Novo “novo normal”: líderes de RH escolhem o equilíbrio do modelo híbrido

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O modelo híbrido de trabalho, que combina dias presenciais e remotos, vem se consolidando como a principal tendência nas organizações. Segundo especialistas consultados pelo InfoMoney, esse modelo representa um ponto de equilíbrio entre a jornada 100% presencial e 100% home office, conciliando produtividade, cultura organizacional e qualidade de vida dos colaboradores.Retenção e atração de talentosA flexibilidade no modelo de trabalho é um fator decisivo para atração e retenção de talentos. É o que pensa Henrique Holzhausen, diretor de Cultura e Processos da Libbs e Christiane Berlinck, CHRO do Grupo OLX, que afirma que “a flexibilidade gera engajamento, pertencimento e é um diferencial na hora de contratar, pois muitos preferem flexibilidade a um salário maior.”Além disso, dados internos do grupo mostram que a flexibilidade não só agrada os colaboradores, mas também traz ganhos concretos para a empresa em produtividade, saúde e engajamento. “Com o trabalho híbrido, conseguimos reduzir o absenteísmo, melhorar a sinistralidade do plano médico e aumentar a retenção de funcionários”, afirmou Berlink.Já segundo a gerente de RH do OLX Rio, Quelma Oliveira, “todos os colaboradores do meu time relatam que permanecem na empresa por conta do modelo híbrido, que respeita a individualidade e o ritmo de vida de cada um”.O cenário visto atualmente parece ser resultado de um esforço das empresas para respeitar a preferência dos colaboradores, que já era vista como tendência em 2024. Dados dados de uma pesquisa divulgada no fim do ano passado pela empresa de capacitação personalizada para organizações e profissionais Koru sobre tendências de RH para 2025 mostrava que 60% das empresas planejavam manter ou ampliar o modelo híbrido, reconhecendo que a flexibilidade é um dos principais fatores para atrair e reter talentos.Além disso, 70% das organizações indicaram que investiriam no desenvolvimento de competências relacionadas à liderança remota e gestão de equipes híbridas, evidenciando a necessidade de atualização dos gestores para acompanhar as mudanças no mercado de trabalho.Para Daniel Spolaor, CEO da Koru e especialista em gestão de pessoas, “empresas híbridas ganham a disputa por talentos, pois o modelo está entre os principais fatores para escolha e permanência no mercado atual.”Leia mais: Por que a flexibilidade é a qualidade essencial para o empreendedor brasileiroÉ mais barato?O corte de custos não foi o proncipal motivo para a adoção do modelo híbrido, segundo as fontes. Holzhausen destacou que, apesar de economias em espaços físicos, na Libbs houve aumento de investimento em ferramentas de tecnologia e benefícios para apoiar o trabalho remoto.No caso do Grupo OLX, o modelo híbrido trouxe despesas, como a necessidade de viagens corporativas e a reforma dos escritórios, mas, na outra ponta, evita os espaços ociosos típicos do 100% presencial.Já no caso da Cross Networking, que adotou o 100% home office durante algum período, as despesas aumentaram. Isso porque investimentos foram feitos na infraestrutura do escritório e o valor desprendido em benefícios para funcionários, como auxílio para pagamento do estacionamento nos dias presenciais, cresceu.Segundo os especialistas, embora o modelo híbrido de trabalho possa gerar custos adicionais, esses gastos são investimentos que trazem retorno em engajamento, produtividade e retenção de talentos – evitando os custos de abrir inúmeros processos seletivos. Presencial: os prós e contras de ir ao escritório todo diaO trabalho presencial ainda é valorizado por sua capacidade de fortalecer a cultura organizacional e facilitar a comunicação. Tatiana Oliva, CEO da Cross Networking, empresa especializada em parcerias entre marcas e pessoas, destaca que o presencial otimiza reuniões e treinamentos, que no ambiente online podem ser mais demorados e menos eficazes. Segundo ela, a proximidade física permite resolver questões rapidamente, com interações espontâneas que o ambiente virtual não proporciona: “Você chega na mesa e fala: ‘Vamos tomar café e resolver tal coisa?’