A temporada de resultados do terceiro trimestre chega ao fim com um gostinho agridoce para os bancos. Se por um lado, Itaú (ITUB4) e BTG (BPAC11) conseguiram entregar mais uma safra de resultados fortes, o Banco do Brasil teve um trimestre para esquecer.No meio do campo, Santander (SANB11) e Bradesco ainda tentam mostrar que vivaram a página após trimestres de números abaixo do esperado. Para o BBDC, porém, há até maior confiança de que a recuperação já uma realidade, com o papel saltando mais de 70% no ano.Segundo dados da Elos Ayta, o lucro dos cinco bancos somados totalizou R$ 29 bilhões, alta de quase 4% no trimestre, mas queda de 6,62% ante o ano passado, muito puxado pelo tombo de 60% do lucro do BB.Veja a tabela abaixo:BancoLucro líquido (3T25)ROE (3T25)ROE (3T24)Variação ROE (pontos percentuais)Banco do BrasilR$ 3,78 bi8,4%21,1%-12,7 pp (queda)BradescoR$ 6,20 bi14,7%12,4%+2,3 ppItaú UnibancoR$ 11,9 bi23,3%22,7%+0,6 ppSantanderR$ 4,0 bi17,5%17,0%+0,5 ppItaú, o mais seguro?No Itaú, o céu é de brigadeiro.A Genial destacou a rentabilidade elevada, com ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de 23,3% — estável no trimestre e com alta de 0,6 ponto percentual no ano.Isso coloca o banco em ampla vantagem frente aos pares, consolidando-o como o mais consistente ao longo dos ciclos — o mais rentável e capitalizado entre os incumbentes, segundo os analistas.Em teleconferência com jornalistas, o CEO Milton Maluhy reafirmou o compromisso do banco de se manter nesse patamar.‘Nossa barra sobe todo dia’; como o Itaú (ITUB4) quer continuar no topo, segundo CEO – Money Times“A gente tem que sempre encontrar o ponto ótimo entre crescimento e rentabilidade, alocando bem o capital. Eu não vejo, no curto prazo, nenhuma mudança de tendência nos 20%, apesar de, de novo, não darmos guidance”, afirmou.Com tanto dinheiro em caixa, analistas já esperam pelo pagamento dos dividendos adicionais, tradicionalmente pagos no começo do ano.Nos cálculos do Bradesco BBI, considerando um crescimento de 4,5% na carteira em 2025 e uma meta de CET1 de 12,3%, o potencial dividendo extraordinário a ser pago deve atingir aproximadamente R$ 31 bilhões.BTG, voando altoO BTG não só repetiu o segundo trimestre forte como superou a marca, registrando lucro de R$ 4,5 bilhões e ROE de 28%. Agora, algumas casas já colocam o banco em novo patamar de rentabilidade.Os analistas do Safra, por exemplo, afirmam que o fato de o banco ter conseguido expandir o ROE mesmo em um cenário desafiador é impressionante.“Mesmo que a forte receita tenha se beneficiado do sólido desempenho do banco de investimento e da área de vendas e negociação — o que pode não ser facilmente replicado no atual ambiente de mercado —, ainda observamos um resultado 5% acima do esperado, excluindo essas linhas”, diz o Safra.Para o banco, o que se desenha é uma instituição capaz de navegar por diferentes cenários, com um ecossistema diversificado. Prova disso é que o BTG teve recorde em várias linhas de receita.“O mercado pode estar subestimando o potencial do ROE caso o cenário melhore. Este trimestre não só deve gerar outra revisão de lucros — que pode chegar a cerca de 10%, considerando o consenso atual de R$ 17,6 bilhões —, como também eleva as expectativas para o banco”, afirmam os analistas.Na visão de analistas do Citi, mesmo diante de uma base de comparação elevada no início do ano, a sinalização de uma possível expansão do ROE em 2025 parece bastante factível.Bradesco, como meio cheio ou vazioDe maneira geral, analistas classificam o balanço como decente. A Genial recorda que o banco tem feito a lição de casa, tendo entregado a sétima alta sequencial desde o início do plano de reestruturação, anunciado em 2024.Segundo os analistas, o desempenho foi sustentado por crescimento sólido das receitas, que continuam sendo o principal motor da retomada da lucratividade. O destaque foi a margem financeira com clientes (NII Clientes).“O avanço consolida a recuperação de receitas observada ao longo de 2025, mantendo-se acima da marca de R$ 18 bilhões, após anos de estagnação em torno de R$ 16 bilhões.”Ainda conforme a Genial, essa melhora compensou o desempenho fraco da margem com mercado, enquanto as receitas de serviços se beneficiaram do bom resultado em cartões.Outro ponto positivo foi a unidade de seguros, que manteve trajetória sólida, com ROE de 22,4%, crescimento nos prêmios ganhos e bom resultado financeiro.Para o Safra, o Bradesco entregou exatamente o que prometeu, com números saudáveis de juros líquidos — a margem financeira com clientes já atingiu 9,0%.Isso é resultado da reestruturação e da renovação da carteira de empréstimos, um dos pilares do processo de melhoria do banco. Os empréstimos reestruturados da Fase 3 apresentaram queda de R$ 2,7 bilhões em relação ao trimestre anterior.Já o JPMorgan destacou as boas tendências da margem de juros líquida (NII) e da margem de intermediação financeira (NIM), que devem impulsionar o desempenho em relação às estimativas.SantanderNo Santander, os números foram recebidos com entusiasmo, com a ação subindo 3% no dia da divulgação.Apesar da animação do mercado, o JPMorgan viu um resultado sem qualidade.De acordo com os analistas, itens não recorrentes, como impostos, ajudaram o banco a inflar os números. Com isso, o resultado antes de impostos (EBT) ficou 6% abaixo do esperado.Ainda assim, diz o JPMorgan, com a expectativa era baixa, há muitos pontos positivos no balanço, entre eles:retomada da expansão da carteira de empréstimos;otimização de custos;melhores tarifas; econtrole da qualidade dos ativos.Banco do Brasil, o pior?Os analistas receberam os números com pessimismo. Além da queda do lucro e rentabilidade, o BB cortou a projeção de guidance.Nas palavras dos analistas do BTG, Eduardo Rosman, Thiago Pura, Ricardo Buchpiguel e Bruno Henriques, o balanço do BB veio “como o esperado”.