Uma TV que não liga na hora do jogo, uma geladeira que não deixa a cervejinha no ponto ou uma air fryer que não esquenta são contratempos que ninguém espera enfrentar. No entanto, quando isso acontece, é comum surgir a dúvida: vale a pena consertar ou é melhor comprar um aparelho novo? Para especialistas, a resposta depende de alguns fatores, como custo de manutenção, tempo de uso e comparativo com tecnologias disponíveis no mercado.“Podemos decidir pela troca (do aparelho) quando o valor do reparo não ultrapassar cerca de 1/3 do preço do produto novo, e a vida útil do antigo não tiver ultrapassado a metade da expectativa de sua durabilidade”, explica Jorge Aldir Aranha, professor do curso de Engenharia Elétrica da Estácio.Thiago Gabriel, professor de Engenharia da Computação da mesma universidade, acrescenta que é preciso avaliar ainda se o defeito é recorrente ou grave, o custo das peças e o consumo de energia. “Não podemos descartar também os fatores referentes a fabricação, como a obsolescência programada, ou seja, a velha máxima de que os produtos de hoje são feitos para durar menos do que aqueles de antigamente.”Entre os consumidores, não há uma unanimidade. Alguns preferem não perder tempo e optar por um produto novo. Esse é o caso da auxiliar de serviços gerais Elaine Lima, de 45 anos. Ela já chegou a consertar um celular com a tela quebrada, mas, quando se trata de eletrodomésticos, prefere gastar um pouco mais e ir direto à loja. “Às vezes, o preço do conserto e do produto novo é quase idêntico. Já consertei celular, mas uma máquina de lavar e outros itens do tipo, acho que não valem a pena, na maioria das vezes. Prefiro comprar algo novo”, afirma.Por outro lado, há pessoas, como o motoboy Wesley Ribeiro, de 26 anos, que preferem entrar em contato com um técnico logo que um aparelho apresenta problemas. “Quando algo quebra, tento dar um jeito, ligo para um técnico. Dependendo do valor, conserto. Se compensar mais, compro um novo.”Reparo sem truquesAqueles que se dedicam à manutenção e ao conserto de eletrodomésticos contam com uma clientela fiel. Lucivaldo Silva, de 55 anos, é um desses profissionais. Especialista em consertos de micro-ondas, air fryers e panelas elétricas, ele atende cerca de 60 clientes por mês — entre pessoas físicas e empresas.E garante que vale a pena investir nos consertos. “Um micro-ondas barato custa cerca de R$ 500 na loja. Mas um de boa qualidade pode ser vendido por mais de R$ 800. Dependendo do problema, o preço do conserto varia entre R$ 80 e R$ 200. O reparo, muitas vezes, é feito em minutos.”A aposentada Eliana Fonseca, de 68 anos, no entanto, tem receio de ser enganada: “Prefiro comprar um aparelho novo, porque o profissional pode enganar. Tenho medo de trocarem a peça por uma velha, por exemplo.”Para Lucivaldo, é essencial escolher um profissional que seja sincero com o cliente. “Nem tudo vale a pena ser consertado, como quando o interior do micro-ondas está furado”, diz.O negócio tem dado tão certo, que ele investe na restauração de alguns produtos para revender em plataformas on-line. Após o anúncio, o item costuma ser vendido em até três dias, conta ele.Direitos na hora de acionar garantiasPara quem escolhe comprar um novo produto, há um direito estabelecido no Código de Defesa do Consumidor (CDC): a garantia de fábrica. A advogada Geovanna Santos explica que o cliente pode usar esse recurso quando o item apresenta defeito de fabricação que impede seu bom funcionamento, mesmo que seja identificado após o uso regular. No entanto, a fabricante fica isenta de responsabilidade em casos de mau uso, desgaste natural decorrente do tempo e intervenção técnica realizada por terceiros.“O consumidor não é obrigado a aceitar quando a empresa diz que houve mau uso. Ele pode pedir um laudo técnico detalhado, contendo fotos, análise e explicação do problema”, recomenda a advogada.De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), a lei determina um prazo de 30 dias úteis depois da notificação do defeito para a fabricante fazer o reparo. Se o problema não for resolvido nesse período, o cliente pode escolher outro produto igual, pegar o dinheiro de volta ou ter desconto proporcional.Outra opção é contratar a garantia estendida. Nesse caso, as regras são estabelecidas em contrato, e o serviço pode começar durante ou depois do fim da garantia de fábrica.