Seis razões para a COP30 em Belém dar muito certo — ou muito errado

Wait 5 sec.

(Bloomberg) — Quando o Brasil foi nomeado anfitrião da cúpula climática COP30 há dois anos, isso foi visto como a celebração perfeita do 10º aniversário do Acordo de Paris, onde as nações se comprometeram a manter as mudanças climáticas dentro de limites seguros.Daqui a um mês, quase 200 países se reunirão às portas da floresta amazônica para uma nova rodada de negociações climáticas patrocinadas pelas Nações Unidas. Mas ainda há intensa discussão sobre qual deve ser o principal resultado.Diferentemente das duas edições anteriores, a COP30 (oficialmente, a 30ª Conferência das Partes) não tem um grande resultado de destaque. Na COP29, no Azerbaijão, no ano passado, os países tiveram que concordar com uma nova meta global de financiamento climático. No ano anterior, os negociadores fizeram um balanço do progresso climático e concordaram pela primeira vez em fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis.Leia também: COP30: O Brasil convidou o mundo para a Amazônia – e evento virou dor de cabeçaO Brasil disse que quer passar da negociação para a implementação das metas. No entanto, isso está longe de ser simples em um momento em que os EUA estão se retirando do Acordo de Paris, há guerras na Ucrânia e Gaza, e o mundo está menos focado na ação climática.O sucesso ou fracasso será o legado climático definidor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Aqui estão alguns dos resultados que os negociadores esperam na cidade brasileira de Belém no próximo mês:NDC 3.0Provavelmente o maior resultado da COP30 acontece antes mesmo da cúpula. Os países foram obrigados a apresentar sua terceira rodada de compromissos climáticos sob o acordo de Paris — conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla, em inglês) — até o final do mês passado. Esses compromissos detalham quanto planejam reduzir as emissões até 2035 e as políticas que usarão para isso.Mais da metade das partes do Acordo de Paris, incluindo a China, já enviaram suas novas NDCs. No entanto, muitos grandes emissores ainda não o fizeram. A União Europeia, a região mais ambiciosa em clima, perdeu o prazo, assim como a Índia. Os EUA enviaram sua promessa cedo, sob a administração Biden, mas o presidente Donald Trump cancelou muitas das políticas necessárias para cumpri-la.Até o final deste mês, a ONU fará a soma de todas essas promessas de corte de emissões e compilará um relatório síntese mostrando o quão longe o mundo está da meta de Paris de limitar o aquecimento a 1,5°C. Poucos esperam que a projeção de aquecimento global da ONU fique muito abaixo de 2,5°C, o que significa que os países ainda estão muito fora do caminho.Atenção à lacunaConverse com diplomatas veteranos do clima e eles dirão que esta cúpula mais se assemelha à COP26 em Glasgow, Reino Unido — a última vez que os países foram obrigados a apresentar compromissos climáticos, após um atraso relacionado à pandemia. Essa COP também não teve um resultado principal mandatado, mas ainda assim entregou um compromisso histórico de “reduzir” a queima de carvão sem controle, junto com uma série de acordos paralelos que vão desde o combate ao desmatamento até o lançamento de uma aliança de bancos comprometidos com o clima.Como o Brasil responderá à síntese das NDCs deste ano será o principal termômetro do sucesso. Países ambiciosos, como os da UE, querem abordar diretamente o fechamento da lacuna de temperatura para 1,5°C e solidificar ainda mais compromissos existentes, como a transição para longe dos combustíveis fósseis. Mas bloqueadores tradicionais de mais ação climática, como a Arábia Saudita, podem ver o atual ambiente geopolítico como uma oportunidade para recuar em algumas dessas promessas.