Metanol: entenda o perigo da substância em bebidas adulteradas

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Os recentes casos de adulteração de bebidas alcoólicas no Brasil colocaram em evidência uma substância ao mesmo tempo pouco conhecida e bastante presente na sociedade. É o metanol, uma substância importante para uma série de indústrias.A ingestão dela, porém, está relacionada com problemas graves de saúde. Mas você sabe exatamente o que é esse tipo de álcool e por que ele é tão nocivo, enquanto outros são consumidos normalmente?A seguir, confira mais informações sobre o que exatamente é o metanol, quais são as aplicações dele em diferentes indústrias e também os riscos de ingestão, que tornam a contaminação em bebidas algo tão perigoso.O que é o metanol?Também chamado de álcool metílico, o metanol é uma substância líquida que é produzida a partir de um processo que envolve gás natural, carvão mineral ou até madeira seca, material originalmente usado para a sua obtenção.O metanol é uma substância tão corrosiva que é vendida apenas para uso industrial ou comercial. (Fonte: Reprodução/Loja Química)Identificado pela fórmula CH₃OH e diferente do gás metano, ele é utilizado como solvente (ou seja, para dissolver ou separar substâncias de um material composto) na produção de plásticos ou medicamentos e até como combustível de alguns tipos de veículo.Diferença entre metanol e etanol nas bebidasHá uma série de semelhanças e diferenças entre etanol e metanol, o que pode gerar confusão sobre os riscos para a saúde de cada uma dessas substâncias.Ambos são líquidos classificados como 'álcool' e de uma viscosidade similar, além de não terem cor e apresentarem um cheiro característico similar. Porém, o etanol (C₂H₆O) é um material obtido por fontes diferentes, como milho e cana-de-açúcar.Ele ainda é uma substância bastante versátil na indústria. Apesar de ser mais conhecido por estar presente em bebidas alcoólicas com os mais diversos teores, ele é usado em diferentes concentrações como parte de medicamentos antissépticos e em combustíveis — ele é no Brasil a principal alternativa ao abastecimento com gasolina.Por outro lado, o metanol é tóxico para o organismo e sem uma margem segura para ingestão, o que significa que ele não deve ser consumido mesmo em baixas quantidades.Como o metanol pode aparecer em bebidas adulteradasPara além dos casos de 2025, o Brasil já registrou outros casos de adulteração ou contaminação de bebidas com metanol. Em 1992, quatro pessoas morreram e mais de 160 tiveram sintomas em Diadema, São Paulo, após um caso em uma casa noturna. Sete anos depois, foram registradas 35 mortes pelo mesmo motivo em cidades da Bahia.Não é possível detectar o metanol a olho nu em drinks e destilados em geral: isso só pode ser feito a partir de análises em laboratório. O motivo? Ele se mistura à bebida e é incolor, além de apresentar um cheiro próximo ao etanol que é menos danoso ao corpo, o que não levanta suspeitas.Isso reduz a praticamente zero as chances de que o consumidor perceba que está consumindo a substância. Bebidas como cachaça, gin, vodka e uísque, são as que já foram identificadas como fontes da atual intoxicação.Não é possível identificar a adulteração de bebidas com metanol sem testes. (Fonte: chandlervid85/Freepik)Cerveja ou vinho não foram alvos até o momento e a adulteração deles tende a ser mais rara, mas o processo ainda pode acontecer nessas bebidas. As orientações atuais para quem ainda adquirir essas bebidas é, além de evitar o consumo de destilados como um todo, preferir a compra por meio de supermercados ou grandes distribuidoras e desconfiar de grandes descontos.Quais são os riscos do consumo de metanol?O consumo de metanol, mesmo que em baixas quantidades, é altamente prejudicial para o organismo do ser humano. Ele pode gerar condições irreversíveis para visão ou rins e até trazer risco de morte. Confira a seguir mais alguns detalhes que reforçam a necessidade de ter cuidados redobrados nesse tipo de situação.Efeitos da intoxicação por metanolO problema do consumo de líquidos com metanol está na metabolização da substância dentro do fígado. Neste processo, ele é transformado em substâncias como