A temporada de resultados do terceiro trimestre de 2025 (3T25) no Brasil chegou ao fim. As expectativas eram de números no gerais vistos como “desafiadores” e sinais mais claros de desaceleração econômica em meio ao cenário de juros altos, com a Selic a 15% ao ano.Mas essas expectativas se confirmaram?Não na visão da XP Investimentos que, em relatório de estratégia, destacou que os resultados da empresa que acompanha foram melhores do que o esperado. Além disso, os dados mostraram que esta foi a melhor temporada dos últimos 5 trimestres.Entre as empresas que a XP acompanha, 39% superaram suas estimativas de receita, 18% ficaram aquém e 43% vieram em linha. Já para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), 35% superaram, 12% decepcionaram e 53% ficaram em linha.No lucro líquido, 55% superaram, 23% ficaram abaixo e 22% ficaram em linha. “Em relação ao 2T25, as surpresas de lucro líquido diminuíram ligeiramente, mas permaneceram em níveis historicamente elevados, enquanto receita se destacou como o principal ponto positivo — com o percentual de surpresas positivas aumentando 7 pontos percentuais, apesar das preocupações recentes sobre desaceleração da atividade econômica”, avalia a equipe de estrategistas. Em termos de crescimento anual, a visão é de receitas ainda resilientes, mas uma tendência de lucro líquido mais fraca, pressionada por commodities. As empresas da cobertura XP apresentaram crescimento consolidado de +5,9% em receita e -5,5% em lucro líquido versus o 3T24. Enquanto isso, os cíclicos domésticos mostraram crescimento em todas as principais métricas, incluindo uma expansão de Ebitda de dois dígitos. “Para o Ibovespa, todas as três métricas cresceram ano a ano: Receita +2,3%, Ebitda +0,6% e Lucro +33,1%”, aponta a equipe de estratégia.Leia tambémIbovespa Hoje Ao Vivo: Confira o que movimenta Bolsa, Dólar e Juros nesta quartaÍndices futuros dos EUA avançam à espera do balanço da Nvidia BB ruim como esperado, Itaú destaque de novo: como foi a temporada dos bancos?BB reportou queda de 60% do lucro ajustado, enquanto Itaú teve novamente números sólidosO Itaú BBA também viu uma temporada melhor do que o previsto, com dados de receita em linha com as suas projeções, Ebitda 2,6% de suas expectativas e lucro líquido 8,6% acima ao olhar para as empresas do Ibovespa. Já na visão do BTG Pactual, à primeira vista, os resultados – excluindo Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3) parecem mistos, com receita e Ebitda 1,6% e 1,5% acima de suas projeções, enquanto o lucro líquido ficou 3,0% abaixo das suas expectativas. Em comparação com o ano anterior, a receita (excluindo Petrobras e Vale) e o Ebitda aumentaram 10% e 7% ano a ano, respectivamente, enquanto o lucro líquido diminuiu 22% na mesma base de comparação.“No entanto, ao ajustar os lucros do terceiro trimestre de 2024 pelos eventos pontuais relevantes que impulsionaram os resultados da Vibra (VBBR3), Sabesp (SBSP3) e Cemig (CMIG4), os lucros do terceiro trimestre de 2025 diminuíram 11% ano a ano”, apontam os analistas. Ao olharem apenas as empresas que vendem principalmente no mercado interno, os resultados ficaram ligeiramente acima do esperado pelos analistas.Os analistas do Safra viram os números em linha com as projeções. Receita, Ebitda e lucro líquido ficaram em linha com suas expectativas (+1,1%, +3,8% e +2,8%, respectivamente). Na comparação anual, a receita cresceu 4,5%, o Ebitda aumentou 3,5%, mas o lucro líquido caiu 5,1%.Para o banco, as despesas financeiras mais altas, devido à taxa Selic mantida em 15% ao ano durante o trimestre, começaram a impactar as empresas de forma mais significativa. Gigantes de commodities, como Petrobras e Vale, apresentaram resultados sólidos com aumento do lucro, mas não com a mesma magnitude do trimestre anterior devido a uma base de comparação mais difícil (crescimento do lucro líquido de 15,6% ao ano no 3T25 versus +183% anualmente no 2T25).Para as empresas domésticas, a desaceleração do lucro ficou mais clara (na base de comparação anual, uma vez que houve queda de 13,8% no 3T25 versus alta de 5,5% no 2T25 ante o 2T24). Por setor, 9 dos 16 acompanhados pelo banco mostraram crescimento do lucro ano a ano e nenhum reportou prejuízo.Quais foram os destaques positivos e negativos da temporada?Destaques positivosA XP vê construtoras, telecom & tecnologia e commodities – com destaque para o segmento de óleo e gás – como os destaques positivos da temporada.No setor de construção, as empresas voltadas para baixa renda apresentaram desempenho sólido