Silent Hill f talvez seja um dos jogos mais interessantes que experimentei este ano. A ambientação inspirada no terror japonês, lembrando obras como O Grito e O Chamado, me trouxe muitas memórias da adolescência assistindo a filmes de horror asiático. O design dos inimigos e dos cenários sugere uma leitura semiótica sobre a posição da mulher no Japão dos anos 70 e o peso das tradições conservadoras às quais eram submetidas. Isso fica evidente no design das criaturas, que achei fantástico. A trilha sonora também impressiona: combina inocência, dor e momentos intensos com guturais de arrepiar. Visualmente, o jogo também é deslumbrante. Mas, apesar do entusiasmo pelo gênero e pela atmosfera criada, o objetivo aqui é outro: discutir a acessibilidade de Silent Hill f. Afinal, será que o jogo é inclusivo para jogadores PCD?Silent Hill F já está disponível no PC e consoles. Antes de seguir, vale destacar: a acessibilidade varia de acordo com cada pessoa. O que apresento aqui são minhas impressões como jogador com baixa visão, destacando recursos que podem ou não tornar a experiência mais inclusiva. Esta análise foi feita a partir de uma chave de PS5 fornecida pela Konami.Interface e legendasToda experiência interativa precisa oferecer uma interface acessível. Menus claros, leitura de tela, opções de fonte e contraste, tudo isso faz diferença. Infelizmente, Silent Hill oferece pouco nesse sentido.Não há ferramentas para aumentar a fonte dos menus nem suporte a leitores de tela. O que temos é o básico: filtros para daltonismo (deuteranopia, protanopia e tritanopia). Fora isso, nada. Não há como alterar o tamanho da HUD, ícones de interação ou contraste. O resultado é uma interface minimalista pensada para a imersão cinematográfica, mas que cria barreiras para quem precisa de recursos visuais de apoio.As legendas são o ponto mais positivo aqui: permitem ajustar tamanho, fonte, cor, exibir o nome do interlocutor e até aplicar fundo para destacar o texto. Porém, faltam legendas descritivas de áudio fundamentais para jogadores surdos ou com deficiência auditiva, já que descrevem sons do ambiente e aumentam a imersão.DificuldadeEmbora modos de dificuldade não sejam considerados recursos de acessibilidade, muitas vezes eles acabam sendo a única saída para jogadores PCD. No entanto, Silent Hill f oferece apenas duas variações: uma voltada para ação e outra para quebra-cabeças.Isso significa que não há opções para quem deseja apenas acompanhar a narrativa, nem desafios mais intensos além do que já existe. O jogo restringe a experiência a escolhas pré-definidas e ignora a diversidade de perfis de jogadores.ControlesA personalização de controles é um dos pontos mais básicos para acessibilidade motora. Aqui, temos apenas três predefinições (A, B e C) e não há remapeamento completo de botões no PS5.Além disso, faltam opções como ajuste de zona morta nos analógicos, que faz diferença para jogadores com limitações motoras. As configurações disponíveis se limitam a ajustes padrão de sensibilidade, inversão de eixo, correr com clique ou pressão contínua e vibração do controle. O DualSense até contribui para a imersão, mas fica a sensação de que o jogo oferece menos do que o mercado já considera o mínimo.GameplayNo ciclo básico de jogabilidade, exploração, quebra-cabeças, set pieces e combate quase não há ferramentas de acessibilidade.O combate até permite algumas “gambiarras” para quem tem baixa visão: os inimigos fazem barulho constante e, ao ativar a concentração da protagonista, um som indica quando é possível executar um parry. Isso ajuda bastante, já que o combate lembra jogos soulslike.No entanto, faltam auxílios de navegação, e muitos quebra-cabeças são puramente visuais, o que cria barreiras difíceis de superar. Em vários momentos precisei recorrer a tutoriais na internet para avançar, e ainda assim não consegui terminar o jogo.Vale a pena?Sendo direto: se você é fã da franquia, recomendo partir para o Remake de Silent Hill 2, que já analisamos aqui no Voxel com foco em acessibilidade. Mesmo que não seja perfeito, ainda oferece mais opções do que Silent Hill f. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Yago Gonçalves (@yagogoncallves)A única exceção são os filtros para daltonismo, que estão bem implementados. Fora isso, jogadores PCD encontrarão inúmeras barreiras. Minha experiência pessoal foi de frustração: adorei a proposta da história e a atmosfera, mas as limitações de acessibilidade me fizeram desistir da jogatina. Em vez de acolhido, senti que não havia espaço para mim como consumidor.No fim, Silent Hill f é mais uma decepção para o público PCD em 2025. Para mais análises de acessibilidade em games e tecnologia, continue acompanhando o Voxel e o TecMundo.