Após afirmar em entrevista recente que “não confia” na Justiça e que concederia indulto a Jair Bolsonaro “no primeiro dia” como presidente da República, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em novo recuo, fez elogios ao processo eleitoral ao ser homenageado nesta segunda-feira (6) no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).– É preciso fazer uma reflexão sobre o trabalho da justiça eleitoral: um trabalho amoroso, profissional, de planejamento meticuloso, que envolve treinamento e logística para levar as urnas a cada canto do nosso estado e garantir que em todos os locais a eleição ocorra com tranquilidade — declarou Tarcísio, durante evento na sede do tribunal, na noite desta segunda-feira (6).Leia tambémTarcísio pede desculpas por fala sobre Coca-Cola em meio à crise do metanolEm vídeo divulgado nas redes sociais, o governador lista as ações que seu governo vem tomando para lidar com a crise antes de pedir desculpasA fala, que destoa do seu principal padrinho político, é mais um exemplo de um longo histórico de idas e vindas em declarações do governador paulista, proferidas desde antes do início do mandato.Em dezembro de 2022, poucos dias antes de assumir o Palácio dos Bandeirantes, o governador recebeu uma avalanche de críticas ao dizer em uma entrevista que nunca foi um “bolsonarista raiz” e que, apesar de comungar da agenda econômica liberal e ser contra o aborto e a descriminalização das drogas, não tinha a intenção de “entrar em guerra ideológica e cultural”. O político teve de ir às redes sociais para reforçar a “gratidão” ao ex-presidente.Na prática, Tarcísio realmente escolheu a dedo as suas pautas. O governador não demonstrou interesse em negacionismo climático, postura antivacina e, na maior parte do tempo, ataques ao Judiciário, como fez Bolsonaro quando ocupava a presidência da República. Não deixou, porém, de fazer um afago ao seu eleitorado mais radical ao implementar programa de escolas cívico-militares e ao defender a inocência de Bolsonaro em atos públicos.Na área da segurança pública, Tarcísio recuou da uma postura reticente ao uso de câmeras corporais por agentes da Polícia Militar e admitiu problemas na corporação ao ser pressionado pela crise na segurança no final do ano passado, com diversos flagrantes em vídeo de policiais cometendo abuso de autoridade. Fez isso, porém, preservando a estrutura da secretaria, em especial o chefe bolsonarista Guilherme Derrite (Progressistas).Este ano, o perfil equilibrista deu as caras novamente com a posse do presidente americano, Donald Trump. Tarcísio vestiu o boné vermelho de campanha com o slogan “Make America Great Again”. A foto trouxe dores de cabeça meses depois, quando Trump anunciou tarifaço econômico sob a justificativa de “perseguição política” contra Bolsonaro. O governador primeiro culpou o PT, mas depois recuou e passou a atuar em favor dos interesses de empresários paulistas.Quanto ao STF, Tarcísio procurou cultivar pontes com Alexandre de Moraes e outros ministros durante a gestão, com apoio do ex-presidente Michel Temer, outra figura controversa aos olhos do bolsonarismo que orbita o seu governo. O pastor evangélico Silas Malafaia, um dos críticos mais odiosos ao STF, chegou a dizer que essa postura o deixava “com pé atrás” sobre o aliado de Bolsonaro. A subida de tom do governador na Paulista, desse modo, causou surpresa.Tarcísio equilibristaSINAIS CONFLITANTES: Apesar de sempre negar publicamente a intenção de concorrer a presidente em 2026, o governador esteve aberto à ideia nos bastidores e eventos privados. A promessa de indulto, a peregrinação em Brasília e o ato do dia 7 reforçaram a posição de presidenciável. A reviravolta durou menos de um mês, e agora Tarcísio passa o recado em todas as frentes de que deseja mais quatro anos de mandato em São Paulo.SER OU NÃO SER: “Eu nunca fui bolsonarista raiz”, declarou em entrevista pouco antes de assumir o mandato, afastando-se de uma “guerra ideológica e cultural” enquanto governador de São Paulo. A fala abriu uma crise na base de apoio que precisou ser revertida nas redes e fora dela. “Eu sou bolsonarista e vou continuar sendo”, afirmou algumas semanas depois.TÔ NEM AÍ: Tarcísio bancou o perfil linha dura na segurança pública e chegou a dizer, em março de 2024, que não estava “nem aí” para denúncias referentes aos altos índices de letalidade policial em organismos internacionais. A aliados, um mês depois, reconheceu o erro. Ele também sustentou que “estava completamente errado” ao questionar a utilidade das câmeras nos coletes da PM, mas bancou a permanência do secretário Derrite e da cúpula das polícias mesmo com a crise de letalidade.LULA E BOLSONARO: O governador apareceu sorridente ao lado do presidente Lula (PT), em fevereiro de 2025, em evento para anunciar o edital da construção do túnel entre Santos e Guarujá. Dois meses depois, destacou uma parceria com o governo federal para construir 30 mil moradias a juros subsidiados com financiamento da Caixa. Ao mesmo tempo, ampliou a radicalização em discursos na Paulista e em Copacabana ao lado de Bolsonaro.DÚVIDA SUPREMA: Tarcísio teve postura ambígua sobre o STF. No dia 7 de Setembro, em meio ao julgamento de Bolsonaro, subiu o tom em discurso na Paulista ao dizer que “ninguém aguenta mais a tirania” de Moraes. O governador vinha tendo conversas com este e outros ministros, sob mediação de Michel Temer, e chegou a levar a opinião dele em consideração ao escolher o chefe do Ministério Público de São Paulo.TRUMP 2.0: Tarcísio surfa na popularidade do presidente americano, Donald Trump, e aparece no dia da posse colocando o boné do Maga. O tiro sai pela culatra meses depois, com o tarifaço econômico que pressiona o agronegócio e a indústria do país. Após desconforto por fala pró-Trump, governador diz que tarifa de presidente americano terá impacto negativo e defende negociação bilateral.The post ‘Idas e vindas’ de Tarcísio vão da candidatura em 2026 ao uso de câmeras policiais appeared first on InfoMoney.