Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (29) (que você confere aqui) repercutiu os debates sobre o cometa 3I/ATLAS e as hipóteses de que ele seria uma tecnologia extraterrestre.Dentre os cientistas que defendem essas suposições, está o físicos Avi Loeb, professor da Universidade de Harvard. Em seu blog, Loeb apresentou a possibilidade de que o cometa interestelar seja produto de uma civilização alienígena após examinar os primeiros estudos sobre o 3I/ATLAS. Esse foi o ponto de partida para as principais hipóteses.Abundância de CO2 não é sinal de combustível, segundo especialistasAs suposições se popularizaram na internet e cresceram conforme astrônomos divulgavam pesquisas do cometa. Uma das primeiras, sugerida a partir de dados publicados em agosto, apresentou a hipótese de que a abundância de CO2 no cometa seria um sinal de queima de combustível.Para Ary Martins, fundador e diretor do Clube de Astronomia Plêiades do Sul, essa é uma suposição sem fundamento.“É absolutamente infundado associar esse objeto, por mais exótico que ele se mostre inicialmente, a uma nave ou produto tecnológico”, disse Martins.Cometa 3I/ATLAS viajando através de um fundo de estrelas, visto pelos telescópios terrestres do Observatório Las Cumbres. (Imagem: ESA)O especialista explicou que a movimentação espacial por combustíveis fósseis é ultrapassada. A humanidade, por exemplo, usa querosene apenas para o lançamento de foguetes, que depois seguem sua rota com poucos acertos de trajetória.Quando manobras são necessárias, a tecnologia terrestre libera um composto sem carbono. “No espaço, os satélites e sondas utilizam hidrazina para manobras de correção orbital. Essa molécula é N2H4, não tendo carbono nem oxigênio. E ainda é usada raramente. Uma nave no espaço não precisa ficar queimando combustível”, explicou o divulgador científico.O astrofísico e especialista em fenômenos naturais, Thiago Maia, ressaltou que, para ocorrer a liberação de CO2 pela queima de combustível, é necessário um elemento oxidante, normalmente o oxigênio. “Imagine a quantidade absurda de oxigênio que essa suposta nave teria de carregar”, comentou o pesquisador.Níquel atômico é impressionante, mas não alienígenaA detecção de níquel atômico sem traços de ferro em 3I/ATLAS, registrada pelo Very Large Telescope (VLT), na última semana, foi o novo estímulo para suposições. Esse dado intrigou cientistas e entusiastas, já que esses dois metais normalmente aparecem juntos em cometas.“Então surgiu a hipótese de que, por ter muito níquel e não terem detectado ferro, que esse objeto seria tecnologia extraterrestre, uma esfera de níquel para proteção de calor”, comentou Maia.O cometa interestelar 3I/ATLAS foi analisado pela visão infravermelha do Telescópio Espacial James Webb, que descobriu uma composição química muito peculiar. (Imagem: NASA/Telescópio Espacial James Webb)O astrofísico explicou que a presença de níquel atômico no coma, a nuvem de moléculas ao redor do cometa, é um fenômeno raro, mas não um sinal tecnologia. Segundo ele, outros cometas do Sistema Solar e o 2I/Borisov, o segundo objeto interestelar observado na história, já apresentavam essa característica.Para Marcelo Zurita, astrônomo e apresentador do Olhar Espacial, as especulações a partir da ausência de ferro podem ser descartadas após análises futuras. “Não é que não há ferro, ele pode só não ter evaporado ainda para ser detectado”, disse o astrônomo.Elementos preservam a história do cometa interestelarAs características de 3I/ATLAS estariam associadas ao sistema estelar de onde ele surgiu. “A composição nos diz que o cometa pode ter vindo de uma região mais fria, rica em monóxido de carbono, que aprisionou o níquel”, disse o físico. Esse “aprisionamento” do níquel pode ter ocorrido no formato das moléculas de níquel tetracarbonil, que têm um átomo de níquel ao centro, rodeado por ligações de monóxido de carbono. Essas moléculas são altamente instáveis quando expostas à luz ultravioleta, quebrando facilmente e liberando o níquel atômico e monóxido de carbono, o que explicaria a presença dos dois compostos no cometa sem a necessidade de ferro.O mistério do níquel atômico encontrado no 3I/ATLAS pode ter ligação com moléculas chamadas de níquel tetracarbonil, altamente instáveis quando expostas à luz ultravioleta. (Imagem gerada por IA/ChatGPT)Leia mais:Objeto interestelar 3I/ATLAS pode ser mais antigo que o Sistema SolarNíquel atômico em visitante interestelar é tecnologia alienígena? Especialista explicaProjeto usará IA para desvendar mistérios dos ‘visitantes’ do nosso Sistema SolarCaso 3I/ATLAS fosse uma espaçonave feita por extraterrestres, Maia disse que não seria um perigo. “Se o cometa fosse uma esfera feita de níquel e viesse para a Terra, não precisaríamos jogar uma bomba nuclear para detê-la, é só disparar ácido. Essa reação acaba com o níquel puro”, explicou o astrofísico.“Não precisa se esconder de baixo da cama por causa desse cometa. Se fosse realmente uma civilização inteligente que fez isso, ela nunca usaria o níquel para revestimento“, explicou Maia. Há ligação entre 3I/ATLAS e o Sinal Wow? Especialista diz que nãoOs estudos iniciais sobre o 3I/ATLAS revelaram que ele vem da direção da constelação de Sagitário, de uma região próxima ao limite com a constelação e Escorpião. Segundo Martins, essa é um local com abundância de estrelas e probabilidade maior da presença de civilizações extraterrestres, pelo menos nas hipóteses estatísticas.Essa dado foi o necessário para que surgisse na internet uma associação entre o cometa e o sinal “Uau!”, um sinal de rádio intenso vindo da mesma direção captado em 1977. Isso se juntou ao fato de que a Voyager I, sonda com um disco dourado contendo registros da história da humanidade, também está direcionada para essa região.A edição do Olhar Espacial da última sexta-feira (29/08) contou com três especialistas: Ary Martins (à esquerda), Thiago Maia (ao centro) e Cristóvão Jacques (à direita). (Imagem: Arquivo pessoal / Edição: Olhar Digital)“A hipótese propõe que o sinal ‘Uau!’ teria sido emitido por essa suposta civilização alienígena que está nessa hipotética nave de níquel”, disse o divulgador científico.Martins citou um novo estudo que trouxe uma possível explicação para o forte sinal de 1977. Disponível no repositório de pré-impressão arXiv, a pesquisa apresenta a hipótese de uma fonte de radiação intensa, ao passar por uma nuvem de hidrogênio, gerou esse sinal.Dentre as origens para essa radiação, os autores sugerem um magnetar: uma estrela de nêutrons densa com um campo magnético extremamente forte, atuando como um ímã gigantesco.Segundo o divulgador científico, a suposta ligação entre a sonda, o sinal “Uau!” e o cometa 3I/ATLAS não se sustenta. Isso porque o lançamento da Voyager e a detecção do sinal ocorreram no mesmo ano, tornando impossível que todos esses eventos estivessem conectados em tão pouco tempo.O post As teorias que ligam o visitante interestelar 3I/ATLAS com alienígenas apareceu primeiro em Olhar Digital.