A ordem de prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi emitida na madrugada de sábado (22), após ser constatada uma tentativa de violação de sua tornozeleira eletrônica com o uso de um ferro de solda. O pedido de prisão foi feito pela PF (Polícia Federal) e determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).Conduzido pelos agentes federais no início da manhã de sábado, o ex-presidente está preso desde então em uma sala na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Ainda neste domingo (23), Bolsonaro passará por audiência de custódia.A Primeira Turma do STF marcou para a próxima segunda-feira (24) o julgamento virtual para analisar a prisão preventiva. Os magistrados terão das 8h às 20h para votar se referendam ou não a decisão de Alexandre de Moraes.Entenda a prisão em cinco pontos:Violação de tornozeleiraDois fatos principais motivaram a determinação de Moraes: uma vigília convocada na sexta-feira (21) pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em frente ao condomínio do ex-presidente, e a violação da tornozeleira eletrônica utilizada pelo ex-chefe do Executivo.A PF argumentou no pedido de prisão o possível risco concreto de fuga e ameaça à ordem pública. A solicitação foi enviada ainda na noite de sexta com a justificativa de que a concentração de apoiadores para a vigília tinha potencial para se estender por dias.Às 0h08, o Cime (Centro Integrado de Monitoração Eletrônica), ligado à Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal), comunicou Moraes sobre a tentativa de violação da tornozeleira, que precisou ser trocada.Às 1h35 o procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi acionado e assinou parecer informando que a PGR (Procuradoria-Geral da República) não tinha oposição ao pedido da PF sobre a prisão. Moraes determinou a prisão ainda de madrugada.Na tarde de sábado, Moraes retirou o sigilo de um vídeo que mostra a tornozeleira danificada. Ao fundo, é possível ouvir Bolsonaro admitir que utilizou ferro de solda para queimar o equipamento. Ele afirma no vídeo que começou a aplicar ferro de solda sobre a tornozeleira “no final da tarde” de sexta-feira (21).Segundo ele, a ação foi motivada por “curiosidade“. Questionado, negou ter tentado romper a pulseira do equipamento.Relatório da Seape-DF enviado ao STF registra que seu centro de monitoramento havia gerado um alerta indicando “violação do dispositivo”.De acordo com a Seape, o equipamento tinha “sinais claros e importantes” de avaria, com “marcas de queimadura” no local de encaixe e fechamento do dispositivo. Agentes não identificaram avarias na pulseira da tornozeleira.“A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga”, disse Moraes em sua decisão.O ministro deu prazo de 24 horas para que a defesa de Bolsonaro explique a violação na tornozeleira. Para aliados do ex-presidente, ele estava em “surto” quando decidiu danificar o equipamento.Vigília por BolsonaroA decisão de Moraes pela prisão preventiva relaciona a violação da tornozeleira com uma vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) nos arredores do condomínio onde seu pai cumpria prisão domiciliar.Segundo o ministro, houve, na realidade, uma “convocação de manifestantes disfarçada de ‘vigília’ pela saúde do réu Jair Messias Bolsonaro”. Ele argumentou que a violação do equipamento representava “altíssimo risco para a efetividade da prisão domiciliar decretada” e para a “efetividade da lei penal”, o que facilitaria uma eventual fuga do ex-presidente.Mesmo após a iniciativa ter sido citada na decisão de Moraes, o senador, primogênito do ex-presidente, manteve a vigília pela saúde de Bolsonaro e reforçou a convocação de apoiadores em uma transmissão ao vivo nas redes sociais.Inicialmente, Flávio divulgou a vigília na manhã de sexta-feira (21), convocando uma corrente de orações pela saúde do ex-presidente. Mantida após a prisão, a vigília foi realizada próxima ao condomínio onde Bolsonaro reside.O ato teve a participação de parlamentares aliados, além de outro filho do ex-chefe do Executivo, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). No local, Flávio conversou com jornalistas e reforçou críticas à decisão de Moraes e