Quando o Chevrolet Monza chegou às ruas brasileiras em abril de 1982, o país vivia um de seus períodos culturais mais marcantes: Michael Jackson liderava as paradas, “E.T.” lotava as salas de cinema e a seleção brasileira encantava o mundo com o futebol-arte. Nesse cenário, desembarcava um carro tão à frente do padrão nacional que rapidamente virou símbolo de status, desejo e ascensão social.CONFIRA: Quais as criptomoedas mais recomendadas agora? O Crypto Times elaborou um e-book gratuito com as indicações; veja como receberQuarenta e três anos depois, o nome Monza volta a circular — agora impulsionado pelo mercado chinês. A General Motors decidiu ressuscitar a marca em uma estratégia ousada: substituir o Onix na China, reposicionar-se entre os sedãs compactos e, de quebra, ativar a nostalgia que o nome desperta no consumidor brasileiro.Quando a GM tentou criar um carro globalA história do Monza começa antes mesmo da chegada ao Brasil. No fim da década de 1970, a GM deu início a uma experiência ousada: desenvolver um carro único, capaz de ser adaptado para dezenas de mercados com mudanças mínimas.Nascia o Projeto J, que a partir de 1981 apareceu ao redor do mundo com nomes diferentes:Europa: Opel Ascona C / Vauxhall CavalierAustrália: Holden CamiraJapão: Isuzu AskaEUA: Chevrolet Cavalier, Pontiac 2000/Sunbird, Cadillac Cimarron, Buick Skyhawk, Oldsmobile FirenzaE, em 1982, Brasil: Chevrolet MonzaInicialmente, o nome considerado para o mercado brasileiro era Ascona, mas executivos temeram a associação com “asco”. Venceu o nome Monza, que já existia no portfólio internacional da GM.O impacto no Brasil: modernidade e até matéria no Jornal NacionalCom o parque automotivo nacional engessado e poucas novidades, o Monza chocou o mercado ao reunir:motor transversal,tração dianteira inédita para a GM no Brasil,painel côncavo voltado ao motorista,aerodinâmica refinada,e uma carroceria hatch exclusiva do mercado brasileiro.O impacto foi tão grande que o modelo virou pauta do Jornal Nacional. Na Europa, a imprensa chegou a estranhar: não havia por lá uma configuração igual à brasileira. Sob o capô, estreava no país a famosa Família II de motores, que depois equiparia Kadett, Vectra, Omega, Astra, Blazer e Zafira.O primeiro 1.6 era silencioso, mas perdia desempenho com o uso — algo resolvido com o 1.8 de 86 cv. Direção lenta à parte, o Monza era elogiado pelo comportamento dinâmico, pela suspensão firme e pelos freios superiores até mesmo aos do Opel Ascona.Quando o Monza virou sinônimo de status no BrasilA partir de 1983, com a chegada das versões sedã de duas e quatro portas, o Monza disparou em popularidade. Para a classe média, era mais que um carro: era um símbolo de conquista, especialmente na versão 1.8 com:vidros e travas elétricos,direção hidráulica,ar-condicionado,antena elétrica,acabamento refinado.Disputou espaço com Passat, Corcel II e Santana — e venceu. Entre 1984 e 1986, virou o carro mais vendido do Brasil, superando até Fusca e Chevette, algo incomum para um modelo fora da categoria popular.As versões especiais: esportividade e luxoOs anos 1980 foram marcados pela personalização de carros nacionais, e o Monza acompanhou esse movimento:conversíveis Sulam e Envemo,station wagon Envemo,esportivo S/R (1985), com spoiler, rodas de 15”, bancos Recaro e motor a álcool de 106 cv,Monza Classic (1986), com pintura em dois tons e pacote completo de conforto.A chegada do motor 2.0 “biela longa”, com até 110 cv, consolidou a gama como uma das mais amplas da época.Anos 1990: injeção eletrônica e o “Monza Tubarão”Em 1990, o Monza se tornou o segundo carro nacional com injeção eletrônica, atrás apenas do Gol GTi. A estreia foi na série 500 E.F., homenagem a Emerson Fittipaldi, campeão das 500 Milhas.Mas o design já dava sinais de cansaço. Na Europa, o Ascona havia sido substituído pelo Vectra desde 1988. No Brasil, a GM prolongou a vida do Monza com o facelift de 1991, o famoso Monza “Tubarão”:dianteira 8,5 cm maior,traseira 4,2 cm mais longa,porta-malas ampliado para 565 litros,dirigibilidade melhorada,motor 2.0 com injeção monoponto.Foi o último respiro antes da chegada definitiva do Vectra.O adeus: 14 anos de produção e um legado de 850 mil unidadesO Vectra estreou em 1993, mas o Monza só saiu de linha em 21 de agosto de 1996. Seu legado inclui:857 mil unidades produzidas,motor Família II em uso até 2016 (S10 flex),tricampeonato do Carro do Ano (1982, 1986, 1987) — conquista rara.O Monza virou parte do imaginário popular. Quem viveu os anos 1980 e 1990 sabe: quem tinha um Monza, tinha moral.Hoje, no mercado de usados, um Monza Classic SE 2.0 original pode superar R$ 80 mil. Há versões mais simples por volta de R$ 20 mil.A volta do Monza — mas longe do BrasilA ressurreição do nome não ocorreu aqui, mas na China, maior mercado automotivo do mundo. A Chevrolet decidiu substituir o Onix chinês pelo Monza, buscando recuperar terreno entre os sedãs compactos — segmento dominado por modelos locais modernos e baratos.(Divulgação/Chevrolet)O preço varia de US$ 9.600 a US$ 16.000 (aprox. R$ 50,8 mil a R$ 84,8 mil, sem impostos).O novo Monza se posiciona entre o Cruze e os compactos globais da plataforma VSS-F, compartilhada por Chevrolet, Buick e Cadillac.Como é o novo Monza chinês?Dimensões:4,63 m de comprimento1,79 m de largura1,48 m de altura2,64 m de entre-eixosVersões:Redline, com detalhes vermelhosRS, com grade própria e visual esportivoEquipamentos:rodas de 17”DRL em LEDpainel digital configurávelar-condicionado automáticobancos em couroMotores turbo:1.0 turbo — 125 cv / 17,3 kgfm1.3 turbo — 163 cv / 23,4 kgfmcâmbio manual ou automático de dupla embreagem, ambos de 6 marchasconsumo declarado de até 19,6 km/lNo fim das contas, o novo Monza é um sedã moderno, competitivo e bem equipado — mas sua conexão com o clássico brasileiro se limita ao nome estampado na tampa do porta-malas.