“Como o esperado — especialmente após o Banco Central divulgar números de lucro líquido fracos para o BB em agosto — o banco estatal apresentou resultados fracos no 3T.”Na visão da equipe, o lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões teve um impacto “positivo” da alíquota de imposto, combinado com um ajuste de aproximadamente R$ 750 milhões relacionados a planos econômicos.Os analistas também chamaram a atenção para o EBT (lucro antes dos impostos). O indicador, considerado o “melhor” para análise de capacidade de geração de lucros, ficou quase 20% abaixo das estimativas do BTG Pactual devido a provisões maiores.Segundo o Citi, os resultados do terceiro trimestre enviaram um sinal negativo, indicando que a melhoria operacional deve levar mais tempo do que o esperado.“Além da revisão da projeção para 2025 — que indica maiores despesas com provisões e um lucro líquido menor, cerca de R$ 3 bilhões abaixo —, observamos dados preocupantes sobre a qualidade dos ativos”, afirmaram.A estatal revisou as projeções de lucro de R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões para R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões, o que surpreendeu analistas.“Acreditamos que a segunda revisão para baixo das projeções de 2025 indica baixa visibilidade para os próximos trimestres. O impacto das renegociações deve demorar mais do que o previsto para contribuir positivamente para os resultados — e esse era um ponto central da nossa tese”, destacou o Citi.Os analistas ainda ressaltam que o índice de cobertura continua caindo, mesmo com o aumento das despesas com provisões. Isso indica que novos créditos inadimplentes seguem acelerando, o que deve forçar o Banco do Brasil a ampliar provisões, mesmo com as renegociações em andamento.Qual banco comprar?Entre analistas, o otimismo é maior para o Itaú, seguido de BTG. No Banco do Brasil, o clima de ceticismo. Veja abaixo:BancoCompraNeutraVendaBradesco640Itaú720Santander630Banco do Brasil260BTG630Fonte: TradeMapO Citi, que era um dos bancos que mantinham recomendação de compra para a estatal, rebaixou a ação para neutra.Os analistas também passaram a tesoura no preço-alvo, que saiu de R$ 29 para R$ 23, o que representa potencial de alta de apenas 2,8%.“Acreditamos que a segunda revisão para baixo das projeções de 2025 indica baixa visibilidade para os próximos trimestres. O impacto das renegociações deve demorar mais do que o previsto para contribuir positivamente para os resultados — e esse era um ponto central da nossa tese”, destacou.Já o Itaú BBA vê maior potencial em Bradesco. Os analistas elevaram o preço-alvo para R$ 22, o que representa potencial de alta de 17% até 2026, e reafirmaram o Bradesco como o melhor banco da bolsa (top pick).Além disso, o banco é visto como boa opção para dividendos, com retorno estimado em 9%.Para Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barranjard, os resultados do terceiro trimestre mostraram que o desempenho operacional vem melhorando de forma consistente e sustentável.“Mais importante ainda, a capacidade de geração de receita do banco parece ter sido restaurada por meio de uma combinação de crescimento da carteira de empréstimos, gestão de spreads, receitas de serviços e seguros.”Foi sétima alta sequencial desde o início do plano de reestruturação, anunciado em 2024.E não só isso. Analistas acrescentam que a unidade de seguros também se beneficia de mudanças estruturais na área da saúde, “o que reforça ainda mais a sustentabilidade dos resultados”.No caso da XP, foi o Santander a ganhar pontos com a casa.Os analistas elevaram o preço-alvo do bancão de R$ 35 para R$ 37, o que representa um potencial de alta de 18%.De acordo com Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, que assinam o relatório, o banco tem potencial para entregar fortes dividendos, com dividend yield (retorno de dividendos) estimado em 9,5% para 2026.Eles também elevaram o payout (percentual do lucro distribuído aos acionistas) terminal de 65% para 75%.E como não bastasse, o papel apresenta uma assimetria atrativa, ou seja, não está totalmente precificado, mesmo após subir 32% no ano, impulsionado pela entrega de bons resultados.O BTG, por sua vez, tem o Itaú como favorito.Os analistas lembram que o Itaú vive um momento de virada em sua agenda de eficiência, com metas ousadas para os próximos 3 a 5 anos — incluindo migrar 100% para a nuvem, desativar o “banco antigo” (mainframes etc.) e melhorar em cerca de 10 pontos percentuais a relação custo/receita da operação de varejo.“Ao fazer isso, acreditamos que o Itaú estará disposto a aceitar redução de receita e cortes de preços em um movimento ofensivo para crescer acima do mercado — o que tornaria ainda mais difícil a vida dos demais incumbentes.”O Itaú permanece como a única recomendação de compra entre os bancos incumbentes no Brasil para o BTG.