O Irã está disposto a retomar as negociações nucleares com os Estados Unidos, desde que sejam conduzidas com respeito, disse um alto funcionário iraniano à CNN nesta terça-feira (18), insistindo que Teerã não mudará a posição que mantinha antes dos ataques dos EUA e de Israel em junho.“Eles precisam dar o primeiro passo para demonstrar que estão dispostos a dialogar conosco sob as condições que impusermos… isso precisa ser baseado em igualdade de condições e respeito mútuo”, disse Kamal Kharrazi, assessor de política externa do líder supremo, Aiatolá Ali Khamenei, em entrevista exclusiva à CNN em Teerã. “A agenda será preparada com antecedência para garantir a clareza do conteúdo e o andamento das discussões.”“Infelizmente, o presidente (Donald) Trump não acredita no diálogo diplomático, mas prefere usar a força para atingir seus objetivos”, acrescentou.Mais tarde, na terça-feira (18), Trump disse que o Irã está demonstrando “muito” interesse em fechar um acordo com os EUA sobre seu programa nuclear.“Eles gostariam muito de fazer um acordo conosco, e nos ligam, e provavelmente acabaremos fazendo isso, esse é o Irã”, disse Trump em uma sala repleta de convidados ilustres em um jantar na Casa Branca em homenagem ao príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman. Leia Mais Irã diz que EUA não estão prontos para conversas nucleares "justas" Trump "estende a mão" para o Irã e aponta para novo acordo nuclear Irã pede que ONU responsabilize EUA por ataques em instalações nucleares Os comentários do presidente ecoaram declarações que ele havia feito mais cedo naquele dia, quando indicou estar aberto a negociações.Kharrazi indicou que as condições do Irã para uma reaproximação com Washington não mudaram desde que os EUA e Israel atacaram suas instalações nucleares em junho, acrescentando que o enriquecimento de urânio continuará porque o país precisa do combustível para suas usinas de energia e para fins medicinais. O programa de mísseis balísticos de Teerã, que segundo ele está em expansão, também ficará fora da mesa de negociações. “É apenas a questão nuclear que discutiremos com os Estados Unidos”, afirmou.Em junho, o governo Trump e o Irã estavam em meio a negociações para resolver sua disputa quando Israel lançou um ataque surpresa contra o Irã, o que acabou envolvendo Washington, que realizou ataques a três instalações nucleares iranianas, o primeiro ataque direto dos EUA em território iraniano.Quase cinco meses depois, os danos às instalações nucleares do Irã ainda não foram avaliados, disse Kharrazi.No domingo (16), o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Saeed Khatibzadeh, disse à CNN que, apesar dos graves danos à “infraestrutura, maquinário” e “edifícios”, o programa nuclear do país permanecia “intacto”. No mesmo dia, o ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, afirmou que não havia enriquecimento de urânio em andamento “neste momento”, pois as instalações do país haviam sido atacadas.Durante as negociações entre Irã e Estados Unidos, Washington insistiu que o Irã interrompesse completamente o enriquecimento de urânio, enquanto Teerã se mostrou irredutível quanto à continuidade do enriquecimento doméstico até um nível de pureza que não pudesse ser utilizado na construção de bombas nucleares. O urânio altamente enriquecido é um componente essencial de uma arma nuclear.Kharrazi afirmou que o “grau de enriquecimento”, e não o enriquecimento em si, seria o foco de potenciais negociações com os EUA.Questionado se estava preocupado com outro confronto militar com os EUA ou Israel, ele disse: “Tudo é possível. Mas estamos preparados para isso.”Em junho, a CNN noticiou que Washington havia feito uma proposta de acordo nuclear segundo a qual os EUA investiriam no programa de energia nuclear civil do Irã e se juntariam a um consórcio que supervisionaria o enriquecimento de urânio em baixa atividade no Irã por um período indeterminado. Esperava-se que esse potencial consórcio incluísse nações do Oriente Médio e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de vigilância nuclear da ONU.Na época, autoridades iranianas afirmaram repetidamente estar abertas à ideia de um consórcio de enriquecimento, mas insistiram que o Irã deveria ser capaz de manter o controle de suas próprias capacidades de enriquecimento.Questionado pela CNN se há espaço para chegar a um entendimento com os EUA sobre o programa nuclear do Irã, incluindo um possível consórcio, Kharrazi disse: “Acho que sim”.“Se houvesse negociações genuínas entre o Irã e os Estados Unidos, existem maneiras de garantir que o Irã possa continuar seu enriquecimento de urânio e, ao mesmo tempo, assegurar aos outros que não pretende desenvolver armas nucleares.”Kharrazi também tinha uma mensagem para Trump.“Comecem com uma abordagem positiva em relação ao Irã. Se for positiva, certamente será recíproca. Mas para isso, eles (os EUA) precisam se abster de usar qualquer força contra o Irã”, disse ele. “Eles já tentaram isso e agora entendem que não é aceitável e não funciona.”O que são e como funcionam as armas nucleares?