Como o supercomputador espacial da China pode mudar tudo na IA

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A China caminha rumo a uma nova fronteira tecnológica. O país tem em órbita os satélites iniciais de uma constelação que deve formar o primeiro supercomputador de inteligência artificial (IA) em órbita. Batizado de Three-Body Computing Constellation, o projeto tem como objetivo processar dados num data center diretamente no espaço, em vez de depender do envio massivo de informações brutas para a Terra.A proposta atende a duas pressões crescentes: 1) o impacto ambiental dos data centers terrestres, que consomem cada vez mais energia e água; e 2) a necessidade de lidar com o volume abissal de dados gerados por satélites.O supercomputador espacial de IA da ChinaEm maio de 2025, Pequim começou a construir a Three-Body Computing Constellation, rede de satélites projetada para funcionar como o primeiro data center de IA no espaço. A constelação deve processar até mil petaoperações por segundo, o que permitiria análises complexas em órbita para transmitir apenas os resultados mais relevantes à Terra. É um experimento sem precedentes. Até então, propostas semelhantes existiam apenas em estudos e projeções de empresas e governos. Agora, a China se tornou o primeiro país a levar a ideia para a prática em escala operacional.Por que levar data centers para o espaçoData centers são a espinha dorsal da IA. E também um dos setores que mais pressionam os recursos naturais da Terra. Essas instalações gigantes consomem enormes quantidades de energia elétrica para manter os servidores funcionando. E milhões de litros de água para resfriar suas máquinas. Com a explosão no uso de modelos de linguagem e sistemas de IA, como o ChatGPT da OpenAI e o Gemini do Google, essa demanda disparou, o que levantou alertas sobre a sustentabilidade desse modelo. O desafio é global: à medida que a IA avança, cresce também o custo ambiental de mantê-la funcionando.Plano da China é construir rede de satélites para funcionar como o primeiro data center de IA no espaço (Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT/Olhar Digital)No espaço, parte desses problemas poderia ser contornada. Para começar, a energia solar em órbita é praticamente ilimitada – disponível 24 horas por dia, sem interrupções por clima ou estações do ano. Já o vácuo frio do espaço funciona como um sistema natural de refrigeração, o que dispensa o gasto intensivo de água e diminui a pegada de carbono. Além disso, levar data centers para fora da Terra abre a possibilidade de processar informações diretamente onde elas são geradas.Isso significa, por exemplo, que satélites de vigilância ou observação poderiam rodar algoritmos de reconhecimento de imagem ou de detecção de mudanças ainda em órbita, enviando apenas os alertas e análises prontas para as estações em solo. Em vez de baixar milhões de imagens brutas, bastaria transmitir o essencial. Isso economizaria largura de banda e aceleraria tomadas de decisão. É essa lógica que sustenta o projeto chinês: transformar o espaço não apenas em fonte de dados, mas também em local de processamento e inteligência.Vantagens e desafiosProcessar dados em órbita oferece ganhos claros. Do ponto de vista ambiental, reduzir a dependência de energia e água em solo pode aliviar pressões sobre regiões que já sofrem com escassez hídrica e sobrecarga das redes elétricas, por exemplo. No campo tecnológico, a promessa é de mais eficiência. Ao transmitir apenas resultados processados, e não todo o conjunto bruto de informações, o tempo entre a coleta e a análise diminui. Isso pode fazer diferença em aplicações estratégicas, como previsão meteorológica, monitoramento ambiental e segurança nacional.No entanto, as vantagens vêm acompanhadas de barreiras consideráveis. Para começar: projetar e operar um supercomputador no espaço é tecnicamente complexo. Componentes precisam resistir à radiação, ao vácuo e às variações extremas de temperatura. A constelação chinesa foi pensada para lidar com dados espaciais, mas ampliar modelo para aplicações equivalentes às de data centers terrestres exigiria estruturas gigantescas (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)Além disso, qualquer reparo ou atualização depende de missões de alto custo e risco. Há também o fator financeiro: lançar e manter infraestrutura pesada em órbita custa bilhões de dólares. E ainda não está claro se o benefício compensa a despesa.Outro obstáculo é a escalabilidade. A constelação chinesa foi pensada para lidar com dados espaciais, mas ampliar esse modelo para aplicações equivalentes às de data centers terrestres – que hoje sustentam sistemas de GPS, telecomunicações e plataformas de IA em larga escala – exigiria estruturas gigantescas de energia e processamento. Resumindo: especialistas apontam que ainda não há tecnologia madura para montar e manter instalações desse porte fora da Terra.Leia mais:Enquanto o uso da IA aumenta, cresce também a desconfiança com seu avançoO que é um data center?Quais são os cinco maiores data centers do mundo?O que está em jogoO projeto chinês marca a primeira tentativa concreta de testar se a órbita pode ser uma alternativa real para data centers que sustentam a IA. Ao mesmo tempo em que abre caminho para reduzir impactos ambientais e acelerar o processamento de informações, também expõe os limites técnicos e financeiros de uma ideia que até pouco tempo soava como ficção científica. Enquanto Jeff Bezos, União Europeia e empresas nos Estados Unidos discutem planos semelhantes, é a China que já coloca satélites no espaço e transforma o conceito em experimento. Resta saber se esse pioneirismo vai inaugurar uma era de infraestrutura digital ou ficar restrito a um teste ambicioso. E, sobretudo, arriscado.(Essa matéria usou informações do site IFLScience.)O post Como o supercomputador espacial da China pode mudar tudo na IA apareceu primeiro em Olhar Digital.