Nova Copa do Brasil gera debates sobre identidade, elitização e impacto comercial

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A Confederação Brasileira de Futebol anunciou uma mudança histórica no calendário do futebol nacional. A partir de 2026, a Copa do Brasil passará a ser decidida em final única, medida que segue a tendência internacional de reduzir datas e diminuir o desgaste dos clubes ao longo da temporada. A alteração atende a uma demanda antiga das equipes, que reclamavam da maratona de jogos e da dificuldade de equilibrar competições nacionais e internacionais em um calendário já considerado extenuante.O novo modelo aproxima a Copa do Brasil da principal competição de clubes do planeta, a Liga dos Campeões da Europa, cuja final em jogo único é realizada há décadas e se tornou um dos maiores espetáculos esportivos do mundo. Mais recentemente, a Libertadores também adotou o mesmo formato, ampliando ainda mais a comparação entre os dois continentes.Leia Mais: Cerveja em estádios de futebol pode aumentar em 30% faturamento dos clubesNo entanto, a decisão da CBF não passou sem críticas. O debate mais imediato diz respeito à identidade da competição. Tradicionalmente, a Copa do Brasil se destacou justamente pelo caráter democrático, com partidas de ida e volta que levavam emoção para diferentes regiões do país e permitiam ao torcedor de ambos os clubes vivenciar o espetáculo de perto. Para críticos, importar o modelo europeu pode significar uma perda do DNA nacional e a descaracterização de um torneio que sempre se apresentou como mais acessível.Outro ponto levantado é a questão da elitização. Com a final em jogo único, o acesso ao estádio se torna mais restrito. O torcedor, que antes podia contar com ao menos um jogo decisivo em sua cidade, agora precisa viajar até o local escolhido. Essa mudança tende a encarecer a experiência, já que a compra de ingressos e passagens aéreas precisa ser feita com antecedência para evitar preços exorbitantes. Além disso, a demanda elevada pela final única tende a elevar o valor dos bilhetes, tornando o evento mais atrativo para quem tem maior poder aquisitivo e afastando parte do público popular que tradicionalmente marca presença nas arquibancadas da Copa do Brasil.Há também limitações práticas relacionadas aos estádios que poderiam sediar a decisão. Para garantir o equilíbrio entre os dois finalistas, o modelo exige arenas que permitam divisão igualitária das torcidas, o chamado meio a meio. Isso inviabiliza que estádios como Allianz Parque, Neo Química Arena, São Januário, Nilton Santos e Arena MRV recebam a partida, já que não possuem estrutura ou logística adequada para esse tipo de operação. Além disso, cidades como São Paulo e Belo Horizonte enfrentam restrições para a realização de clássicos locais em caráter decisivo, o que reduz ainda mais o leque de opções.Leia Mais: Lista dos times mais valiosos do mundo tem domínio inglês e só três brasileirosLado positivoApesar das críticas, há quem veja vantagens comerciais na adoção da final única. Para a cidade escolhida como sede, o impacto econômico é imediato. A hotelaria, o turismo, os bares, restaurantes e o comércio em geral tendem a lucrar com a movimentação de torcedores vindos de diversas regiões do país. A promoção da partida também ganha em dimensão, transformando o evento em um espetáculo único, com maior potencial de atrair patrocinadores, mídia e novos consumidores. Foi o que aconteceu com a Libertadores, que registrou aumento de receitas após a mudança de formato, e é o que acontece há anos com a Liga dos Campeões.Outro efeito possível é a revitalização de arenas pouco utilizadas no calendário nacional. O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, aparece como exemplo. Palco de grandes jogos da Copa do Mundo de 2014, o local tem ficado em segundo plano nos últimos anos. Transformá-lo em sede fixa da final da Copa do Brasil, a exemplo do que acontece com Wembley, em Londres, poderia recolocá-lo no mapa do futebol brasileiro e dar novo significado à sua existência, além de facilitar a logística ao escolher um ponto central do país.O futuro da Copa do Brasil, portanto, se desenha entre dois polos. De um lado, o resgate do prestígio internacional e a possibilidade de transformar a decisão em um evento de escala global, com maior retorno financeiro e projeção midiática. Do outro, o risco de afastar o torcedor tradicional e de abrir mão de uma das marcas históricas do torneio, que sempre foi celebrado pela proximidade entre clubes de diferentes regiões e a possibilidade de finais memoráveis em estádios distintos.Com a implementação prevista já para 2026, a CBF terá o desafio de equilibrar os ganhos comerciais e logísticos com a preservação da identidade da Copa do Brasil. Até lá, o debate deve se intensificar, envolvendo dirigentes, jogadores, patrocinadores e principalmente os torcedores, que terão de se adaptar a uma nova era da competição mais democrática do país.The post Nova Copa do Brasil gera debates sobre identidade, elitização e impacto comercial appeared first on InfoMoney.