CDB, LCI e LCA: Como avaliar a saúde financeira do banco emissor antes de aplicar

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CDBs, LCIs e LCAs têm ganhado espaço na carteira de renda fixa dos investidores, sobretudo por conta do atual patamar de taxa de juros, com a taxa Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), a cada 45 dias, atualmente, em 15% ao ano.Os investimentos em renda fixa, portanto, podem trazer retornos atrativos, com as mais diferentes taxas e prazos de vencimento dos títulos.Especialmente no caso dos CDBs, das LCIs e das LCAs, que são créditos bancários, ou seja, emitidos por instituições financeiras, eles contam ainda com a cobertura adicional do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). No entanto, a decisão de investir não deve se apoiar apenas na rentabilidade oferecida pelo banco emissor. Isso acontece, principalmente, em momentos como o de agora, quando o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, nesta terça-feira (18).Antes de escolher o CDB, a LCI ou a LCA para investir, na plataforma das corretoras, é essencial observar também o emissor do título e, consequentemente, a sua saúde financeira.Ao analisar a saúde do emissor — capital, liquidez, qualidade da carteira e gestão — é possível saber se o prêmio (o juro pago) oferecido compensa o risco, sobretudo quando o valor supera o limite do FGC ou quando o título não conta com garantia. A seguir, entenda quais são os aspectos que o investidor deve avaliar sobre a saúde financeira das instituições.Como saber se um banco está saudávelAntes de o investidor aplicar seus recursos, vale analisar o banco emissor por três lentes.A primeira é a sobrevivência, que reúne capital e liquidez para atravessar choques e honrar resgates. A segunda é a resiliência, ligada à qualidade da carteira de crédito e à disciplina de gestão. A terceira é a criação de valor, que depende de rentabilidade recorrente e não de “eventos” pontuais.Em artigo sobre como analisar a saúde financeira das instituições, a XP destaca que o método CAMEL — Capital, Asset Quality, Management, Earnings e Liquidity — organiza essa análise do balanço de bancos e ajuda o investidor de CDB, LCI e LCA a distinguir emissões com bom risco-retorno de promessas que não se sustentam.Como ressalta a XP, olhar a tendência de alguns anos e comparar com pares do mesmo nicho reduz surpresas.Capital e liquidez (sobrevivência)Para quem compra títulos bancários, capital é o primeiro filtro. O Índice de Basileia, que relaciona patrimônio de referência e ativos ponderados por risco, indica a folga para absorver perdas e seguir emprestando.Um nível muito próximo do mínimo regulatório limita o crescimento e pode exigir aportes; um patamar bem acima, por sua vez, pode sugerir capital ocioso e eficiência menor.Dentro desse conjunto, o CET1 — a parte mais robusta do capital — revela quanto “colchão” o banco tem sem depender de instrumentos híbridos.De acordo com a XP, mais CET1 significa maior capacidade de atravessar ciclos sem sacrificar dividendos ou a própria operação.Liquidez é o segundo pilar. Bancos sólidos mantêm fontes de funding diversificadas e administram com cuidado o descasamento entre ativos e passivos.Uma razão persistentemente abaixo de 1x entre ativos realizáveis em até doze meses e passivos com o mesmo vencimento acende alerta.Na prática, isso importa para o investidor de CDB, LCI e LCA porque um emissor com liquidez apertada pode pagar mais para captar — elevando a taxa do papel —, mas também carrega risco maior. O prêmio não deve ser aceito no escuro.Qualidade de ativos e gestão (resiliência)A carteira de crédito é o coração do balanço e, também, a principal fonte de risco.Vale observar o mix de produtos — consignado e imobiliário tendem a risco menor, enquanto cartões e PME (pequenas e médias empresas) pagam mais spread, porém exigem provisões maiores — e a evolução da inadimplência nas faixas previstas pela Resolução 2.682 do Banco Central, que vai de AA a H.Bons bancos, como destaca a XP, costumam provisionar acima do mínimo e manter cobertura superior a 100% sobre créditos problemáticos. Renegociações e baixas a prejuízo precisam ser transparentes: podem ajudar a equalizar o risco, mas não devem mascará-lo.Ganhos de eficiência devem ser estruturais — digitalização, revisão de processos, mudança de canais — e não apenas cortes de curto prazo. Investimentos em tecnologia e pessoas pressionam despesas no início, porém melhoram o desempenho à frente quando há disciplina de execução.Enquanto isso, mudanças contábeis precisam ser explicadas; se não houver clareza, o investidor de crédito deve ser mais conservador.Rentabilidade recorrente (criação de valor)O investidor em CDB, LCI e LCA não ganha com o lucro do banco, mas depende dele para que o emissor continue sólido. Por isso, o ROE é uma bússola útil quando nasce de margens sustentáveis, risco de crédito calibrado e gastos sob controle.ROE (Return on Equity) = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido médio.Em seguida, analise a margem financeira (NII/NIM) e entenda se a melhora veio de spread, de mix (linhas de maior margem) ou de reprecificação em ciclos de juros.Depois, verifique o custo de risco — provisões sobre a carteira média — e avalie se ele é compatível com o crescimento em segmentos mais arriscados.Receitas de serviços e seguros estabilizam o resultado e reduzem a dependência do spread. Já a eficiência — medida pelo cost-to-income — mostra quanta receita vira lucro.Por fim, limpe o número: separe o lucro recorrente de ganhos de tesouraria, créditos tributários e vendas de ativos. A XP enfatiza que tendência pesa mais que um trimestre pontual e excepcional.Como avaliar se as taxas atrativas valem a pena — e que cuidados tomarTaxas altas (remunerações pagas ao investidor para aplicar seu dinheiro) podem sinalizar oportunidade ou compensação de risco.O caminho é metodológico. Primeiro, confirme a cobertura do FGC e respeite os limites por CPF/CNPJ e por instituição; lembre que Letras Financeiras não têm FGC.Depois, compare o emissor com seus pares usando os eixos de capital, liquidez, qualidade de ativos, gestão e rentabilidade.Em geral, prefira bancos com Basileia e CET1 folgados, cobertura crescente, margem estável e eficiência em melhora.Se a taxa estiver muito acima da média do mercado, pergunte-se o que a explica: necessidade de funding, nicho mais arriscado ou deterioração de indicadores? Conforme a XP, a resposta costuma aparecer quando se observa o conjunto, e não um número isolado.Análise do emissorPara valores acima do FGC ou para títulos sem cobertura, a análise do emissor deixa de ser recomendação e vira condição.Diversificar prazos, emissores e produtos reduz o impacto de eventos idiossincráticos e melhora a relação risco-retorno da carteira. Acompanhar os resultados por alguns trimestres também ajuda.Em resumo, analise o banco em camadas — capital e liquidez, qualidade dos ativos e gestão, rentabilidade recorrente.Só depois decida se a taxa compensa o risco. Essa é a diferença entre buscar rendimento e construir retorno com segurança.The post CDB, LCI e LCA: Como avaliar a saúde financeira do banco emissor antes de aplicar appeared first on InfoMoney.