Tarcísio corre o risco de virar um Bolsonaro com diploma de engenharia

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Tarcísio de Freitas é um desastre na comunicação. Ser avesso a jornalistas seria até uma qualidade, se ele contasse com bons assessores nessa área. Não conta.Ontem, em entrevista coletiva sobre o que vem sendo feito a respeito das bebidas falsificadas que contêm metanol, fato que abriu os olhos dos cidadãos para uma contrafação perigosíssima, o governador de São Paulo disse o seguinte ao comentar sobre as marcas mais exploradas pelos criminosos:“Não vou me aventurar em uma área que não é minha praia — no dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar… Ainda bem que ainda não chegaram nesse ponto.”Tarcísio quis propalar virtude, a de ser um homem imune aos prazeres do álcool, mas aparentou ter desprezo por quem bebe socialmente — grande parte, se não a maior, dos eleitores brasileiros — e por um inteiro setor econômico.Não tardou a que ele virasse alvo de críticas e, ato contínuo, se desculpasse nas redes sociais:“Peço perdão às famílias que sofrem por ter perdido entes queridos, aos comerciantes que estão vendo os seus negócios sofrerem e ao público que quer uma ação firme do Estado.”Desculpas aceitas, Tarcísio, mas o problema de comunicação do governador está colocado desde que ele adentrou o Palácio dos Bandeirantes. Leia também São Paulo PT desconfia de recuo de Tarcísio e sonha com Haddad ou Alckmin em SP São Paulo Tarcísio se desculpa após brincar sobre crise do metanol: “Errei” Brasil Tarcísio diz que SP tomará medidas para dissipar adulteração com metanol antes do verão É impressionante que não houvesse ninguém para avisá-lo sobre a péssima ideia de posar para fotos com um boné de Donald Trump, em comemoração à eleição do republicano, imagem aproveitada pelos adversários para fustigá-lo quando o presidente americano impôs o tarifaço ao Brasil, e o governador hesitou inicialmente em colocar-se do lado da economia paulista e nacional. A mensagem foi de traição ao país e de subserviência a Jair Bolsonaro.Exemplo anterior da sua falta de habilidade comunicativa, sintoma também de incompreensão do universo ideológico brasileiro, ocorreu em março de 2024 ao comentar as denúncias na ONU sobre a violência da polícia militar paulista na Baixada Santista.Na ocasião, Tarcísio de Freitas afirmou:“Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí.”Sinceridade o tempo todo está longe de ser uma qualidade apreciável em qualquer aspecto da vida — e na política, assim como no amor, ela é a via mais curta para a autodestruição. Ou, em bom francês,  para o sincericídio, como se diz por aí.Político nenhum, mesmo os mais exímios na arte essencial da demagogia e da hipocrisia, está livre de atentar contra  contra si próprio. Há, no entanto, um déficit cognitivo importante em políticos que acham que podem prescindir de boa comunicação.Se Tarcísio de Freitas ainda mantém um capital político enorme, apesar das armadilhas que cria para si próprio. Como já disse aqui, está longe de ser pior entre tanta gente boa. Mas, se não quiser correr o risco de se transformar em um Jair Bolsonaro com diploma de engenharia, o que certamente o deixará longe da presidência da República, de acordo com as atuais condições de temperatura e pressão, recomenda-se que se cerque de gente competente na difícil tarefa de fazer amigos e de conquistar pessoas.