De emissões de dívida a ações: Entenda as muitas portas que se abrem para PMEs que decidem abrir capital no Brasil

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Se a “pergunta de US$1 milhão” do meu último artigo fez você refletir sobre o valor real da sua PME, a etapa seguinte é entender a ferramenta mais poderosa para multiplicá-lo: o mercado de capitais. Mas antes de explorar esse caminho, precisamos relembrar alguns conceitos importantes para você empresário.Quantas vezes você já ouviu que listar uma empresa é sinônimo de realizar um IPO (Oferta Pública Inicial de Ações)? Em conversas sobre o tema, percebo que essa definição é quase que automática na cabeça das pessoas, mas é importante esclarecer que a motivação para abrir capital não se limita ao objetivo de vender ações no mercado.Para começar, o que significa “listar” uma empresa?Na prática, a “listagem” ou “abertura de capital” de uma empresa permite que ela possa realizar captações de recursos através de diferentes modalidades e instrumentos disponíveis no mercado de capitais, inclusive no segmento de dívida, que é gigantesco no Brasil e tem crescido cada vez mais nos últimos anos, enquanto a janela para ofertas de ações (IPOs) se mantém fechada desde setembro de 2021.De um jeito mais técnico, ser uma empresa de capital aberto significa ter registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e, com isso, a possibilidade de emitir publicamente ativos, considerados valores mobiliários, como ações ou dívida (Renda Fixa), como Debêntures ou Notas Comerciais, e admiti-los à negociação em um mercado regulado.Para tanto, as empresas precisam necessariamente atender pré-requisitos específicos e assumir obrigações de boas práticas de governança e divulgação de informações ao mercado com transparência, em troca, elas conquistam o direito de acessar investidores de forma ampla, organizada e segura. Por isso, a listagem representa um grande marco na trajetória das companhias, principalmente para PMEs que estão buscando financiar seu crescimento, sendo um passo que indica uma certa maturidade institucional e proporciona maior visibilidade dessas empresas no mercado, abrindo portas, oportunidades e conexões para posicioná-las em um novo patamar de competitividade.O outro lado da listagem: como as PMEs podem se financiar pelo mercado de capitais por meio de emissões de dívida?Com o Regime FÁCIL (RCVM 232) entrando em vigor em janeiro de 2026, as PMEs poderão finalmente acessar o mercado de capitais, explorando alternativas antes não acessíveis para esse segmento, realizando emissões a termos mais adequados para o seu porte e maturidade.A nova resolução da CVM facilita o processo de abertura de capital, tornando-o viável para empresas de até R$500 milhões de faturamento anual, e essa novidade chega em um momento crucial para apoiar os empresários brasileiros, dado o cenário de juros elevados e crédito bancário tradicional normalmente mais restrito para esse segmento.Sendo uma empresa listada é possível realizar Ofertas Públicas, podendo emitir dívida, através de Debêntures ou Notas Comerciais, e atrair investidores de mercado de forma ampla. Esses instrumentos funcionam como empréstimos junto ao mercado, com condições (prazos, taxas, forma de remuneração e garantias) ajustadas de acordo com a demanda e percepção dos investidores em relação ao potencial de geração de resultados e riscos do negócio.Essa nova regra da CVM ainda é pouco conhecida, mas tem potencial para provocar uma transformação no mercado de capitais, abrindo espaço para um novo segmento: o mercado de acesso, que se desenha com um estágio anterior ao que chamamos de “mercado tradicional”, historicamente disponível para empresas de maior porte, em função das maiores exigências praticadas. A nova resolução, o Regime FÁCIL, traz simplificações importantes, como registro automático na CVM após a listagem em mercado organizado, formulário único que substitui documentos como prospecto e lâmina, auditoria anual em vez de trimestral e até a dispensa de coordenador líder em ofertas diretas de até R$300 milhões.Com isso, os pequenos e médios empresários terão mais espaço para se financiar no mercado, em condições mais competitivas e flexíveis em relação às linhas tradicionais, e ao mesmo tempo, explorar a oportunidade de construir relacionamento com investidores institucionais, locais e estrangeiros, e pessoas físicas no geral, para realizar futuras emissões e financiar novos patamares de crescimento no tempo.Principais VantagensAcesso ao mercado de capitais: ampliando as alternativas de financiamento para além das linhas tradicionais de crédito bancário.Captação de recursos: com possibilidade de estruturar emissões com prazos mais longos e taxas mais vantajosas, em função do perfil da empresa, da qualidade das garantias e dos patamares praticados no mercado.Isenção de IOF: e acesso a investidores de forma ampla, sejam eles  institucionais ou pessoa física.Ganho de visibilidade: após listagem e realização de emissões, iniciando uma trajetória de construção da relação com o mercado, que pode atrair não só investidores estratégicos, mas também novos negócios e parcerias.Maior credibilidade: ao demonstrar uma maior maturidade empresarial, sendo reconhecida como emissora regulada e auditada, o que impacta positivamente a relação com bancos (melhores taxas), e garante uma melhor gestão da estrutura de capital da empresa.IPOs em baixa, emissões de dívida em alta: como o Regime FÁCIL muda o jogo para PMEs?Nos últimos quatro anos, vivemos um cenário de juros altos, crise de confiança, instabilidade fiscal e aversão ao risco por parte dos investidores, tanto locais quanto internacionais. Nesse contexto, desde setembro de 2021, entramos em uma janela de mercado mais fechada para emissões de ações, em que apenas quatro IPOs menores