A Controladoria-Geral da União (CGU) realizou uma auditoria sobre as viagens realizadas por servidores da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) nos últimos anos e identificou uma série de deficiências e irregularidades.Na prática, o órgão regulador tem feito viagens sem justificativas nem planejamento, superando um gasto de R$ 16,7 milhões em dois anos. Foram realizadas 6.178 viagens nesse período. Do total gasto, cerca de R$ 4,1 milhões se referem a viagens internacionais, a maioria feita por diretores do órgão regulador. Tudo isso em meio a um contexto de restrições orçamentárias da agência.Procurada, a ANTT informou que a atual gestão do órgão, iniciada em fevereiro, tem aplicado medidas para reduzir a quantidade de viagens internacionais (leia a íntegra da nota ao fim desta reportagem),“Houve uma discrepância significativa na alocação de recursos da ANTT”, afirma o relatório da CGU. “Os gastos com viagens internacionais equivaleram aproximadamente a 64% dos recursos destinados à fiscalização no mesmo período. Essa desproporção, especialmente diante de relevância da fiscalização para o cumprimento da missão institucional da ANTT, demanda uma análise detalhada por parte da agência.”“É essencial revisar os critérios de alocação orçamentária e avaliar a efetividade das viagens internacionais realizadas pelos servidores e pela alta administração, de modo a garantir que os recursos públicos sejam direcionados prioritariamente para atividades que promovam o interesse público e o cumprimento das atribuições institucionais”, prossegue o relatório.A CGU mostra que o ex-diretor geral da ANTT Rafael Vitale chegou a ficar 191 dias fora do país, entre 2021-2024. Essa situação já havia sido mostrada em reportagem da coluna. “A elevada quantidade de dias de afastamento dos diretores da ANTT para viagens internacionais pode acarretar diversos riscos e consequências para a governança e eficiência da agência”, prossegue a CGU.O relatório mostra ainda que Vitale teria apresentado informações falsas à Embaixada da China no Brasil para levar duas servidoras terceirizadas, às margens de um processo seletivo, em uma viagem ao país asiático.A CGU também identificou relatórios de viagens que apresentam conteúdo idêntico ou muito semelhante, indicando que os servidores copiaram trechos uns dos outros. “Essa prática compromete a qualidade das informações prestadas, além de descumprir o propósito dos relatórios, que é documentar de forma individual e detalhada as atividades realizadas e os benefícios gerados para a instituição”, diz o relatório da CGU.ANTT afirma ter reduzido número de viagens internacionaisProcurada, a ANTT enviou a seguinte nota, reproduzida na íntegra:“Como uma das prioridades da nova gestão, iniciada em fevereiro desse ano, a Agência aplicou medidas de contenção de despesas reconhecidas no relatório ‘como um passo positivo’, a exemplo da ‘redução significativa nas viagens internacionais dos diretores no primeiro semestre de 2025’, com um decréscimo de 33% no quantitativo de viagens. Inclusive, o redesenho do PETI e sua forma de custeio.A ANTT entende que o trabalho da CGU contribui de forma relevante para melhoria contínua em andamento na Agência. Dessa forma, os resultados da avaliação serão importantes para o aperfeiçoamento dos processos internos, atendendo as recomendações definidas nas tratativas entre a Agência e a Controladoria.Já com relação a eventual acusação de falsificação, a Agência ressalta que desconhece a informação e destaca que o fato apontado não tem qualquer relação com a gestão atual que, inclusive, está realizando melhoramentos normativos nos moldes apontados pela CGU.”