Nas últimas semanas, o debate sobre o Drex ganhou intensidade após o anúncio de que o projeto seguiria para a próxima etapa sem o uso de blockchain. Isso gerou interpretações de que a iniciativa teria sido interrompida, mas essa leitura ignora o impacto estrutural deixado pela fase piloto. O Drex pode estar sendo repensado, mas o que realmente permanece é um mercado financeiro mais atento à infraestrutura digital, mais consciente da programabilidade e mais disposto a discutir ativos tokenizados com profundidade. O que mudou não foi o objetivo, mas o caminho técnico escolhido, enquanto o aprendizado acumulado se consolidou como parte relevante da evolução do sistema.Leia também: Tecnologia do Drex não se revelou viável, diz presidente do Banco CentralO piloto revelou limitações técnicas, mas acelerou o entendimento do mercadoDurante os testes, instituições precisaram operar em um ambiente orientado por código, no qual regras eram executadas automaticamente. Esse processo trouxe familiaridade com conceitos como liquidação atômica, auditoria contínua e rastreamento de informações. Mesmo com a retirada da blockchain do núcleo do Drex, o mercado amadureceu a compreensão sobre onde transparência, composabilidade e registros imutáveis entregam ganhos concretos. Ficou claro que a arquitetura adotada não atendia aos requisitos de privacidade e escala do sistema financeiro, mas também ficou evidente que experiências práticas ajudam a entender como diferentes tecnologias convivem. O piloto transformou incertezas em fundamentos e preparou o setor para discussões mais profundas sobre eficiência e segurança.Reguladores evoluíram em alinhamento com as lições do pilotoEnquanto o Drex era ajustado internamente, a regulação seguiu avançando. A CVM intensificou debates sobre tokenização, revisou interpretações e fortaleceu estruturas capazes de acomodar emissões digitais com segurança. O Banco Central manteve o foco na liquidação digital e incorporou aprendizados do piloto em discussões mais amplas sobre inovação financeira. A Receita Federal, por sua vez, aprimorou exigências de reporte, reforçando a importância de dados confiáveis e governança alinhada a padrões internacionais. Essa convergência institucional mostrou que o país passou a tratar auditoria, padronização e interoperabilidade como pilares da modernização, criando um ambiente mais sólido para novas soluções digitais. O Drex não isolou a inovação. Ele estimulou um ecossistema regulatório mais atento às demandas tecnológicas.Empresas e investidores aceleraram a adoção de modelos digitaisA mudança do Drex não freou o avanço privado. Pelo contrário. Empresas intensificaram o uso da tokenização, passaram a empregar contratos inteligentes em rotinas operacionais e adotaram registros imutáveis para conciliações mais eficientes. Investidores também evoluíram, ampliando o interesse por dados verificáveis e reduzindo a dependência de relatórios estáticos. A percepção de que a tokenização oferece eficiência, redução de fricções e maior segurança ganhou força, inclusive entre perfis mais conservadores. O piloto contribuiu para essa mudança ao mostrar que modelos programáveis resolvem problemas práticos de conciliação, custo e transparência. Com isso, o mercado entendeu que o sucesso ou não do piloto do Drex não limita o avanço da tokenização, que segue crescendo onde entrega valor real.O legado que estabelece a base para a próxima fase digitalO projeto de aplicar infraestrutura blockchain e seus benefícios no mercado não foi interrompido. Ele foi redirecionado. E, ao passar por essa fase, o Brasil saiu mais preparado para lidar com infraestrutura programável, modelos de liquidação digital e estruturas baseadas em lógica verificável. A blockchain pode não ter se mantido como base da moeda digital nacional, mas se consolidou como referência de eficiência e transparência para o mercado financeiro. O que realmente permanece é a maturidade adquirida, com reguladores, empresas e investidores discutindo tecnologia com mais precisão e menos ruído. Esse legado sustenta a próxima etapa da digitalização e posiciona o país para construir soluções que combinam escala, segurança e inovação de forma coordenada. O Drex serviu para o que se propôs: foi um piloto. Uma base para testes, experiências e contato prático com a tecnologia. E apesar de não ter solucionado todas as dores, deixou um mercado mais pronto para o futuro.Sobre o autorDaniel Coquieri é CEO da empresa de tokenização de ativos Liqi Digital Assets. Empreendedor do ramo da tecnologia, foi fundador da BitcoinTrade, uma das primeiras corretoras de criptomoedas do Brasil.No MB, a sua indicação vale Bitcoin para você e seus amigos. Para cada amigo que abrir uma conta e investir, vocês ganham recompensas exclusivas. Saiba mais!O post Drex mudou de direção, mas deixou um mercado mais preparado para a tokenização apareceu primeiro em Portal do Bitcoin.