. No online, isso vira uma série de fricções.”Daniel Spolaor, CEO da Koru, reforça que o contato presencial é fundamental para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e para a construção de conexões, pois o cérebro interpreta de forma diferente a presença física, liberando hormônios que fortalecem os laços entre as pessoas. Ele explica que as microinterações do dia a dia no escritório melhoram a comunicação e a produtividade, algo difícil de replicar no remoto.Por outro lado, o modelo presencial pode gerar desafios, especialmente em grandes cidades, devido ao tempo e estresse dos deslocamentos. Quelma Oliveira, gerente de RH do OLX Rio, relata que gastava cerca de cinco horas diárias no trajeto para o trabalho, o que impactava sua qualidade de vida, e que, com o modelo híbrido, ela conseguiu mais tempo para cuidar da saúde e da família, além de se sentir mais produtiva. Leia mais: 40 horas? Na Holanda, se trabalha apenas 32 horas por semana; mulheres puxam mudançaO Grupo OLX reformulou seus escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo neste ano, transformando-os em locais para encontros intencionais – e não obrigatórios. A recomendação é que os colaboradores venham ao escritório cerca de duas vezes por semana, mas essa frequência é bastante livre e adaptada às necessidades e preferências individuais e das equipes.O escritório do Rio foi reinaugurado em maio, após um retrofit concluído em apenas 78 dias. Já em São Paulo, o escritório foi reposicionado na Avenida Paulista com base em um estudo do DataZAP. A análise cruzou os CEPs de 626 colaboradores e reduziu em até 44 minutos (ida e volta) o tempo médio de deslocamento diário.Holzhausen lembra das áreas que demandam presença física indispensável, como produção e pesquisa no caso de uma farmacêutica, mas, ainda assim, ressalta o esforço interno da Libbs para não tornar o presencial uma obrigação desnecessária.Desde março de 2020, a empresa segue um modelo de teletrabalho, chamado de anywhere office para as funções administrativas, como RH, financeiro, jurídico, comunicação e marketing, com possibilidade de o colaborador ir a coworkings parceiros em todo o país sempre que desejar. A direção da empresa inclusive abriu mão de sua antiga sede administrativa, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.Atualmente, cerca de 35,2% dos 3,9 mil colaboradores da Libbs se enquadram no anywhere office. E uma pesquisa interna, feita em outubro de 2024, revelou que 99% dos colaboradores e 97% dos gestores acreditam que o anywhere office favorecia sua produtividade. Home office: os prós e contras de não ir ao escritórioO home office oferece flexibilidade e melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o que tem sido valorizado especialmente por colaboradores com múltiplas responsabilidades. Christiane Berlinck destaca que poder trabalhar de casa permite que colaboradores conciliem os cuidados familiares à rotina, sendo um diferencial importante para a retenção, sobretudo para mulheres. Ela observa que essa flexibilidade contribui para a saúde e o bem-estar dos profissionais.Holzhausen enfatiza que, quando bem estruturado, o trabalho remoto pode manter ou até aumentar a produtividade, desde que haja confiança e autonomia. Na Libbs, por exemplo, foi criada a “elegância corporativa”, um conjunto de regras para comunicação e reuniões que melhoraram a experiência remota e evitaram sobrecarga, como a proibição de mensagens fora do horário de trabalho e o envio e leitura obrigatórios de um memorando antes de reuniões, para que os encontros não sejam somente expositivos, sejam mais objetivos e durem menos.Porém, o modelo também traz desafios, como o isolamento social, dificuldades de comunicação e até de concentração. “Estudos mostram que os problemas de saúde mental são mais recorrentes e mais intensos nas pessoas que estão em trabalho majoritariamente remoto. Existe uma questão de saúde mental e desenvolvimento. É fato que precisamos do contato presencial para estarmos mais saudáveis (…) E tem empresas que se depararam com a situação em que a produtividade desabou no modelo no remoto. As pessoas, de fato, se distraem com outras coisas. É uma realidade que a gente precisa aprender a equacionar porque não é viável”, explica.Presencial flexível?A Cross Networking adotou um modelo que combina flexibilidade o presencial: os funcionários trabalham presencialmente durante todo o dia duas vezes por semana e podem chegar após o almoço nos demais dias.Além disso, a localização do escritório recém reformado foi pensada para facilitar o deslocamento do time: ele fica próximo ao Metrô Faria Lima. Segundo a CEO Tatiana Oliva, a presença do time é essencial para preservar a cultura da empresa e fortalecer as conexões humanas, mas com flexibilidade, valorizando a responsabilidade e o compromisso dos colaboradores, com flexibilidade de horários. Gestores deve ser atualizarA pesquisa da Koru apontou que 65% das empresas investiriam em capacitação para desenvolver competências de liderança adaptativa e gestão de equipes híbridas, reforçando a urgência de atualização dos gestores para garantir o sucesso do modelo híbrido.Novamente, o dado conversa com as tendências observadas: João Adibe, presidente da Cimed, reafirmou em evento recente a importância da adaptação às mudanças culturais e tecnológicas. “Talvez os hábitos que tínhamos há 20 anos não sejam os hábitos da nova geração”, afirmou.The post Novo “novo normal”: líderes de RH escolhem o equilíbrio do modelo híbrido appeared first on InfoMoney.