“As pessoas estão mais preocupadas e acabam optando pela garantia estendida. Aqui, a contratação pode variar de 12 a 36 meses”, conta Diego Araujo, gerente das Casas Bahia.O advogado Ângelo Paschoini alerta sobre os cuidados que o consumidor deve ter na aquisição desse serviço. “O consumidor tem direito a receber tudo por escrito: o que cobre, o que fica de fora da garantia e como acionar”. Já a advogada Geovanna Santos orienta em casos de táticas abusivas. “O CDC proíbe cláusulas que limitem direitos básicos ou coloquem toda a responsabilidade no cliente. Quando isso acontece, o consumidor pode recorrer aos órgãos de defesa ou ao Judiciário”.Danos causados por picos de energiaPicos ou oscilações de energia podem causar danos a eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Nesses casos, é responsabilidade da concessionária ressarcir os prejuízos por meio do pagamento em dinheiro ou conserto — ou substituição — do equipamento. Antes, porém, é necessário fazer uma solicitação. “O consumidor pode solicitar diretamente à concessionária que arque com os danos, apresentando fotos, notas fiscais e diagnóstico do técnico que confirme que a queima ocorreu por oscilação na rede. A empresa deve analisar o pedido e responder dentro do prazo regulamentado”, diz a advogada Geovanna Santos, especialista em Direito do Consumidor.Para clientes da Enel, a abertura do processo de ressarcimento pode ser solicitada pelo site www.enel.com.br, pelo aplicativo Enel, pelo 0800-280-0120 ou em uma das lojas. No caso da Light, os pedidos podem ser feitos via agenciavirtual.light.com.br, WhatsApp (21) 99981-6059, aplicativo Light Clientes, telefone 0800-021-0196 ou Facebook (@lightclientes).A advogada destaca ainda que a concessionária fica livre da responsabilidade quando comprova que o dano não teve relação com o serviço de fornecimento e manutenção de energia elétrica.Para quem quer evitar danos em situações de oscilação, a Enel Rio orienta desligar os aparelhos da tomada e aguardar a estabilização do fornecimento. Outra medida preventiva é o uso de dispositivos de proteção, como filtros de linha, que ajudam a reduzir os riscos provocados por variações bruscas de tensão.Como aumentar vida útil dos aparelhosConfira as dicas que apuradas com a Enel Rio.GeladeiraMantenha o eletrodoméstico afastado de paredes e fontes de calor, como fogão e janelas ensolaradas, e nunca utilize a parte traseira do equipamento para secar roupas ou sapatos. Além disso, não abra a porta desnecessariamente e verifique se sua borracha de vedação está funcionando corretamente. Em dias frios, reduza a potência de resfriamento da geladeira, já que a temperatura externa estará mais baixa.Máquina de lavarNão esqueça de limpar o filtro regularmente e de utilizar a quantidade correta de produtos na hora da lavagem. Vale também evitar sobrecarga de roupas e verificar se a instalação elétrica está adequada.Micro-ondasNão utilize utensílios metálicos. Além disso, mantenha o aparelho limpo, especialmente a área da ventoinha, para evitar seu superaquecimento.TelevisãoEvite deixar a TV ligada por longos períodos sem necessidade. Além disso, desligue o aparelho quando não estiver usando. O modo “stand by” continua consumindo energia. Por isso, vale programar o timer (desligamento automático).Ar-condicionadoLembre de limpar regularmente o filtro e manter as janelas fechadas durante o uso do aparelho. Vale ajustar sua temperatura para 23°C, que é considerado um ponto de equilíbrio entre conforto e eficiência.Panela elétrica e air fryerÉ importante limpar as resistências com cuidado, além de evitar o uso de extensões ou adaptadores. A orientação dos técnicos é para sempre conectar o aparelho diretamente em tomadas adequadas à sua potência.Celular e notebookTente evitar o uso dos aparelhos durante seu carregamento e não os deixe conectados à tomada após a carga ser totalmente concluída. Em dias de tempestade, o ideal é desconectá-los da energia. No caso de computadores, é importante lembrar de desligar o equipamento sempre que ele ficar mais do que duas horas sem ser utilizado. Em caso de inatividade por mais de 15 minutos, a orientação dos especialistas é para desligar o monitor.The post Deu defeito na TV ou micro-ondas: vale a pena comprar um novo ou consertar o antigo? appeared first on InfoMoney.