O agronegócio estima serem necessários, pelo menos, R$ 4,9 bilhões em investimentos anuais para adequar as estradas vicinais de regiões prioritárias a um padrão mínimo de qualidade. As vias, que conectam áreas rurais, são consideradas essenciais para o escoamento da produção agrícola. O valor foi calculado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). O estudo considera 177 mil quilômetros de estradas terciárias em regiões altamente prioritárias. De acordo com o levantamento, custo anual de manutenção nesse padrão é de R$ 35 mil por km. Leia Mais Estudo avalia vulnerabilidade de rebanhos às mudanças climáticas Cade forma maioria para suspender moratória da soja a partir de 2026 Crédito verde dispara, mas segue longe de pequenos produtores da Amazônia Já para elevar todos os 367 mil km de estradas terciárias ao padrão mínimo, o investimento necessário é de R$ 10 bilhões por ano.Por outro lado, para elevar a qualidade dos 101 mil km de estradas vicinais do padrão ‘ruim’ para ‘superior’, nas regiões altamente prioritárias, a CNA calcula um investimento de R$ 12,6 bilhões. O custo para manutenção nesse patamar é de R$ 131 mil por km/ano.As estradas vicinais são vias não pavimentadas, geralmente de terra ou com revestimento natural, que conectam áreas rurais entre si ou aos grandes corredores logísticos, facilitando o escoamento da produção até os portos ou centros de distribuição. Por essas vias, passam cerca de 1,4 toneladas de carga.Os produtos mais transportados pelas estradas vicinais incluem cana-de-açúcar, cereais, leguminosas e oleaginosas, frutas, lavouras permanentes e temporárias, leite, madeira, milho, soja e produção animal.De acordo com Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA, o investimento de R$ 4,9 bilhões nas vias prioritárias é considerado estratégico.“Estamos falando de um valor que representa menos de um terço do prejuízo anual (R$ 16,2 bilhões) causado pelas más condições dessas vias, apenas em custos operacionais. Com esse aporte, seria possível melhorar a qualidade de vida da população rural e garantir o escoamento de alimentos com mais segurança e eficiência”, diz Elisangela.GanhosCom o investimento, a CNA projeta ganhos operacionais. A expectativa é de que a melhora nas estradas vicinais pode reduzir em R$ 6,4 bilhões por ano os custos operacionais, como combustível, manutenção, insumos e mão de obra. Atualmente, os custos operacionais ultrapassam R$ 16,2 bilhões por ano.A entidade também projeta benefícios ambientais com os investimentos. Estima-se ser possível reduzir em 1 milhão de toneladas/ano as emissões de gases de efeito estufa em comparação ao cenário atual.O levantamento elaborado pela CNA considerou a infraestrutura da Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Paraná. Foram percorridos mais de 1,2 mil quilômetros e 150 pessoas foram ouvidas.O estudo também identificou obstáculos que dificultam investimentos e melhorias nessas vias, como orçamento público limitado, extensão elevada da malha e falta de mão-de-obra técnica qualificada para execução das obras.Atualmente, há 2,2 milhões de km de estradas vicinais, distribuídas em 557 microrregiões brasileiras. Desse total, cerca de 367 mil km são estradas terciárias e 1,8 milhão de km (84,5%) são estradas “não classificadas”.PropostasDiante dos resultados, a CNA apresentou recomendações para viabilizar a transformação da malha vicinal em vias eficientes e estruturadas.Entre as propostas apresentadas, estão medidas para aprimorar a logística de distribuição de materiais, fortalecer a articulação entre os setores público e privado e criar canais diretos de comunicação com os produtores rurais.A CNA também destacou a importância de melhorar a eficiência operacional com capacitação de mão-de-obra e a formação de equipe técnica especializada na gestão e manutenção de estradas vicinais.Para assegurar padrões mínimos de qualidade nesses locais, a entidade defende a criação de planos estruturados voltados à manutenção e readequação dessas vias e a efetiva implementação do Programa Nacional de Estradas Vicinais (Proner), do Ministério da Agricultura.MetodologiaO estudo “Panorama das Estradas Vicinais no Brasil” foi realizado a partir de uma demanda da CNA ao Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log).O levantamento analisou bases públicas disponíveis no país, incluindo informações da Confederação Nacional do Transporte, do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e da plataforma colaborativa OpenStreetMap.Além da análise dos dados, a CNA e os pesquisadores da Esalq-Log realizaram visitas decampo a oito microrregiões para verificar in loco as condições das estradas vicinais relevantes.