foram realizados no Brasil (Engravida, MaisMu, PlamevPet e Eletron Energia) até 2024, todos no mercado da BEE4.Em 2025, os investidores continuaram sem apetite para o mundo de ações, mas o mercado de dívida seguiu decolando. De acordo com a ANBIMA, as emissões de Debêntures somaram R$192,7 bilhões no Brasil, só no primeiro semestre de 2025. Já as Notas Comerciais atingiram um volume sem precedentes para os primeiros seis meses do ano, somando R$29,5 bilhões.As PMEs já integram esse segmento, principalmente nas emissões de Notas Comerciais Privadas, mas ainda estão de fora do hall de companhias abertas, aptas a realizar emissões públicas de dívidas e ações. No entanto, a partir de 2026, com o Regime FÁCIL em vigor, abrir capital deixará de ser privilégio das grandes corporações e empresas de menor porte poderão acessar essa alternativa do mercado.São avanços que aproximam o Brasil de práticas já consolidadas em mercados internacionais, como o AIM, em Londres, e a TSX Venture, no Canadá — estruturas criadas justamente para dar tração a PMEs com potencial de se tornarem grandes.O segredo para os empresários está na preparação. Quem estrutura governança, profissionaliza a contabilidade e adota auditoria independente ganha liberdade. Liberdade para escolher como e quando acessar o mercado de capitais — seja via ações, seja por emissões de dívida. Começar pela renda fixa é um movimento estratégico. Permite captar recursos, construir histórico com investidores e preparar terreno para, no futuro, em um cenário mais favorável para a renda variável, realizar um IPO.Um passo inédito para fortalecer o mercado de acesso no Brasil: o Rota FÁCIL, programa de incentivo e preparação para PMEsSabemos que o pequeno e médio empresário sempre tem muitos pratinhos para equilibrar e inúmeras demandas para priorizar. Portanto, muitas vezes a agenda de aprimoramento da gestão e governança, passando também pelo planejamento societário, acabam ficando para depois, em segundo plano. Com isso, muitas empresas não se preparam e acabam perdendo janelas de oportunidades, que podem passar rápido.Ao mesmo tempo, as novas regras da CVM para viabilizar o acesso de PMEs ao mercado de capitais – através do Regime FÁCIL – é uma notícia bastante recente, e muitas companhias ainda não fazem ideia que esse caminho é possível. Foi pensando nisso que a BEE4 lançou o Rota FÁCIL, para divulgar essa alternativa e para dar o incentivo que faltava para que os donos de PMEs priorizem a agenda de organização e governança.O programa é inédito no Brasil — nunca antes houve uma iniciativa dedicada a incentivar a listagem de PMEs. Criado pela BEE4, o Rota FÁCIL já está com inscrições abertas e gratuitas até o dia 20 de novembro. Nesta primeira edição, serão selecionadas até 10 PMEs promissoras, que receberão subsídios em serviços essenciais para acessar o mercado de capitais, incluindo auditoria independente, assessoria jurídica especializada, preparação e apoio focados no processo de listagem, além de isenção das taxas: CVM e BEE4.A ideia do Rota FÁCIL é proporcionar um atalho para abertura de capital, impulsionando empresas a começar um movimento que vai acelerar o desenvolvimento do mercado de acesso brasileiro, que tem potencial para se tornar gigantesco ao longo dos próximos anos. O trocadilho com o nome “rota” também traz a motivação de percorrer todo o país com o programa, em suas futuras edições, para aproximar do mercado de capitais empresários de sucesso além do eixo Rio-SP.Trilhões em dinheiro na mesa, poucas empresas aproveitando esse mercado: a oportunidade de ouro das PMEs é agoraO Brasil tem um mercado financeiro maduro e abriga um dos maiores volumes de poupança institucional do mundo, tendo registrado no final de 2024, R$2,3 trilhões sob gestão nos fundos de pensão, seguradoras e gestores de recursos, de acordo com a Anbima. Para além dos títulos públicos, esses investidores, por regulação, são autorizados a alocar boa parte do capital em ofertas públicas de dívida de empresas registradas como companhias abertas na CVM.Apesar dessa liquidez gigantesca por parte dos alocadores, apenas 670 companhias são registradas atualmente na CVM e, portanto, aptas para captação. Ou seja, um universo muito restrito de emissores de maior porte é que consegue acessar diretamente esses recursos, em um país com cerca de 380 mil empresas em atividade, com faturamento anual entre R$10 milhões e R$500 milhões, de acordo com o Econodata. O resultado é uma assimetria gigante: muito dinheiro disponível para uma minoria de empresas, e toda uma indústria de fundos mais concentrada em um grupo menor de emissões.Com o início do Regime FÁCIL, essa equação tem potencial para mudar radicalmente. As PMEs passam a contar com um canal viável para se tornarem companhias abertas e alcançar novos bolsos e investidores, conquistando acesso a capital institucional, antes restrito às grandes corporações. Trata-se de um ponto de inflexão que pode inaugurar uma nova etapa para o mercado de capitais brasileiro: mais diversificado, mais representativo da economia real (quantos setores são relevantes no PIB e não estão representados na Bolsa, por exemplo?) e com maior competitividade.O desenvolvimento desse segmento vai ser gradual, mas para o empresário, o recado é direto e claro: há um oceano de recursos aguardando PMeS estruturadas e com potencial de crescimento. Tornar-se uma companhia neste estágio, listada no novo regime, pode ser a chave para transformar sua empresa em um ativo de relevância no mercado, capaz de atrair investidores de longo prazo e sustentar ciclos de crescimento que o crédito bancário sozinho dificilmente teria capacidade de impulsionar.The post De emissões de dívida a ações: Entenda as muitas portas que se abrem para PMEs que decidem abrir capital no Brasil appeared first on InfoMoney.