no 3T25, aponta a XP, com margem bruta ainda robusta ou em trajetória de recuperação após lançamentos antigos menos rentáveis. A demanda permaneceu forte e o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) continua a melhorar a acessibilidade, com novas condições anunciadas recentemente, destacam os analistas. Cury (CURY3) e Direcional (DIRR3) foram novamente os destaques, entregando forte crescimento de receita (+30,7% ano contra ano, em média), impulsionado principalmente por maiores vendas líquidas e transferências, além de se beneficiarem de custos de materiais controlados.No segmento de média/alta renda, o desempenho permaneceu resiliente, sustentado por dados operacionais sólidos, apesar de um ambiente macroeconômico desafiador e restrições contínuas de financiamento. Já no setor de telecom, os resultados foram sólidos e em linha ou ligeiramente acima das expectativas. Vivo (VIVT3) apresentou execução consistente com forte geração de caixa, enquanto TIM (TIMS3) superou as expectativas de lucro líquido em 9% versus a projeção da XP, impulsionada por uma margem recorde de 51,7% devido ao controle de custos. No segmento de Tecnologia, os resultados superaram amplamente as expectativas, com a Totvs (TOTS3) sendo o principal destaque, com forte crescimento de receita e surpresas positivas nas margens de Management e na receita de Techfin.Entre as commodities, no segmento de E&P (exploração e produção de petróleo), o desempenho foi impulsionado principalmente por fatores específicos de cada empresa, já que o Brent permaneceu estável na comparação trimestral, em US$ 69 o barril.“A Petrobras (PETR3;PETR4) atendeu às altas expectativas, superando as estimativas com forte geração de fluxo de caixa livre para o acionista (FCFE) e anunciando uma sólida distribuição de dividendos”, avalia a XP. Enquanto isso, as distribuidoras de combustíveis se beneficiaram de um ambiente competitivo mais favorável. Os preços domésticos permaneceram estáveis e ligeiramente abaixo da paridade de importação (especialmente para o diesel), sustentando margens mais saudáveis, com Vibra (VBBR3) e Ultrapar (UGPA3) reportando resultados em linha com as expectativas.Em papel e celulose, a XP vê que a Suzano (SUZB3) continua a se beneficiar da eficiência de custos de celulose, que ajuda a compensar o atual ambiente de preços mais fracos, enquanto o mercado continua focado em possíveis aumentos de preços e novas reduções de custos nos próximos trimestres. Já a Klabin (KLBN11) apresentou resultados um pouco melhores do que o esperado, sustentados por volumes sólidos de papel e controle eficaz de custos.O Safra cita as construtoras também entre os destaques positivos, avaliando que as vendas foram impulsionadas por lançamentos maiores, levando a elevados retornos sobre patrimônio (ROEs).Os analistas do banco também apontam mais 4 setores. Entre eles o segmento de rodovias pedagiadas, com crescimento orgânico do tráfego, novas concessões integradas, eliminação/substituição de contratos não rentáveis e expansão de margem via controle de despesas, embora o resultado final seja limitado por maiores despesas financeiras.Leia mais:Hapvida: por que o Goldman cortou preço-alvo em 46%, mas mantém compra para HAPV3Além disso, locadoras de veículos foram citadas como destaque positivo, com forte desempenho em todas as divisões, crescimento da receita impulsionado por tarifas mais altas e expansão de margem via renovação da frota, que reduziu custos de manutenção. Já no setor farmacêutico, houve sólido crescimento de vendas com ganhos de margem. Por fim, estão as distribuidoras de energia, com boa disciplina de custos, preservando margens mesmo com volume de vendas mais fraco.O Itaú BBA, ao olhar para os números, ressalta seis ações com forte impulso olhando para os resultados: Rede D’Or (RDOR3), Localiza (RENT3), BTG Pactual (BPAC11), Bradesco (BBDC4), GPS (GGPS3) e Equatorial (EQTL3). Destaques negativosA equipe de estratégia da XP vê dois setores como os principais destaques negativos: educação e varejo.Para as varejistas, avalia a XP, o trimestre foi marcado por um cenário macroeconômico mais desafiador, que impactou o crescimento das empresas, com as receitas desacelerando em relação ao trimestre anterior. Houve algumas exceções à dinâmica mais fraca das receitas, como: Mercado Livre (BDR: MELI34) – com seus fortes investimentos, como o novo limite para frete grátis, mostrando resultados; RD Saúde (RADL3) – beneficiada pelo desempenho do GLP-1, usados no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2; e