Marte: tornados de poeira inesperados surpreendem cientistas

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Pequenos tornados de poeira varrem as planícies enferrujadas de Marte muito mais rápido do que os cientistas imaginavam, segundo um novo estudo. Pesquisadores rastrearam 1.039 redemoinhos de poeira no planeta vermelho, capturados ao longo de duas décadas de imagens feitas por orbitadores da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).Câmera do Sistema de Imagens de Superfície Coloridas e Estéreo a bordo do Orbitador de Gás Traço ExoMars da ESA capturou esses três redemoinhos de poeira percorrendo a superfície marciana em 8 de novembro de 2021 (Imagem: ESA/TGO/CaSSIS)Marte: o que os resultados dizem?Os resultados, publicados nesta quarta-feira (8) na revista Science Advances, mostram que esses turbilhões podem atingir velocidades de até 158 km/h, muito acima das medições anteriores feitas por rovers e modelos climáticos;As conclusões podem ajudar cientistas a planejar futuras missões a Marte, considerando o impacto da poeira que cobre painéis solares de rovers e se espalha pelos locais de pouso durante a descida;“Nossas medições podem ajudar os cientistas a compreender as condições de vento em um local de pouso antes da descida, o que permitiria estimar quanto de poeira pode se depositar nos painéis solares de um rover — e, portanto, com que frequência ele deveria se autolimpar”, explicou o líder do estudo, Valentin Bickel, da Universidade de Berna (Suíça).Para construir o catálogo, a equipe de Bickel usou inteligência artificial (IA) para examinar os arquivos das espaçonaves Mars Express e ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO), ambas da ESA.Os pesquisadores analisaram como cada redemoinho se deslocava entre quadros consecutivos, calculando sua velocidade e direção. “Os redemoinhos de poeira tornam o vento normalmente invisível visível”, disse Bickel. “Ao medir sua velocidade e direção de deslocamento, começamos a mapear o vento em toda a superfície de Marte.”Mapa mostrando 1.039 redemoinhos de poeira detectados em Marte usando 20 anos de dados da Mars Express e da ExoMars Trace Gas Orbiter da ESA (Imagem: dados do ExoMars TGO: ESA/TGO/CaSSIS; dados do Mars Express: ESA/DLR/FU Berlin; fundo: mosaico colorido Viking da NASA)“Isso era impossível antes, porque não tínhamos dados suficientes para fazer esse tipo de medição em escala global”, acrescentou o pesquisador.Embora nenhuma das duas espaçonaves tenha sido projetada para medir o vento, os cientistas exploraram uma peculiaridade nas câmeras dos orbitadores.Ao combinar várias imagens ou canais de cor para criar uma única fotografia, pequenos deslocamentos de cor — causados por atrasos de alguns segundos entre os canais — costumam aparecer e são geralmente considerados ruídos.Mas, como cada canal é registrado com alguns segundos de diferença, qualquer coisa em movimento, como nuvens ou redemoinhos, deixa um leve deslocamento mensurável. A análise desses deslocamentos permitiu calcular a distância e a velocidade de cada turbilhão. Dessa forma, a equipe “transformou o ruído das imagens em medições científicas valiosas”, afirmou Bickel.Leia mais:Saiba como explorar Marte através da plataforma Google MarsNovo tipo de robô pode ajudar a explorar Marte de um jeito mais baratoVoe sobre Marte nesse novo vídeo do planeta em alta definiçãoOutras descobertasO novo catálogo também mostra que esses redemoinhos marcianos costumam surgir nas planícies cobertas de poeira do planeta, como a Amazonis Planitia.Eles aparecem com mais frequência durante o dia, na primavera e no verão, duram apenas alguns minutos e atingem o pico entre o fim da manhã e o início da tarde — um padrão semelhante ao observado na Terra. “Agora que sabemos onde os redemoinhos costumam ocorrer, podemos direcionar mais imagens para esses locais e horários exatos”, afirmou Bickel.Diferentemente da Terra, onde a chuva remove a poeira do ar, em Marte ela pode permanecer suspensa por meses. Entender como e quando essa poeira é levantada da superfície é fundamental para prever o clima e as condições meteorológicas do planeta a longo prazo.Entender como e quando essa poeira é levantada da superfície é fundamental para prever o clima e as condições meteorológicas do planeta a longo prazo (Imagem: Methiran RG/Shutterstock)Os novos dados, coletados em diversas regiões de Marte de uma forma que rovers e sondas na superfície não poderiam alcançar, podem ajudar a aprimorar modelos atmosféricos e melhorar previsões futuras.“A poeira afeta tudo em Marte — desde o clima local até a qualidade das imagens que conseguimos capturar. É difícil exagerar sua importância”, disse Colin Wilson, cientista de projetos da ESA para as missões Mars Express e TGO.O post Marte: tornados de poeira inesperados surpreendem cientistas apareceu primeiro em Olhar Digital.