formaldeído e ácido fórmico, que são produtos tóxicos e que causam várias complicações ao entrar em contato com o corpo.Essas substâncias passam para o sistema circulatório rapidamente e, por meio do sangue, chegam a outras partes do corpo. Neste ponto, os danos causados ao organismo são vários, apesar de não se repetirem em todos os casos.O metanol processado pelo corpo ataca o nervo óptico, gerando sintomas como perda parcial ou total de visão. Além disso, ele prejudica estruturas do sistema nervoso e, pela ação de mecanismos de defesa de outros órgãos, pode levar ao comprometimento de rins e sistema respiratório.Consequências graves e risco de morteA intoxicação por metanol pode trazer danos mais severos em caso de tratamento tardio ou não realizado, ou por um consumo de uma grande quantidade da substância.Eles incluem cegueira parcial ou total que pode ser um dano irreversível, lesões neurológicas diversas e até falência de órgãos, que é a consequência que pode levar o paciente a óbito.Sintomas que servem de alerta para procurar ajuda médicaOs principais sinais de que a pessoa pode ter sido vítima de intoxicação por metanol ao consumir uma bebida alcoólica adulterada tendem a aparecer entre 6 e 72 horas após a ingestão.Eles incluem dor abdominal, náuseas, vômito, dificuldade para respirar e visão turva, seguida de confusão mental. Caso alguns desses sintomas sejam identificados depois do consumo de destilados, o ideal é procurar o atendimento médico no serviço de emergência mais próximo.Por que bebidas de origem duvidosa oferecem riscoO problema no consumo de bebidas alcoólicas que não foram obtidas de distribuidoras regularizadas e originadas das fábricas das fornecedoras está na falta de garantias de que todo o processo ocorreu de forma segura.A produção de bebidas falsificadas, por exemplo, pode envolver a adição proposital do metanol como subtância para "encorpar" o produto e aumentar a quantidade de garrafas produzidas com menos materiais originais.Além disso, ele pode ser usado em etapas como a limpeza e esterilização de garrafas ou até gerado durante o processo de destilação, caso ele seja feito de forma errada — algo mais possível em pequenas fábricas ou atividades clandestinas.O recomendável para quem consumiu destilados em datas próximas ao início das contaminações é ficar atento aos sintomas e, se possível, verificar a procedência da bebida. Isso pode ser feito ao conferir possíveis irregularidades no rótulo e no lacre, por exemplo, como erros na impressão ou colagem.O que dizem as autoridades de saúde sobre fiscalizaçãoAté a publicação deste texto, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não identificaram a origem exata da contaminação e nem em que processo da adulteração o metanol entrou em contato com as bebidas.Porém, as autoridades já realizaram algumas ações para combater essa comercialização e agilizar o atendimento aos pacientes com suspeita de intoxicação por metanol, já que o tratamento rápido é essencial para aumentar as chances de recuperação.A sala de operações do Ministério da Saúde para conter a atual crise. (Fonte: Walterson Rosa/MS)As estratégias incluem:criação de uma rede nacional de diagnóstico para identificar casos por meio de análises em laboratório de pessoas internadas com sintomas;distribuição de etanol farmacêutico para tratamento, além de compra adicional de remessas e intensificação da produção por farmácias de manipulação;importação de 2.600 frascos de Fomepizol, uma solução injetável que serve como antídoto contra o metanol que circula no organismo;criação de um grupo específico para traçar estratégias de prevenção e combate às adulterações, além de divulgar diariamente os novos casos confirmados."Certifique-se da origem da bebida. É essencial saber de onde ela vem. Se estiver em um bar, não aceite bebidas de desconhecidos e tente verificar a procedência. Também evite destilados, especialmente líquidos incolores. Isso é ainda mais importante neste momento", disse em comunicado oficial o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.Sabia que existem casos concretos de inteligências artificiais que já são realidade na saúde? Conheça alguns exemplos nesta matéria!