Não precisava: a cadência irresistível de “Toxic Waltz”, sozinha, transformou a pista num redemoinho para acompanhar o hino da roda de thrash metal.Após “Strike of the Beast” cumprir com a violência tradicional — incluindo um wall of death na pista — a promessa da execução de todo o trabalho de estreia, muitos os clichês passam pela cabeça para descrever a aula de violência proporcionada pelo ataque do Exodus com sua boa diversão violenta e amigável reservada para todos que precisam de metal intenso.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showFato é que a geração inicial do thrash metal parece viver o melhor momento de sua relação com o Brasil. Seja pela percepção de finitude causada por mortes recentes de músicos icônicos ou por receio de anunciadas aposentadorias, o público tem enchido os shows do estilo no país. Exceto por ocasionais contusões e prováveis dores no corpo no dia seguinte, ninguém teve motivos para sair do Carioca Club pensando que não vai ter a chance de ver o Exodus de novo.Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.showExodus — ao vivo em São PauloLocal: Carioca ClubData: 9 de outubro de 2025Turnê: 40 Years of BloodProdução: HonorsoundsRepertório:Bonded by BloodExodusAnd Then There Were NoneA Lesson in ViolenceMetal CommandIconoclasmBlacklistFabulous DisasterNo LoveDeliver Us to EvilPiranhaBrain DeadImpalerThe Toxic WaltzStrike of the BeastQuer receber novidades sobre música direto em seu WhatsApp? Clique aqui!Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.O post Exodus celebra 40 anos do disco de estreia na base da violência em SP apareceu primeiro em Igor Miranda.