O câmbio no patamar de cerca de R$ 5,30 por dólar “não parece sustentável”, afirma a economista-chefe da Lifetime, Marcela Kawauti. A atual cotação reflete uma desvalorização do dólar, influenciado por fatores externos, mas que tende a se ajustar diante das incertezas nos Estados Unidos e das fragilidades fiscais no Brasil.“[O câmbio a R$ 5,30] não me parece sustentável. Tem uma incerteza muito grande lá nos Estados Unidos e, em algum momento, isso vai precisar acomodar — então, o dólar deve voltar a se valorizar — e tem um problema fiscal interno”, disse no evento Lifetime Talks nesta terça-feira (7).“Se o fiscal não for resolvido, teremos uma piora também da nossa moeda”, afirmou.MERCADO DE OLHO NO FISCAL — MP que cria Imposto de Renda de 17,5% sobre investimentos deve ser votada hoje; veja o Giro do MercadoSegundo Kawauti, o comportamento do câmbio tem sido ditado pelo ambiente internacional. A política tarifária de Donald Trump tem sido um dos catalisadores para a perda força global da moeda norte-americana.O presidente do país adotou uma postura comercial mais agressiva em 2025, elevando tarifas e ampliando alíquotas sobre importações — o que gerou grandes incertezas e redefiniu o equilíbrio da geopolítica global.No acumulado deste ano, o dólar caiu aproximadamente 14% frente ao real. O câmbio começou o ano no patamar de R$ 6,17 e fechou setembro em R$ 5,32 por dólar.A economista da gestora afirma, no entanto, que o desequilíbrio das contas públicas brasileiras continua sendo um risco relevante para a valorização do real. “Por isso que o Focus insiste em colocar o câmbio do final deste ano e do final do ano que vem acima do câmbio atual.”No Boletim Focus, as projeções coletadas pelo Banco Central (BC), no entanto, são de R$ 5,45 para 2025 e R$ 5,53 para 2026.Ela, no entanto, afastou a ideia de que o Brasil esteja em um quadro de dominância fiscal. “Estaríamos em dominância fiscal se o Banco Central tivesse medo de subir juros para segurar a inflação por conta do impacto que esses juros teriam na dívida pública.”“É claro que o BC olha isso nas contas que faz, mas não o impede de subir juros, mesmo sabendo do impacto fiscal que isso tem”, disse.