A Polícia Federal investiga uma família de Patos, no Sertão da Paraíba, suspeita de integrar um esquema de fraude em concursos públicos. Uma análise dos gabaritos do Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024 revelou familiares com respostas com padrões idênticos, inclusive nos erros, e aprovados no cargo com maior salário do certame.A investigação indica que os crimes já aconteciam há mais de uma década. A reportagem explica como o grupo criminoso fraudava concursos públicos:Quem são os principais suspeitos do crime?A Polícia Federal afirma que o esquema criminoso era chefiado pelo ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa, expulso da corporação em 2021 e já condenado por tortura de adolescente dentro de viatura. Ele nasceu em Patos, no Sertão da Paraíba, e tem 44 anos.De acordo com as investigações, Wanderlan realizou a prova do concurso apenas para demonstrar aos “clientes” que a fraude era possível. Ele foi aprovado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, que tem salário de R$ 22 mil, sendo o maior do certame. Ele não chegou a participar do curso de formação.O suspeito responde por diversos crimes, como homicídio, roubo majorado, uso de documento falso, peculato, concussão e abuso de autoridade.Segundo o relatório da Polícia Federal, Wanderlan contava com o apoio de familiares: os irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, a cunhada Geórgia de Oliveira Neves e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves, que ocupavam funções diferentes na organização criminosa.Tomaz Silva/Agência BrasilO filho do ex-policial, identificado como Wanderson Gabriel de Brito, também foi preso em julho de 2025 por suspeita de fraudar o concurso da Polícia Militar da Paraíba.O irmão, Valmir Limeira de Sousa, e a sobrinha, Larissa de Oliveira Neves também foram aprovados no cargo de auditor fiscal do trabalho. Esta última, mesmo morando em São Paulo, decidiu fazer a prova do concurso em Patos, na Paraíba. Já Valmir, apesar de aprovado, não foi chamado para o curso de formação devido à nota obtida na prova discursiva.Antônio Limeira das Neves, irmão de Wanderlan e pai de Larissa, é suspeito de auxiliar a filha, recebendo o gabarito e repassando-o para ela no dia da prova do CNU 2024.Outras pessoas, que não pertencem à família, também são citadas no inquérito, como membros da organização criminosa. São elas:Thyago José Andrade é apontado como um dos líderes da organização criminosa. As investigações indicam que o suspeito controlava o setor financeiro e operacional do grupo, que possuía um “staff” de especialistas, responsáveis por falsificação de documentos, suborno de vigilantes e substituição de candidatos nas provas. A companheira dele também é alvo de investigação.Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior é policial militar no Rio Grande do Norte e dono de uma clínica odontológica em Patos, suspeita de ser usada para lavagem de dinheiro. Ele é apontado como um dos intermediários da organização, oferecendo gabaritos e buscando novos “clientes”.Luiz Paulo Silva dos Santos já foi preso suspeito de fraudar mais de 67 concursos e é servidor público. Ele também foi aprovado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, com gabarito semelhante ao grupo, mas não compareceu ao curso de formação.Quais as principais evidências do crime?Pessoas da mesma família foram aprovadas para o cargo de maior remuneração do CNU 2024, com gabaritos semelhantes, inclusive nos erros.. Tânia Rego/Agência BrasilAs investigações contra o grupo começaram após uma denúncia anônima recebida pela unidade de inteligência da Polícia Federal, que apontava a existência de uma organização criminosa em Patos especializada em fraudar concursos públicos.A Polícia Federal solicitou à banca organizadora do Concurso Nacional Unificado (CNU) os gabaritos das pessoas supostamente envolvidas no esquema e uma análise revelou um padrão claro entre os investigados.Quatro candidatos apresentaram gabaritos idênticos, incluindo os mesmos erros, mesmo quando realizavam provas com versões diferentes, sendo eles: Wanderlan, Valmir, Larissa e Ariosvaldo.A coincidência foi considerada praticamente impossível. O laudo técnico apontou que a probabilidade de que tal padrão ocorra por acaso equivale à chance de ganhar o prêmio máximo da Mega-Sena aproximadamente 18 a 19 vezes consecutivas.A banca também identificou candidatos de outros estados com gabaritos idênticos, o que permitiu à Polícia Federal ampliar o alcance das investigações.Até o momento do deferimento das medidas cautelares, nenhum dos principais investigados por fraude CNU havia tomado posse. A PF e o Ministério Público Federal atuaram preventivamente, solicitando prisão preventiva, busca e apreensão e impedimento de posse ou afastamento cautelar.Como o grupo realizava as fraudes em concursos?A Polícia Federal recuperou mensagens trocadas entre os envolvidos que detalham o funcionamento do esquema, incluindo o repasse de respostas e o pagamento pelo serviço criminoso.Antônio Neves encaminha a filha, Larissa Neves, um áduio explicando o valor cobrado pelos gabaritos, R$ 500 mil, e descreve como o esquema envolvia corromper vigilantes e desativar câmeras de segurança. No dia da prova, por volta das 7h, ele começou a enviar os gabaritos e até a redação que a filha deveria escrever. As provas estavam marcadas para as 9h.Segundo as investigações, os líderes do esquema tinham acesso antecipado aos cadernos de questões. As respostas eram repassadas aos candidatos por meio de diferentes métodos, como ponto eletrônico, celular ou mensagens codificadas. Também havia a possibilidade de contratar terceiros para realizar a prova no lugar do candidato.As apurações indicam que o preço cobrado pelos gabaritos variava entre R$ 80 mil e R$ 500 mil, dependendo do concurso e grau de dificuldade. Os suspeitos aceitavam pagamentos em dinheiro vivo, ouro, veículos e até procedimentos odontológicos como forma de quitar a propina, segundo a investigação.A investigação identificou a atuação do grupo em dezenas de concursos públicos entre 2015 e 2025. Além do Concurso Nacional Unificado (CNU), há indícios de atuação do grupo em processos seletivos da Caixa Econômica Federal, da Polícia Federal, da OAB, e das polícias civis de Pernambuco e Alagoas.Com Jornal da ParaíbaO post Entenda esquema de fraudes em concursos públicos que envolve família de Patos, no Sertão da Paraíba apareceu primeiro em Vitrine do Cariri.