Rioprevidência justifica aporte no Master: ‘Todo investimento possui riscos’

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A liquidação extrajudicial do Banco Master trouxe à tona os investimentos de risco que vinham sendo feitos pelo Rioprevidência, fundo de aposentadoria dos servidores estaduais. O órgão aplicou R$ 2,6 bilhões em letras financeiras e títulos de renda fixa na instituição financeira e em sua corretora desde 2023, de acordo com auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que vinha fazendo alertas sobre irregularidades nessas operações há um ano. Agora, mesmo sem a certeza de que receberá esses valores de volta, o governo do Rio garante que os pagamentos aos inativos e pensionistas não serão afetados.Leia tambémFGC: como valores utilizados em garantias, em casos como o do Master, são investidos?Além das contribuições mensais dos mais de 40 bancos associados, FGC reforça caixa com rendimentos de aplicações financeiras em ativos de baixo risco e alta liquidezFGC: dos R$ 122 bi em caixa, fundo estima pagar R$ 41 bi em garantias por caso MasterDe acordo com o Fundo, a estimativa é de que o Master tenha em sua base 1,6 milhão de credores com depósitos e investimentos elegíveis ao pagamento da garantiaEm resposta ao TCE, o presidente do Rioprevidência, Deivis Marcon Antunes, enviou em fevereiro um ofício defendendo as operações das Letras Financeiras do Master, que somaram quase R$ 1 bi até meados de 2024. Além disso, ele criticou quem apontava riscos de outras operações que o órgão continuou a fazer com o banco.“Todo investimento possui riscos, o gerenciamento responsável e constante dele é preponderante para a gestão eficiente (…) A equipe técnica do Rioprevidência tem suas decisões pautadas na avaliação constante dos ativos e na aderência dos mesmos as determinações legais e regulamentares, e não em matérias e notas jornalísticas tendenciosas ou inverídicas”, diz trecho do documento.Ainda no ofício, Antunes mostrou ter feito consultas a apenas dois grandes bancos antes das primeiras operações, que não estão no mesmo patamar de classificação do Master. Somente em maio de 2024, quando milhões de reais já tinham sido destinados ao Master, foram feitas cotações em financeiras concorrentes diretas do banco, e o Master foi novamente escolhido para mais aportes de R$ 160 milhões.Aportes no Banco MasterOs primeiros aportes do Rioprevidência foram feitos de novembro de 2023 a abril de 2024 em cinco operações, que somadas chegam a R$ 670 milhões. Os produtos de investimento escolhidos pelo órgão estadual foram as letras financeiras, que não têm a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que opera como um “seguro” no mercado financeiro e cobre até R$ 250 mil em alguns tipos de investimento. Mesmo que a previdência estadual tenha esse respaldo em algumas das aplicações, a restituição seria apenas de uma parte mínima do total investido.Em nota, o Rioprevidência afirma que investiu no Banco Master R$ 960 milhões em letras financeiras entre outubro de 2023 e agosto de 2024. Não cita, no entanto, as aplicações nos fundos da corretora do Master. O comunicado diz ainda que “a autarquia está em negociação para substituir as letras por precatórios federais”. Sobre o fato de ter escolhido o banco para fazer aplicações de risco, esclareceu que o Master “detinha autorização de funcionamento emitida pelo Banco Central do Brasil, credenciamento ativo junto ao Ministério da Previdência Social e classificação de risco de crédito de “grau de investimento”, atestando solidez financeira e a credibilidade institucional”.Desde o ano passado, o TCE vinha alertando sobre os problemas que investimentos no Master poderiam gerar ao Rioprevidência. A corte abriu uma investigação para apurar a gestão de aplicações feita pela autarquia, que destinou 25% de todos os recursos aplicados ao grupo Master. Em maio, o TCE já tinha observado um “atropelo” no processo de habilitação da financeira, que foi efetivamente cadastrada somente um mês depois do início dos aportes no Master.Os conselheiros do tribunal enviaram um documento ao Rioprevidência avisando que quaisquer novas operações similares às investigadas pela corte naquele momento “implicaria a integral assunção do risco de possíveis irregularidades pelo Rioprevidência e por seus agentes, pessoalmente”. Sem receber retorno do órgão de previdência, o TCE determinou em outubro uma tutela provisória, que impede novas transações com o Master.Mesmo com o alerta do tribunal, o Rioprevidência aplicou R$ 1,1 bilhão em fundos geridos pelo Master de 20 de maio a 25 de julho, período em que a crise do banco era amplamente divulgada.Em 9 de abril, no plenário do TCE, o ex-diretor de investimentos do Rioprevidência Euchério Lerner Rodrigues explicou que foram feitas pesquisas com bancos concorrentes de mesmo tamanho, mas as taxas oferecidas pelo Master eram mais vantajosas.“A gente entendia que era possível, sim, comprar letras financeiras do Banco Master, e a cada uma das nove operações que foram feitas, essas operações foram balizadas com as taxas de mercado para a gente ter certeza de que estava tendo a melhor rentabilidade no interesse do Rio Previdência”, disse Lerner Rodrigues, que deixou o governo estadual em março de 2025.Os investimentos após o alerta de maio do TCE foram, de fato, de risco. Os recursos foram em fundos administrados pela corretora do grupo, também foi liquidada pelo Banco Central. Um desses aportes foi de R$ 100 milhões no fundo Texas I FIA, que têm 96% da carteira em ações da Ambipar — que está em recuperação judicial e derreteu na bolsa de valores. Os aportes desse investimento foram feitos em junho deste ano e, até a semana passada, as ações da empresa já tinham desvalorizado 97%.Menos que poupançaOutro investimento depois de maio foi no Arena Fundo de Investimento em Renda Fixa / Título Público — de R$ 660 milhões. No entanto, já havia aportes que somavam R$ 440 milhões. A aplicação também causou estranheza aos técnicos do tribunal. A primeira aplicação, de R$ 50 milhões, foi feita em 19 de dezembro do ano passado — um dia após o fundo ser aberto. E não só isso. O Rioprevidência é o único cotista da carteira de investimentos, que até agosto deste ano rendeu apenas 4,05%, menos que a poupança (5,47%).A apuração do TCE começou no ano passado, a partir de denúncia do deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSD), que voltou a cobrar responsabilidades após a prisão ontem do controlador do Master, Daniel Vorcaro:“Venho apresentando sucessivas denúncias em relação às aplicações no Master. Um banco de terceira linha classificado pelo Banco Central, que oferecia investimentos com 130% acima do CDI. Isto é investimento com grande possibilidade de não ter retorno e se transformar numa pirâmide”, afirmou.O advogado Francisco Costa e Silva, sócio da Bocater advogados, afirma o RioPrevidência não tem a garantia de que o dinheiro aplicado será recuperado. Ele explicou que todos os ativos do banco formarão uma massa para o pagamento de credores — e o órgão de previdência será um deles. Antes disso, há uma longa etapa a ser cumprida:“Hoje, o banco Master é uma incógnita. Não é possível saber hoje se os balanços foram maquiados ou fraudados. Só depois da entrada do interventor e essa auditoria ser concluída, o que pode levar meses vai se ter algo mais concreto. Por cada CNPJ ou CPF o que está assegurado, em alguns casos, são os R$ 250 mil do FGC. Um valor ínfimo diante do aporte do Rioprevidência na instituição.”The post Rioprevidência justifica aporte no Master: ‘Todo investimento possui riscos’ appeared first on InfoMoney.