ao que chamou de “fundamentação esdrúxula” do ministro por ter citado a vigília como embasamento para a prisão.Realizada em local público, a vigília contou com um carro de som e orações conduzidas por pastores. O ato durou pouco mais de uma hora e terminou em confusão após um discurso a favor da prisão de Bolsonaro.Um homem que se identificou como pastor Ismael Lopes fez pregações e responsabilizou o ex-presidente pelas mortes da pandemia da covid-19. Ele deixou o local sob empurrões e xingamentos de apoiadores do ex-presidente.Condução à PFA Polícia Federal chegou ao condomínio de Bolsonaro por volta das 6h da manhã. O ex-chefe do Executivo foi conduzido em viaturas descaracterizadas. Moraes determinou que a prisão ocorresse sem algemas e sem exposição ao ex-presidente.Bolsonaro foi então levado à superintendência da PF, onde desembarcou por volta das 6h35. No local, foi submetido a exame de corpo de delito no INC (Instituto Nacional de Criminalística) da PF. A tornozeleira foi retirada após a prisão. Bolsonaro estava sob uso do equipamento desde 18 de julho deste ano.Na sede da PF, o ex-presidente foi alocado em uma cela especial em uma sala privativa composta por banheiro reservado, cama, televisão, frigobar, ar-condicionado e uma mesa de trabalho.O ambiente é uma sala adaptada, semelhante ao espaço que abrigou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre 2018 e 2019, em Curitiba (PR).Prisão domiciliar e saúdeO ministro Alexandre de Moraes negou ainda no sábado o pedido da defesa de Bolsonaro para conceder prisão domiciliar humanitária.Na sexta-feira (21), os advogados protocolaram um pedido para que a pena a qual Bolsonaro foi condenado na trama golpista (27 anos e três meses de prisão) fosse automaticamente convertida em prisão domiciliar, ou seja, que a pena definitiva em regime fechado fosse, na verdade, cumprida em casa.O mandado de prisão preventiva expedido neste sábado (22), porém, determina que Bolsonaro permaneça na Superintendência da Polícia Federal até que ocorra o trânsito em julgado da condenação.Entre os principais argumentos da defesa está a saúde debilitada de Bolsonaro. Os advogados apresentaram nove exames e um relatório médico para tentar manter a prisão domiciliar. Eles alegam que a prisão de Bolsonaro em uma penitenciária pode representar “risco à sua vida” e pode gerar “graves consequências” no seu quadro de saúde.Apesar de negar o regime domiciliar, Moraes determinou a disponibilização de atendimento médico em tempo integral Bolsonaro na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. A defesa do ex-chefe do Executivo também aguarda decisão sobre pedido de autorização para que Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente possam visitar Bolsonaro na prisão.Bolsonaro estava em prisão domiciliar há mais de 100 dias. A condição foi determinada por Moraes em 4 de agosto. Ele teve a prisão domiciliar decretada após descumprir uma série de medidas restritivas, no âmbito do inquérito que apura a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o sistema Judiciário. Nesse processo, o filho do ex-presidente foi denunciado pela PGR.Ação penal do plano de golpeA prisão de Bolsonaro decretada no sábado é uma medida preventiva. Ainda não houve execução da pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado contra o ex-chefe do Planalto. Ele foi condenado pelo STF em 11 de setembro e o processo ainda está na fase final de recursos.O prazo de cinco dias para o último recurso da defesa do ex-presidente e outros seis condenados do chamado “núcleo crucial” foi aberto na terça-feira (18). Após essa etapa, prevista para se encerrar na noite de segunda-feira (24), o processo pode ser concluído – o chamado transitado em julgado – e o ministro Alexandre de Moraes deve determinar a execução da pena.Pelo mandado de prisão expedido, Bolsonaro permaneça na Superintendência da PF até que ocorra o trânsito em julgado da condenação. Quando o início da execução da pena for autorizado, Moraes poderá reavaliar o local de cumprimento – se será na própria sede da PF, no Complexo da Papuda ou em regime domiciliar.Veja vídeo de Bolsonaro admitindo que violou tornozeleira eletrônica | AGORA CNN