Anúncios de novas regras, recados codificados e enredos criados para favorecer criminosos. Com a expansão da internet, as redes sociais se tornaram um território confortável para que integrantes de facções reforcem sua atuação e moldem narrativas próprias.Estruturado no Rio de Janeiro e espalhado por outros 25 estados, o Comando Vermelho (CV) transformou as plataformas digitais em ferramenta estratégica: comunicação rápida entre integrantes, divulgação de mensagens internas e ampliação da influência do grupo. Leia também Mirelle Pinheiro Criminosos escondem cocaína em compartimentos secretos de navio Mirelle Pinheiro Lavanderia do crime: CV tinha galpão para lavar dinheiro com sabão Mirelle Pinheiro Alvo da polícia, ex-mecânico vira influencer e movimenta R$ 3 milhões Mirelle Pinheiro Quem era o policial assassinado por Mangabinha e outros bandidos do CV Diante dessa engrenagem de comunicação criminosa, a Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ) passou a travar uma segunda batalha: a disputa pelo controle da narrativa em um ambiente marcado pela desinformação.O que antes era visto como um setor meramente administrativo ganhou função estratégica. A assessoria de comunicação da corporação foi reposicionada para informar a população, responder ataques e mostrar, em tempo real, o trabalho policial.Na sede da instituição, na Rua da Relação, uma equipe de oito profissionais opera a estrutura criada para apresentar as operações sob um novo olhar. Segundo o chefe da assessoria, Iuri Cardoso, o Secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, entende que comunicar bem virou necessidade.“O Curi tem a visão de que existem duas guerras: a primeira no front, onde nossos policiais cumprem a missão. Mas a segunda, e mais importante, é a guerra da narrativa.”Falando a língua do públicoPara os profissionais da PCERJ, “furar a bolha” é essencial. A equipe, diversa em idade e experiência, monitora tendências, testa formatos e se reinventa para alcançar quem ainda não acompanha o trabalho policial nas redes.Um exemplo ocorreu em outubro deste ano. À medida que a novela Vale Tudo se aproximava do final, o mistério em torno da trama dominou a internet e virou assunto nacional.Aproveitando o engajamento, Mariana Albuquerque, coordenadora de mídias sociais, sugeriu usar o tema como gancho para impulsionar uma série sobre armamento ilegal que estava sendo produzida.O resultado foi um vídeo que mesclou cenas da novela com alertas sobre porte ilegal de armas. A estratégia funcionou: o conteúdo viralizou e alcançou milhares de visualizações.7 imagensFechar modal.1 de 7Diante da engrenagem criminosa, a PCERJ tem brigado para manter o controle das narrativasAline Massuca/Metrópoles2 de 7A equipe da assessoria de comunicação da PCERJ estuda as melhores formas de bater de frente com a fábrica de fake newsAline Massuca/Metrópoles3 de 7Para os profissionais desse setor da PCERJ, “furar a bolha” também é importanteAline Massuca/Metrópoles4 de 7Aline Massuca/Metrópoles5 de 7Mariana Albuquerque, coordenadora de mídias sociais da PCERJ, orientando a equipeAline Massuca/Metrópoles6 de 7Aline Massuca/Metrópoles7 de 7Aline Massuca/MetrópolesFerramenta eficazQuando a megaoperação deflagrada contra o Comando Vermelho em 28 de outubro deste ano foi classificada como a mais letal da história do Rio, as forças de segurança se viram diante de uma avalanche de desinformação. Boatos, versões distorcidas e narrativas fabricadas passaram a circular em velocidade recorde pelas redes sociais.Diante do cenário, a equipe de comunicação da Polícia Civil precisou agir na outra ponta. A resposta tinha de ser rápida, clara e pública.A corporação divulgou, então, um vídeo sobre a Operação Contenção no Instagram oficial.As imagens mostravam moradores recolhendo roupas camufladas usadas por criminosos durante confrontos e traziam informações sobre a atuação do grupo na instalação de barricadas e no tráfico de drogas.O conteúdo viralizou: foram 14,9 milhões de visualizações. A publicação ainda impulsionou o crescimento do perfil, que ganhou milhares de novos seguidores3 imagensFechar modal.1 de 3O vídeo alcançou mais de 14,9 milhões de visualizaçõesAline Massuca/Metrópoles2 de 3O vídeo foi feito para mostrar a visão da PCERJ sobre a megaoperaçãoAline Massuca/Metrópoles3 de 3PCERJAline Massuca/MetrópolesTraficante e assessorAs divulgações das facções não são simples mensagens elaboradas e compartilhadas por qualquer um. No centro das células criminosas, os traficantes são “escalados” para funções específicas.O traficante Washington César Braga da Silva, de 35 anos, um dos alvos da megaoperação deflagrada no dia 28 de outubro que permanece foragido, é apontado como uma espécie de “gestor do crime”.Conhecido pelo codinome “Grandão”, o faccionado tem a função de gerir o crime no Complexo da Penha e elaborar comunicados disseminados na web.As investigações apontam que ele também monta escalas de plantão na segurança dos pontos de venda de drogas, define normas de comportamento da quadrilha e estratégias de defesa dos faccionados, além de gerenciar as finanças do crime, organizando os pagamentos dos traficantes.