«Sem desenvolvimento não há paz», afirma Mário Parra da Silva

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Num tempo em que os conflitos se multiplicam, as democracias enfrentam tensões internas e a confiança nas instituições internacionais parece fragilizar-se, torna-se ainda mais urgente refletir sobre o papel da sociedade civil na promoção da paz e dos direitos humanos. Mário Parra da Silva, Secretário-Geral da United Nations Association (UNA) Portugal, acredita que a resposta para muitos dos desafios contemporâneos passa por uma nova forma de cooperação global, mais próxima dos cidadãos e menos dependente da ação exclusiva dos Estados.À Líder revela a sua visão sobre o futuro da governação global, a importância da educação para os direitos humanos, o papel das empresas na construção de um modelo económico mais justo e o desafio de comunicar a paz numa era marcada por polarização e excesso de informação.Quais são os principais desafios que antecipa para os próximos anos na luta pela paz e pelos direitos humanos?Os grandes desafios são globais: crescimento populacional, sustentabilidade alimentar e impactos ambientais da mobilidade e produção. A pressão demográfica gera fluxos migratórios que, em excesso, podem criar rejeição nos países recetores, com riscos para a paz e os direitos humanos. A solução passa por desenvolvimento sustentável nos países de origem, com modelos que não repliquem o consumismo e a alta energia atuais.Sem desenvolvimento não há paz. Quais são os principais objectivos da UNA atualmente? Como se distingue de outras organizações internacionais com foco nos direitos humanos e na paz? A UNA Portugal segue os objetivos das Nações Unidas, mas é uma entidade da sociedade civil, reconhecida pela Federação Mundial das Associações das Nações Unidas. O seu papel é aproximar cidadãos, sobretudo jovens, da Carta da ONU e da importância da governação global, já que muitos problemas não podem ser resolvidos apenas pelos Estados. A UNA distingue-se de outras organizações pela legitimidade de usar o emblema da ONU, conferida pela Federação Mundial, o que lhe dá uma ligação única e global. Qual tem sido o papel de Portugal nestas iniciativas? É possível reforçar a presença portuguesa na construção de pontos globais? Portugal tem tido destaque sobretudo na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), promovendo a cooperação jurídica e cultural entre estes países. A tradição portuguesa de Estado de Direito, enraizada desde a Idade Média, contribui para apoiar novos Estados na construção de sistemas legislativos e institucionais. Ainda assim, há sempre espaço para reforçar a presença internacional. As organizações internacionais têm uma grande importância neste caminho, mas que papel podem desempenhar as empresas? Se antes eram vistas como irrelevantes, hoje as empresas são parceiras essenciais. Criam valor, organizam recursos e respondem a necessidades humanas.O lucro, quando equilibrado, é positivo. O problema surge com lucros excessivos e práticas predatórias.O novo paradigma empresarial, baseado nos stakeholders, inclui responsabilidade perante sociedade e ambiente. As empresas terão papel crescente na criação de um modelo económico sustentável. Assistimos a guerras praticamente em direto nos nossos smartphones e as redes sociais estão cada vez mais polarizadas. Como se comunica a importância da paz e dos direitos humanos neste panorama? As guerras transmitidas em direto geram uma ‘virtualização’ da violência, dando a impressão de que não afetam a todos. Isso banaliza o sofrimento e enfraquece a perceção da gravidade. É necessário encontrar formas de mostrar a realidade da destruição e da dor, para evitar que a guerra seja relativizada como espetáculo distante. Como é que a UNA estabelece diálogo com instituições e governos que não partilham necessariamente os mesmos valores democráticos? A UNA não é defensora de um modelo político específico, mas da ONU como comunidade de Estados soberanos. Assim, lida com todos em igualdade, independentemente do regime. A escolha do modelo de governo cabe sempre aos povos de cada país. O diálogo é feito com respeito institucional, mesmo quando há discordância pessoal com certos regimes.Numa era marcada por guerras, crises humanitárias e retrocessos democráticos, que mensagem quer deixar para as lideranças? Não há retrocessos democráticos, mas ciclos de aprendizagem, como uma respiração coletiva. Cada povo encontra o seu caminho, e cabe às lideranças governar em nome e benefício dos cidadãos, respeitando as suas especificidades. Em Portugal, a história mostra que os regimes caem quando se afastam do povo. Por isso, a mensagem da UNA é clara: governar deve ser sempre servir as pessoas reais, com ética e responsabilidade.O conteúdo «Sem desenvolvimento não há paz», afirma Mário Parra da Silva aparece primeiro em Revista Líder.