players de saúde e bem-estar como Smart Fit (SMFT3), Track&Field (TFCO4) e Vulcabras (VULC3), que capturaram o forte momento desse subsegmento. Um destaque positivo no trimestre foi a Alpargatas (ALPA4), com margens melhorando tanto no Brasil quanto nas operações internacionais, enquanto a Vivara (VIVA3) também apresentou crescimento robusto e melhores margens devido ao alto estoque de ouro.Ainda no segmento de alta renda, a Azzas 2154 (AZZA3) apresentou resultados mistos, com sua unidade de negócios Basic (Hering) prejudicando tanto o crescimento quanto a rentabilidade, enquanto a Fashion Women manteve um bom desempenho, e o controle de SG&A (vendas, gerais e administrativas) ajudou a sustentar a margem Ebitda.Diferentemente do trimestre anterior, os varejistas de vestuário apresentaram crescimento mais fraco nas receitas, principalmente devido ao clima mais frio e comparativos difíceis; por outro lado, C&A (CEAB3) e Guararapes (GUAR3) conseguiram expandir margens Ebitda com menos descontos e controle de despesas, enquanto a Lojas Renner (LREN3) teve mais desvantagens devido à sua maior exposição a regiões mais frias. No lado negativo, o varejo alimentar se destacou com Assai (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3) apresentando crescimento abaixo da inflação nas vendas mesmas lojas, devido ao cenário macroeconômico desafiador e forte concorrência, enquanto a Natura (NATU3) também teve crescimento limitado por desafios macroeconômicos e impacto da segunda onda na Argentina. Além disso, as tendências de receita do e-commerce permaneceram pressionadas, com as empresas priorizando margens.O Safra também aponta o varejo alimentar como um dos destaques negativos, sendo um período marcado por desaceleração nas vendas mesmas lojas, queda no volume de vendas e contínua troca para produtos mais baratos (trade-down).O banco avalia também o setor de saneamento como uma frustração no trimestre, com volumes e tarifas médias abaixo do esperado e margem pressionada por altos custos operacionais. Por fim, está o setor de bebidas, com um trimestre marcado por volumes fracos no Brasil, tanto para cerveja quanto para bebidas não alcoólicas.Sinais de teleconferências: o que esperar daqui para frente?Analisando as palavras mais mencionadas nas teleconferências de resultados do 3T25, o Safra nota uma melhora no sentimento. Ao selecionar as palavras mais citadas para entender a evolução do sentimento desde o 2T25, o banco observa um tom mais positivo da gestão das empresas, especialmente pela menor menção a termos relacionados à condição macroeconômica, como “taxa de juros” e “inflação”. “Entre as palavras que mais aumentaram em menções na comparação trimestral (3T25 versus 2T25), destacam-se ‘favorável’ e ‘sólido’, evidenciando uma mensagem mais positiva para o trimestre”, avalia a equipe de estratégia. Olhando para frente, a XP avalia que as estimativas de lucro por ação (LPA) para 2025 foram revisadas para cima em +2,1% ao longo da temporada, enquanto as projeções para 2026 sofreram uma leve revisão negativa de 0,4%. “Embora as expectativas para 2025 tenham sido revisadas positivamente após o conjunto sólido de resultados no 3T25, as estimativas para 2026 permanecem praticamente inalteradas, apesar do rali recente da Bolsa brasileira e do maior otimismo em relação ao início do ciclo de corte de juros no país”, aponta. Setorialmente, Serviços de Comunicação e Materiais tiveram as maiores revisões positivas de LPA (Lucro por ação) desde o início da temporada, enquanto Energia e Consumo Básico registraram as revisões mais negativas.O Safra também nota um leve aumento nas expectativas por resultados positivos em comparação ao 3T25. Houve aumento na projeção de resultados positivos (51,6% em 4T25 versus 48% em 3T25), queda na projeção de resultados neutros (32,0% em 4T25 ante 38,9% em 3T25), mas um aumento mais significativo nas expectativas de resultados negativos (18% em 4T25 versus 13,0% em 3T25). “A perspectiva para o 4T25 parece alinhada com a desaceleração econômica em curso, mas contrasta com o tom de melhora visto nas teleconferências do 3T25”, aponta. Olhando estritamente para o 4T25, o Safra projeta resultados positivos para os seguintes setores: (i) Distribuição de combustíveis; (ii) Mineração; (iii) Distribuição de energia; (iv) Telecomunicações e Tecnologia; (v) Shoppings; (vi) Farmácias; (vii) Construtoras e (viii) Rodovias pedagiadas.The post Qual o saldo da temporada de resultados do 3T25? Veja destaques positivos e negativos appeared first on InfoMoney.