“O que falta é vontade política,” disse Tina Stege, enviada climática das Ilhas Marshall. “Precisamos que os compromissos de mitigação sejam entregues.”Após meses de resistência, o Brasil começa a aceitar a ideia de negociar uma chamada decisão de capa para abordar a lacuna de temperatura, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Mas ainda há pouca clareza sobre o que será incluído.Leia também: Países reavaliam planos para a COP30 no Brasil diante da disparada dos custosRoteiro financeiroNo ano passado, países desenvolvidos prometeram entregar US$ 300 bilhões em financiamento climático para nações em desenvolvimento e pequenos estados insulares até 2035. Também concordaram em ampliar isso em mais um trilhão de dólares por meio de fontes privadas, mas deixaram vago como isso seria alcançado.Algumas dessas respostas devem ser reveladas na COP30. Brasil e a presidência da COP do Azerbaijão no ano passado estão trabalhando em um roteiro “Baku a Belém” que ativistas esperam que forneça propostas concretas para mobilizar as quantias significativas de dinheiro necessárias para ajudar países pobres a fazer a transição para energia limpa e proteger suas economias das mudanças climáticas.Algumas opções possíveis que foram sugeridas incluem os chamados impostos de solidariedade sobre negociações de ações e títulos, emissões de combustíveis fósseis e passagens aéreas em primeira classe. No entanto, muitos desses pontos precisariam ser acordados fora do processo da COP. Bancos multilaterais são vistos como tendo papel fundamental, mas muitos agora têm que lidar com uma administração Trump hostil às mudanças climáticas.O roteiro também não será negociado, então não está claro até onde pode ir. O que é certo é que os países em desenvolvimento buscarão mais do que palavras vazias.Leia também: Empresa cobra R$ 2,1 mi para hospedar aviões na COP30 e governo pressiona por reduçãoMeta de adaptaçãoO ritmo lento de progresso na redução das emissões faz com que mais atenção seja dada a como países, empresas e comunidades vão se adaptar às mudanças climáticas. Para aqueles na linha de frente dos eventos climáticos extremos, a adaptação será o foco principal da cúpula deste ano.É improvável que os negociadores concordem com uma nova meta financeira dedicada à adaptação, mas precisarão reduzir uma lista de indicadores que acompanham a resiliência às mudanças climáticas de 400 para cerca de 100 até o final da COP30.Acordos paralelosAs últimas cúpulas da COP trouxeram inúmeras declarações e iniciativas chamativas. Críticos dizem que elas servem como uma distração útil do lento progresso nas salas de negociação, e muitas vezes são ignoradas assim que todos vão embora. Mas também podem trazer novas ideias inovadoras e mobilizar coalizões de países para trabalhar juntos em questões como ampliar a energia renovável ou melhorar técnicas agrícolas.Este ano provavelmente não será diferente. Uma das propostas principais é o Tropical Forests Forever Facility, de US$ 125 bilhões, que usará os mercados de capitais para pagar aos países para manter suas florestas em pé. Outro acordo paralelo importante a ser observado é uma coalizão global sobre mercados de carbono. Isso poderia reunir países diversos para alinhar como colocam preço no carbono.O Brasil também fez do princípio da “Transição Justa” um pilar chave da COP30, para garantir que países e comunidades pobres não fiquem para trás durante a mudança para uma economia limpa.Mantendo o multilateralismo vivoEm última análise, um dos principais indicadores de sucesso da COP30 pode ser provar que o show diplomático ainda está em andamento após os EUA, a maior economia do mundo e maior emissor histórico de CO2, abandonar o processo.Harjeet Singh, participante antigo da COP e diretor fundador da Satat Sampada Climate Foundation, disse que um “farol de esperança” surgiu no início deste ano, quando a Corte Internacional de Justiça afirmou que os países têm a responsabilidade de fazer o que puderem para limitar o aquecimento global ao limite crítico de 1,5°C.Mesmo assim, ele disse, a geopolítica lança uma “sombra ominosa” sobre as perspectivas de um multilateralismo significativo. “Será uma luta longa e árdua,” disse Singh, “para proteger nosso planeta e seu povo contra as forças da inércia e do interesse próprio.”© 2025 Bloomberg L.P.The post Seis razões para a COP30 em Belém dar muito certo — ou muito errado appeared first on InfoMoney.